Há algumas formas que uso para invocar minha adolescência. Dá trabalho pensar no Colégio Júlio de Castilhos e nas meninas da João Pessoa. Em compensação, se eu quiser aterrissar imediatamente na primeira metade dos anos 70, basta pegar o toca-discos e colocar a agulha na primeira faixa do Expresso 2222 de Gil, do Rubber Soul dos Beatles ou do Blue de Joni Mitchell. A agulha é mais eficiente, mas hoje, em minha caminhada de fones até a Livraria Bamboletras, de repente acabou um Bartók e começou Blue. No mesmo momento, retrocedi quase 40 anos. Até parei e tirei a foto abaixo. Uma incrível e querida sensação de juventude que será cada vez mais rara, acho eu.
Quando tu falou Júlio de Castilhos e as gurias da João Pessoa me veio uma lembrança. Eu era do Ildefonso Gomes. Deve ter sido lá por 1980. Saímos da aula. Eu morava na Santana. Então o caminho era às vezes pela Laurindo, passando em frente ao Julinho. E lá, no canteiro da praça, estava formada a tradicional rodinha. Ia ter briga! Duas pastas já estavam no chão e dois pugilistas do Ildefonso já se negaciavam no pré-fight. Mas, por alguma razão o combate foi cancelado. A rodinha estava se desfazendo e todos estavam se retirando. Um colega gordinho que era meu desafeto passou por mim e eu, num ato de vacilo, comentei com um colega: “esse aí é um loxa”. O gordinho disse: “Vem magricela” e, ato contínuo, realizou o desafio: jogou a pasta no chão. Resumindo, levei uma tunda de uns três sopapos e um mata-leão. Porém, no final, usei algo meio fora das regras, dei uma mordida no braço dele. Acho que deve ter a marca até hoje. Aliás, fosse hoje, essa alteração física teria sido filmada e estaria no top 10 do Instagram de alguém.