O Primeiro e o Segundo Homem, de Luiz Sérgio Metz

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O Primeiro e o Segundo Homem é um livrinho que efetivamente merece o tom de reverência que lhe é habitualmente reservado. Publicado em 1988, esta coleção de contos ocupa um lugar distinto, mais ou menos o mesmo que Guimarães Rosa ou Simões Lopes Neto ocupam — sem comparações. É aquele lugar entre o mito e a memória, o sagrado e o cotidiano, ou do cotidiano tornado sagrado. O gaúcho rural de Luiz Sérgio Metz (1952-1996) é o missioneiro e é bem diferente dos arquétipos literários comuns ao gauchesco. O protagonismo de índios guaranis em vários dos contos é uma das bem-vindas anormalidades que mudam o imaginário do leitor. Metz — seus amigos o conheciam mais pelo apelido de Jacaré — constrói narrativas de uma alta densidade poética que parece brotar ou da terra ou do sonho. Seus personagens habitam um mundo arcaico, quase bíblico, violento e nostálgico, todos falando gauchês, porém carregando ecos profundos da experiência contemporânea: a pobreza, a solidão, a culpa, a perda do sentido, o trabalho que ofende. Metz escreve com uma intensidade que me fez lembrar do lirismo seco de João Cabral — Não sei porque estou me esforçando para encontrar paralelos para um livro tão diferente, denso e musical.

Os contos de O Primeiro e o Segundo Homem estão na contramão de qualquer facilidade. Sua literatura é profundamente gaúcha, de resistência e de pureza, mas não da resistência falsa da Semana Farroupilha e sim da pureza de quem lembra a infância pobre e nada heroica passada no interior jogando bolita ou catando lixo. (O conto da bolita é meu preferido, como eu era ruim jogando aquilo!).

O Primeiro e o Segundo Homem é um livro severo, belo e perturbador. Recomendado fortemente para aqueles que buscam uma literatura brasileira contemporânea que ousa ser profunda, que não tem medo do silêncio e da escuridão interior, e que herda o legado de autores como Guimarães Rosa e Autran Dourado.

Tem na Bamboletras, claro.

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