Eu tinha onze anos e achava lindo aquilo. A Apolo 11 levava o Módulo Lunar Eagle e este pousaria no Mar da Tranquilidade. Era o mês de julho de 1969 e nosso professor de Ciências explicou tudo direitinho; eu sabia que não havia água por lá mas o nome da região lunar onde a nave desceria — o tal Mar da Tranquilidade — foi das primeiras poesias involuntárias que ouvi. O Mare Tranquillitatis foi imaginado por mim sob várias formas. Como sabia que a gravidade de lá era menor que a nossa, via a água daquele mar bater em minhas pernas salpicando-me de pingos que subiam por metros e metros. Havia peixes que saíam d`água em vôos espetaculares. Eu pulava as ondas em direção ao enorme planeta sobre mim e via o mar metros abaixo, sabendo que a presença da grande esfera garantia saltos maiores e pousos serenos. Enquanto subia e descia, fazia piruetas sem som no ar, acompanhado de pingos salgados nos quais brincava de dar tapinhas.
Num daqueles dias, dei de cara com um livro na biblioteca de meu pai: Mar de Histórias. Abri: a expressão que dá nome à coleção vem de uma antiga coletânea da Índia, do século XI; é a tradução do nome sânscrito Kathâsaritsâgara, que significa “mar formado pelos rios de histórias”. Um verdadeiro oceano de narrativas, muitas delas célebres, etc. Gostei do livro, mas nada como o outro mar. Quando veio o dia 20, assisti Neil Armstrong caminhar na Lua. Dei só uma olhadinha e voltei para o quarto. Não vi graça nenhuma.
Mas hoje, mais de quarenta anos depois, voltei a sonhar com o lento Mar da Tranquilidade. Permanece lindo.