Convidada, a pesquisadora Ana Pizarro nega-se a ir a almoço com Bolsonaro no Chile

Convidada, a pesquisadora Ana Pizarro nega-se a ir a almoço com Bolsonaro no Chile

Ana Pizarro foi convidada para almoçar com Bolsonaro e membros do governo chileno e diplomatas neste próximo sábado (23). Ela negou-se a ir ao almoço através da carta abaixo. Quem é Ana Pizarro? Ela é chilena, professora e pesquisadora da Universidade de Santiago do Chile e doutora em letras pela Universidade de Paris. Especialista em temas relacionados com literatura e cultura na América Latina, já trabalhou em centros de estudos e universidades no Chile, França, Argentina, Venezuela e Brasil. Seu projeto de pesquisa Perfil cultural da área amazônica foi agraciado com a Bolsa Guggenheim, em 2002. Organizou as seguintes obras: La literatura latinoamericana como processo (1985), Hacia uma historia de la literatura latinoamericana (1987), El archipiélago de fronteras externas, entre outras. Sua obra mais conhecida no Brasil é a trilogia América Latina: palavra, literatura e cultura (1993-1995). Também foi editado no Brasil, pela EdUFF, em 2006, a coleção de ensaios O Sul e os trópicos. Atualmente é pesquisadora e professora do Centro de Estudos Avançados da Universidade de Santiago do Chile.

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Santiago de Chile, 21 de marzo de 2019.

Carta abierta al señor Presidente de la República

Exmo Señor Sebastián Piñera y Señora Cecilia Morel
Presidencia de la República de Chile

De mi consideración:

He recibido su invitación a participar en un almuerzo en La Moneda con ocasión de la visita del Presidente de Brasil Señor Jair Bolsonaro.

Brasil es un país que he aprendido a admirar profundamente en su historia , su gente,su diversidad social, étnica, cultural a lo largo de treinta años de trabajo como investigadora en diversos estratos de su población, a lo largo y ancho del territorio. Tengo premios internacionales en relación a ello.

Digo esto para explicarles mi negativa a participar del almuerzo en honor al Presidente Bolsonaro al que me invitan.

No voy a referirme a las desafortunadas y ya divulgadas expresiones del Presidente Bolsonaro relativas a la mujer, sus discriminadoras frases respecto de otros géneros y etnias que no respondan a su concepción de superioridad del sujeto hombre (macho), blanco, heterosexual, y occidental. Responden a una pérdida de privilegios,a la amenaza que se percibe en el empoderamiento logrado por estos sectores en las últimas décadas, como bien lo ha señalado la analista brasileña Eliane Brum. Tampoco a sus afirmaciones sobre la tortura y la muerte, que de tan graves caen en la caricatura.

Los últimos veinte años los he dedicado a la Amazonia, esa tierra paradisíaca que vio Euclides da Cunha, en donde el ser humano es “un intruso impertinente”. Como es sabido más allá de su riqueza cultural, se trata de un lugar de yacimientos minerales enormes. De uno de los mayores reservorios de biodiversidad del planeta, fundamental para su equilibrio climático, que, de acuerdo a un estudio reciente de la Universidad de Leeds desde 1980 ha absorbido aproximadamente 430 millones de toneladas de carbono por año, es decir cuatro veces las emisiones del Reino Unido. En medio del aumento del calentamiento global, el Presidente Bolsonaro apunta al retiro de su país del tratado de Paris y se suspende la Cumbre del Clima (COP25) con sede en Brasil , que dice relación con esto, lo que significa negar su importancia.

Sus proyectos empresariales en relación a la Amazonía no encierran menos peligro. Su intención es desarrollar la Amazonía “improductiva” y “desértica” a través de megaproyectos como el llamado Barón de Rio Branco en el rio Trombetas. Construcción de represas y carreteras que favorecen a los cultivadores de soya, sus apoyos electorales.No existen para él las comunidades indígenas ni quilombolas que a través de decenas de años de lucha y cientos de años en el lugar han logrado demarcar sus tierras. Ya no hay protección.

La institución demarcadora ahora es el Ministerio de Agricultura. El lobo cuida las ovejas. Las tierras públicas pasan a manos privadas y se abre la Amazonía a la explotación de soya, ganado y minerales. Estas decisiones ya tienen antecedentes en ese país: comienza la destrucción de la selva y el curso de los ríos, con sus consecuencias,la entrada de los taladores ilegales, la minería ilícita, la ganadería destructora, como lo fue en Acre con la desaparición de los castañales, los robos de madera con camiones sin patente por la selva y los troncos flotando sobre los ríos. El paraíso se vuelve infierno, y ese infierno nos incorpora a todos.

No voy a extenderme, señor Presidente. Solamente quiero explicar porqué no asistiré a la invitación al almuerzo del día sábado 23 de marzo de 2019, en la Moneda, en honor al Presidente Bolsonaro, al que tan gentilmente ustedes me invitaron.

Le saluda atentamente

Ana Pizarro
Doctora de la Universidad de París.
Ex-Académica de la Universidad de Santiago de Chile

Ana Pizarro, pesquisadora na área de Cultura Latino-Americana | Foto: UESPI – Universidade Estadual do Piauí

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Um local da cidade: o Tuim, onde só se vende refrigerante com receita médica

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

A antiga Rua da Ladeira chama-se General Câmara desde 1870, mas a população insiste em utilizar o velho nome para designar a rua onde um deck de madeira se esgueira pela calçada no número 333, no início da subida. Ali, de segunda a sexta, entre 10 e 21h, são consumidos sete mil litros do melhor chope e seis mil maravilhosos bolinhos de bacalhau por mês.

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Com 74 anos de história, o Tuim é um dos bares mais tradicionais de Porto Alegre. É um negócio de família, administrado pela terceira geração de descendentes portugueses – o que explica o carinho bolinho de bacalhau, uma constante no cardápio. André Azevedo é o administrador do bar que antes era gerido por seu pai e, antes disso, pelo filho de criação do avô.

André conta que desde os 14 anos vive entre as mesas e garrafas do estabelecimento do pai. Quando seu Manuel revelou que queria vender o Tuim – que na época tinha metade do tamanho atual — André discordou e propôs-se a tocar o negócio. O pai então cedeu 50% do Tuim para André, um ex-técnico de mecânica, hoje com 32 anos. Quem o vê tirando chope não o imagina fazendo outra coisa.

A primeira sede do bar na Rua Uruguai, à esquerda na foto cedida por André Azevedo | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Antes de vir parar na subida entre a Praça da Alfândega e o Theatro São Pedro, o Tuim teve outras moradas. Em 1941, foi inaugurado na Rua Uruguai (foto acima) e passou ainda pela Riachuelo antes de se estabelecer na General Câmara, em 1958. Quando assumiu, André fez reformas para ampliar o bar e aumentar a clientela. Na parede, um quadro avisa o horário de fechamento, às 21h – “por tradição” – e a recusa de abrir as portas em finais de semana e feriados, “por falta de movimento”. Além dos tradicionais chope e bolinho de bacalhau, o Tuim serve almôndegas, batatas fritas, salsichas bock e, nos últimos anos, passou a servir almoço. Os frequentadores sabiam que os funcionários almoçavam e pediram. “A gente não sabia se ia dar certo, mas hoje vendemos 70 almoços por dia”.

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Se o Tuim sempre esteve ligado à família Azevedo, também é um bar famíliar. Não pelo recato dos frequentadores, mas pela intimidade existente entre eles. “Noventa por cento da clientela são pessoas que vêm todos os dias”, conta André. Ele explica que a maioria dos clientes, das mais variadas profissões possíveis – políticos, jornalistas, intelectuais, funcionários públicos, advogados –, se conhece bem. Há fregueses com mais de 40 anos de Tuim.

O momento mais importante, André tirando o chope | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

André diz que os 10% de frequentadores que não são fixos “entram facilmente no ritmo” dos outros. Quando alguém chega sozinho com o bar cheio, o dono logo ajeita as coisas para que se abra um espaço para o novo cliente em uma mesa com gente. “Em outros bares não tem isso, mas aqui tem uma interação maior. No Tuim, os clientes são parte do bar”, diz.

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Depois de tantos anos, a linha entre funcionários, clientes e amigos se diluiu inteiramente. “O convívio diário com a freguesia torna meu trabalho muito prazeroso. Volto faceiro para casa todos os dias. E mais inteligente”, brinca ele, que ouve e participa das conversas dos intelectuais que, entre um chope e outro, discutem de política a questões existenciais.

Com tantos fregueses fiéis – e embriagados – não é de se admirar que algum, um dia, tenha burlado a sagrada hora de fechamento e ficado dentro do Tuim um pouco mais do que o esperado. André conta rindo sobre uma noite em que um cliente, depois de “tomar todos os uísques possíveis”, se despediu e foi embora do bar. O dono, então, guardou as garrafas na geladeira, limpou o balcão, apagou as luzes, trancou as portas e acionou o alarme.

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Quando André voltava para casa, já na Osvaldo Aranha, recebeu o aviso no celular de que o alarme do Tuim tinha disparado. Voltou correndo para a General Câmara só para ouvir da rua os berros de “Tu me trancou aqui dentro!”.  A suposição de André é de que o tal freguês tinha voltado e dormido no banheiro, já que “estava bem embalado”. O tal cliente, cujo nome André não divulga nem sob tortura, reclamou que ficou absolutamente desesperado durante os poucos minutos em que ficou preso. Afinal, não sabia onde ligava o ar condicionado — era verão — e nem tinha conseguido tirar chope.

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

O Tuim adota um rígido código de ética. Quem chega lá totalmente bêbado, não é servido, é mandado para casa. Por outro lado, ele não serve refrigerantes em hipótese alguma. Só que a saúde de alguns dos clientes mais antigos demonstra inadequação ao segundo preceito. Então André conta, rindo, que abre exceções e vende refrigerantes mediante a apresentação de receita médica. “Sim, a ética do bar teve de ser flexibilizada… Começaram a pedir para eu vender refrigerante porque os médicos não os deixavam mais beberem, mas eles queriam continuar frequentando o bar. Afinal, são pessoas que vêm aqui há décadas. Os caras têm todos os amigos aqui dentro. Então tive que vender refris, mas não os deixo em exposição”.

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

OK, mas então qualquer um pode beber um refrigerante no deck do Tuim? “Não, também não é assim. Só com atestado médico!”. Ah, bom.

Onde está Wal… Onde estou? | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Quando estávamos nos retirando, um frequentador conhecido por Paraíba estava reclamando para André que o bar não tinha café expresso. Ele estava bebendo cachaça e sonhava com um café depois. Só que o Tuim não serve café. Quando soube que havia jornalistas presentes, Paraíba adotou um tom de político em campanha: “Temos um projeto de nossa autoria que inclui a instalação de uma máquina de café expresso no Tuim para daqui cem anos”. Como bons jornalistas, anotamos. Vamos conferir se será aprovado, ora.

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