Planícies, de Federico Falco

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Desnecessário dizer que a literatura argentina costuma surpreender. Pois este livro não é diferente. Federico, o protagonista de Planícies, aluga uma casa em “uma daquelas pequenas cidades que nunca se tornaram”. Pior, ele vai para um sítio sem graça e inóspito. Mas é o local escolhido por Federico para digerir o fim doloroso de um amor. Após sete anos, o namorado Ciro foi embora e Federico pensa que, é claro, ninguém vai amá-lo novamente.

E vai para seu sítio alugado a fim de tentar se alimentar apenas de seu jardim — o que também não é fácil. Ele planta, repensa sua infância, tenta poucos contatos com Ciro e luta contra as intempéries da região. Suas descrições daquilo que planta são lindas e sempre interessantes. Contribui muito para isso o excelente trabalho do tradutor Sérgio Karam. Mas não pensem que é apenas um romance de luto. Não, o luto aparece aqui e ali de forma muito fragmentada, fazendo com que nós às vezes esqueçamos dele, tal a forma com que Federico envolve-se com o ambiente e sua sobrevivência. E há as lembranças felizes. Todo este arcabouço torna o livro é comovente ao esconder dor, angústia e solidão sob um duro cotidiano. O tempo, as estações, os meses, o horizonte, as chuvas, a seca, os encontros rápidos com os vizinhos, tudo para fugir do desespero de ficar próximo daquilo que se foi para sempre. É um livro muito belo, estranho e sutil sobre um homem que cultiva um jardim, lembra e escreve. Quando menos se espera, surge um lirismo muito delicado e particular.

Recomendo!

Federico Falco (1977)

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