Sobre o Gre-Nal e o racismo (aqui guardado para o próximo episódio)

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Como certamente tais fatos se repetirão, seja em atos de torcedores, seja nas palavras de falsos mas barulhentos representantes como Eduardo Bueno (o Peninha), copio profilaticamente este excelente texto aqui no blog. 

Por Carlos André Moreira

No momento do Gre-Nal, eu estava tão alheio à partida que estava editando um vídeo para o Admirável Mundo Livro. Precisei perguntar para o meu irmão para saber quanto foi. Ao saber que o Inter ganhou, fiquei feliz, claro. Ao saber que os gremistas estão reclamando de roubo, achei natural, o mimimi tricolor é bem conhecido, mas, como não vi o jogo, não tenho opinião. E, claro, fiquei MAIS FELIZ AINDA ao saber que os gremistas estão reclamando.

Agora, a nota triste da coisa é o episódio já bastante divulgado que gerou as mesmas e inacreditáveis discussões de sempre sobre se um gremista chamar um colorado de “macaco” é racista.

Sério, eu não acredito que tem gente lá fora que AINDA discuta isso.

Eu fui repórter esportivo nos anos 2000. Cobri minha cota de gre-nais e ouvi algumas coisas de arrepiar os cabelos. Uns poucos anos antes disso, foi a época em que a torcida do Grêmio começou a adaptar o cântico da torcida do centro do país, “Ah, eu tou maluco”, para “Bah, eu sou gaúcho”. Ao mesmo tempo, a torcida do Grêmio enchia tanto saco da do Inter com essa coisa do “macaco” (não vou reproduzir a musiquinha que inclusive era tocada com banda completa pela então chamada “Alma Castelhana”, mais tarde “Geral do Grêmio”, vocês, lembram, não finjam que não) que uma hora, em um gesto de desafio, a torcida do Inter começou a parodiar a “Bah, eu sou gaúcho” por “Ah, eu sou macaco” quando vencia os Gre-Nais. Um desafio semelhante ao do Flamengo com o “Urubu” ou à apropriação da “palavra com N” pela comunidade negra americana, guardadas as proporções.

Mas como o jogo do preconceito estrutural tem cartas marcadas e é impossível de ser ganho, bastaram alguns anos se passarem para que o gremista sem noção do próprio racismo começasse a argumentar: “Aihn, mas os próprios colorados se chamam assim”. Sim, começaram a se chamar assim para jogar de volta na cara o racismo anterior: “Me chamou de macaco e perdeu assim mesmo, otário”. NÃO e JAMAIS para que tu tenha a tranquilidade garantida pra usar um insulto cuja origem é historicamente racista, seu idiota.

Foi só passar mais uns anos e chegou-se a inventar uma origem histórica alternativa e mentirosa absolutamente DESONESTA para vender a ideia de que chamavam os colorados de “macacos” porque subiam nas árvores do seu antigo estádio. Não quero dar carteiraço, mas eu pesquisei extensamente a história do clássico e ISSO É MENTIRA, e o fato de que ela precisou ser inventada, pra mim, significa, com muita clareza, que em alguma parte do seu inconsciente coletivo, digamos assim, a torcida gremista está ciente do passado comprometedor do termo e quer tentar alterá-lo (o passado, claro, não o termo, dado que muitos não parecem muito inclinados a deixar de usá-lo quando a cabeça incha).

Uma árvore lotada de torcedores | Foto: http://www.tecnologiaefloresta.com.br/

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