A Morte do Pai é o primeiro volume da série Minha Luta, da qual já foi traduzido o quinto volume, sempre pela Cia. das Letras. O livro insere-se na categoria da autoficção, com o autor norueguês contando lentamente e fora de qualquer ordem cronológica sua autobiografia, sempre acompanhada de carradas de reflexões e lembranças, mais ou menos no gênero de Em Busca do Tempo Perdido. É claro que tudo depende da forma e da capacidade de Knausgård de ser interessante. E ele é. Muito interessante.
Este primeiro volume pode ser dividido em duas partes: na primeira o autor nos conta de sua adolescência e dos primeiros equívocos amorosos, na segunda é descrita a morte do pai do escritor. A morte do pai alcoolista é uma tragédia, mas Karl Ove pontua cada fato e objeto de um tal número de lembranças que a descrição da morte não chega a ser algo chocante, apesar do absoluto realismo de tudo o que é narrado.
As duas partes são ótimas. As sensações e impressões do adolescente bateram fundo em mim. Na verdade, pareciam minhas, totalmente minhas, apesar da distância cultural entre um jovem porto-alegrense e um norueguês. Já o luto de Karl Ove é lentamente trabalhado, bem, com seu trabalho de limpar a casa do pai após sua morte, antes do enterro.
Nada do que ocorre no livro é excepcional, o que garante a qualidade da narrativa é o próprio Knausgård, que repetidamente demonstra que tudo interessa. É um autor que nos aproxima de nós mesmos e nos comove contando pormenores de sua vida íntima com grande elegância, sinceridade e riqueza de detalhes.
Karl Ove Knausgård escreve com dolorosa honestidade. Lembra sua adolescência, seus pequenos grandes amores, sua relação com o rock e com sua distante mãe. E a perda do pai. Ele mostra nossa luta pela vida. É um trabalho profundo e hipnotizante que recomendo fortemente.
Acho que vou ler uns dois livrinhos e volto ao autor para ler o volume 2.