Leio Tchékhov não porque ele seja um revolucionário ou porque ofereça uma visão em que a vida brilhe especialmente, mas porque ele acompanha seus personagens (e a nós) ao lugar do estreitamento da vida, onde somos pressionados por todos os lados. Entrar nos túneis de uma história de Tchékhov é sentir esse estreitamento que nos confunde e nos aflige — seja pela pobreza, pelo desespero, pela indolência ou pelas ilusões — e, ao mesmo tempo, compará-lo com a imensidão de nossas esperanças.
Depois, muitas vezes tomamos consciência de alguma bondade que nos acompanha àquele lugar estreito, em meio a toda a nossa aflição. Leia quase qualquer história de Tchékhov e você sentirá simultaneamente a pobreza da vida, as vaidades do ser humano e o poder da empatia.
Acho sua obra encorajadora precisamente porque cada personagem está humanamente contrário a seus destinos sufocantes. E Deus não existe, claro, permanecendo em silêncio, sem aquela algaravia toda de Dostoiévski. No entanto, o testemunho atento e observador de Tchékhov dessas pessoas em luta soa como uma espécie de amor muito profundo.
