Uma vez vi a seguinte comparação (foi num vídeo do Michael Sandel, muito legal, aliás): o Bill Gates é tão rico que se ele encontrar uma nota de cem dólares no chão não vale a pena se abaixar para pegar. Nos três segundos que ele perderia fazendo isso ele ganha mais do que cem dólares.
Hoje Gates, coitado, não é o mais rico do mundo. Vi essa semana que Jeff Bezos, o dono da Amazon, faturou algo como 9 mil reais por segundo em 2020. Quer dizer, não foram reais, foi aquela moeda deles que valia dois reais e agora vale quase seis…
Isso significa o seguinte: se oferecerem uma livraria de rua para o dono da Amazon de graça não vale a pena ele parar por cinco minutos para assinar o contrato. Nesse tempo, ele já teria faturado uns R$ 2,5 milhões – e sabe-se lá quantas livrarias isso compra.
Fato é que Bezos nem precisa de contrato para ir engolindo as pequenas: ele já está fazendo isso de outro jeito; sem negociar, só passando por cima mesmo.
A Amazon ganhou uma escala tão grande que é impossível competir com ela. Faz ofertas para o público e para as editoras que inviabilizam a concorrência mesmo de outras gigantes (que hoje parecem miúdas). Imagina como está a vida praquele livreiro pequenino que aposta em qualidade, relacionamento, livros artesanais…
Ninguém precisa ser ludita ou anticapitalista para ver que algumas empresas americanas estão tomando proporções ameaçadoras: Google, Facebook e Amazon talvez sejam as principais. São monopólios em alguns casos, ou monstros com pés de chumbo que pisoteiam os menores.
Por isso vêm surgindo iniciativas para valorizar as pequenas livrarias. Aquele pessoal que te serve café, sabe fazer recomendações, deixa você cheirar o papel sem te chamar de esquisitão.
Em Curitiba, já perdemos nos últimos anos a Fnac, a Cultura e a Saraiva. Mostramos que A Página vem ganhando espaço. Mas é pouco. Então vem o recado.
Se puder, compre nas pequenas, nas independentes. Compre na Arte e Letra, na Vertov, na Joaquim, na Itiban. São livrarias muito legais e que passam por problemas sérios.
Nada contra comprar na Internet, claro. Mas pense como o mundo fica mais pobre a cada vez que deixamos os gigantes esmagarem nossos amigos, nossos caros e esforçados amigos que nos fazem tanto bem.
Viva os livros, vivam as livrarias!
Abraços.
Eu passei a comprar livros pela internet há alguns anos e não voltei a uma livraria desde então. Muito por conta da comodidade, pois tenho preguiça de sair de casa exclusivamente para isso. Coincidentemente, esse feriado estive numa livraria daqui de BH imbuído desse espírito de ajudar os “pequenos e guerreiros livreiros”. Assustei com a diferença de preço. A diferença é abissal. Livros que na Amazon custam 30 reais estavam custando 60 na livraria. Eu sei os motivos, pois o grande tem condições e preços sempre melhores, além de trabalhar com margens muito reduzidas. Isso não ocorre apenas com os livreiros. O mesmo sucede-se com bebidas, medicamentos, supermercado, etc.
Há um detalhe nisso tudo. Para o consumidor que tem pouco dinheiro (universitário, jovens, etc.) quase sempre o menor preço é fator determinante para a aquisição. Por isso, penso que, de um modo geral, será muito difícil ele voltar a comprar com os pequenos. Infelizmente o pequeno será sugado pelo grande.
Tenho saudades da época em que morava no Rio, na década de 90. Toda semana eu passava pela “Modern Sound” e pela “Copadiscos”, em Copacabana (perto da minha casa) e pela Argumento, no Leblon (perto da PUC, onde eu fazia graduação). Os vendedores eram aficcionados e conheciam o meu gosto. Eles sempre tinham dicas e sugestões pra mim. Isso obviamente a Amazon não faz. O site tem uma IA embutida que faz sugestões baseadas nas minhas compras/consultas passadas. Então, é mais do mesmo. Herois da resistência como o Milton fazem a diferença.
Outro problema é o “dumping”. No dia que as pequenas e médias fecharem de vez, quem garante que a Amazon não passará a avender o tal livro de 30 que você menciona por 70?