Eu estava na Livraria Bamboletras e subi correndo para terminar um café. Quando cheguei na cozinha, a Elena me perguntou:
— Quem estava tocando piano lá embaixo? Tocava muito bem.
Pois bem, eu não sei quem estava tocando. Ou melhor, sei muito bem, mas ignoro o nome dela. Era uma senhora de mais de oitenta anos. Sei que ela entrou com sua filha e neto. Olhou para o piano e disse que era pianista. Vi que suas mãos tremiam bastante, só que li Alucinações Musicais, brilhante livro de Oliver Sacks, e sabia que ela deixaria de tremer quando pusesse as mãos no teclado.
Ofereci o piano pra ela tocar. Ela olhou para a filha e perguntou se dava tempo pra ela dar uma experimentada antes do aniversário ao qual iriam.
A filha disse claro mãe, vai. Ela iniciou hesitante, obviamente não conhecia o piano. Na segunda música já estava perfeitamente adaptada e nos fez ouvir um interessante Czardas, de V. Monti.
Ficou tão feliz com o piano que não parava de elogiá-lo e queria dar presentes pra todo mundo, pro neto, pra filha, pro genro que chegou depois, pra todo mundo.