Publicado no perfil do Facebook de Gusthavo Stern-Ew
A mulher mais linda da história do cinema segundo o poderoso produtor Darryl F. Zanuck. Talvez ele tenha razão. Ao lado dela somente Ava Gardner, Sophia Loren, Hedy Lamarr e Elizabeth Taylor. Para o cineasta Martin Scorsese, Gene Tierney é uma das atrizes mais subestimadas do cinema norte-americano. E a sua história daria um filme de sucesso. De origem irlandesa, inglesa e judaica sefardita, Gene atuou em 37 filmes. Nascida numa família rica da Costa Leste, seu pai era um magnata. Educada nas escolas de maior prestígio do país, inclusive na Suíça. Desde cedo, demonstra interesse pela carreira de atriz, representando muitas vezes para os pais e amigos. Aos 17 anos, em uma visita aos estúdios da Warner Bros., causa sensação com sua beleza, e o diretor Anatole Litvak diz a sua mãe: “Ela deveria fazer cinema”. Fez um teste, pouco depois, mas o pai recusou o contrato. Se a filha queria representar, deveria fazê-lo “num teatro a sério”. Depois de dois anos na Europa, ela voltou aos Estados Unidos. Em 1938 se apresentou na Broadway em “What a Life!” e ao mesmo tempo em “The Primerose Path” (1938). Seus papéis subsequentes, em “Mrs O’Brian Entertains” (1939) e “Ring Two” (1939), recebem elogios dos críticos novaiorquinos. Richard Watts escreve: “Não vejo razão para a senhorita Tierney não ter uma longa e interessante carreira teatral, isto é, se o cinema não a sequestrar”. Figura voluptuosa, voz profunda e sensual, a atriz ganha destaque de pronto por sua beleza e, rapidamente, dá o salto para o cinema quando o produtor da 20th Century-Fox, Darryl F. Zanuck, a vê no palco e a levou para Hollywood, onde estreou em 1940 no western “A Volta de Frank James / The Returno f Frank James”, ao lado de Henry Fonda e dirigida por Fritz Lang. No ano seguinte, atua em cinco filmes, dando início a uma carreira de sucesso. Em 1943, com a sofisticada comédia “O Diabo Disse Não”, tem a crítica a seus pés e se torna uma das estrelas mais bem pagas de Hollywood. O ano de 1944, no entanto, foi o de sua consagração. O ano de “Laura”, onde faz o papel de uma mulher enigmática cobiçada por três homens. Lançado no dia 11 de outubro de 1944, em uma première em Nova York, a estréia no Brasil se dá em 29 de janeiro de 1945.
O filme intriga os críticos com sua mistura de estilos (noir, psicodrama, melodrama e thriller). Leva o Oscar de Melhor Fotografia e é indicado para outras quatro categorias: Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Clifton Webb), Melhor Roteiro e Melhor Direção de Arte. A atriz teve sua única indicação ao Oscar pela excelente atuação em “Amar Foi Minha Ruína”, de 1945, perdendo a estatueta para Joan Crawford por “Alma em Suplício / Mildred Pierce”. Elegante e boa intérprete, Tierney é dirigida por excelentes diretores: Lubitsch, John Ford, Preminger, Joseph L. Mankiewicz, Jules Dassin, Josef von Sternberg, entre outros. Casou-se em junho de 1941 com um famoso figurinista francês, Oleg Cassini, de quem se divorcia em fevereiro de 1952. Durante uma apresentação na Hollywood Canteen, grávida, é abraçada por uma fã que, sem que soubesse, era portadora de rubéola. Através desse incidente sua filha nasce com graves problemas e seu casamento acaba. Daria nasce prematura, exigindo uma transfusão de sangue completa, além de surda, parcialmente cega e com retardo mental. Isso, como era de se esperar, prejudica sua vida emocional. De uma breve reconciliação com o marido, nasceu uma segunda filha, Christina. Abandonada, ferida e desencantada, a bela e famosa atriz jogou-se de cabeça numa vida desregrada, marcada por múltiplos amantes, dentre os quais o então senador John F. Kennedy, o milionário Howard Hughes e os atores Spencer Tracy e Tyrone Power. Ao conhecer o príncipe Ali Khan, ex-marido de Rita Hayworth, apaixonou-se perdidamente. Rita já havia sofrido bastante nas mãos do príncipe, que apesar de rico, vivia às custas dela. Enamorada, Gene planejava casar-se, mas Khan não queria compromisso. Quando começou a pressioná-lo, ele se afasta. Sentindo-se humilhada e louca de amor, começa a desenvolver os primeiros sintomas da cruel depressão que iria lhe acompanhar por toda a vida.
Convidada para estrelar o clássico de aventura “Mogambo” (1953), termina sendo substituída por Grace Kelly, que recebe uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel de Linda Nordley. Com suspeita de esquizofrenia e depressão suicida, inconformada com o fracasso de seus relacionamentos, Tierney é internada em 1957 em uma instituição psiquiátrica, de onde só sai três anos depois. Segundo a própria atriz, esteve “às portas da loucura”. Passa por diversos tratamentos de choque. Tais fatos fizem com que não participasse de nenhum filme no período de 1955 a 1961. Em 1959, ainda frágil, aceita o papel principal na comédia “ Holiday for Lovers” (1959). No entanto, devido a um colapso nervoso, é forçada a deixar a produção da Fox, sendo substituída por Jane Wyman, e é novamente internada. Em busca de uma vida tranquila, Tierney casou-se em 1960 com um barão do petróleo texano, W. Howard Lee, ex-marido de Hedy Lamarr, com quem vive até a morte deste em fevereiro de 1981. Durante o casamento sofre um aborto espontâneo. Em 1962, retorna às telas no magnífico drama político “Tempestade Sobre Washington”, de Otto Preminger, aparecendo ainda em três outros filmes e alguns episódios de séries de TV, sendo o último, “Escrúpulos / Scruples”, em 1980. Em 1979 a atriz escreve sua autobiografia, onde fala abertamente sobre sua vida pessoal, doença mental e carreira. Gene foi uma republicana convicta e uma forte defensora de Richard Nixon e Ronald Reagan. Tierney faleceu vitima de enfisema em 6 de novembro de 1991, em Houston, 13 dias antes de seu 71º aniversário.
Linda mesmo! (Embora eu seja fascinado pela Ingrid Bergman, menos bela que as apontadas no texto, mas com um “algo mais” que nenhuma daquelas têm… E a Ingrid Thulin em “Morangos Silvestres”? Que beleza mais natural…) “Laura” e “Leave Her To Heaven” são duas obras-primas.
Outra atriz belíssima e talentosa que também sofreu com transtornos mentais foi a Veronica Lake. História ainda mais trágica, no início dos anos 60 chegou a trabalhar como garçonete em uma espelunca em NYC. Quem viu “Sullivan’s Travels” sabe como ela foi especial…
Nos velhos tempos do blog (quando o titular não estava comprometido…) eu adorava ver “Porque hoje é sábado”…