Vou começar uma pequena série sobre nossa viagem a Londres e Paris. Aos apaixonados por Paris já vou dizendo que gostei mais de Londres. Paris é mais bela e monumental, mas Londres é vida pura. Bem, mas não adiantemos o que, penso, será explicado ao longo dos posts. Como primeiro fomos a Londres, comecemos por um aspecto dela que certamente não é o melhor, os pubs.
Há 58 mil public houses na Inglaterra. Em Londres, nas zonas não apenas residenciais, é difícil caminhar três quadras sem esbarrar em um. O pub é um estabelecimento licenciado para servir bebidas alcoólicas. Há pequenas diferenças entre pubs, bares, botecos e tavernas, mas isto não nos interessa agora. Fizemos obviamente várias excursões aos pubs próximos de onde nos encontrávamos, na West Cromwell Road, quase na esquina com Earl`s Court Road, próximo à estação de metrô de mesmo nome, Earl`s Court. Pois, saindo diariamente da estação do metrô e caminhando em direção à West Cromwell, passávamos por dois pubs, e também por dois supermercados, três restaurantes (dois italianos e um português), lavanderias, enfim.
O segundo pub do caminho era o mais bonitinho e típico. Logo o elegi como “nosso pub“. Fomos ali na primeira noite londrina. Como todas vezes em que entramos num, deparamo-nos com um ambiente civilizado, bonito e alegre. Como no Brasil, o bar é uma extensão da casa. Entra-se aos berros, falando em futebol, em sexo ou qualquer coisa. Muitos clientes entram com seus cães, coisa que ridiculamente não fazemos. Foi uma noite de Guiness, Amstel e de comermos fish and chips, pois queríamos comer o que eles comem.
A primeira surpresa foi com a sistemática do pub. Se vocês chegarem e sentarem esperando pelo atendimento, ficarão chupando o dedo. Há que ir ao balcão a fim de fazer o pedido. Mais, há que pagar previamente. Aliás, tudo é acertado antes. Há um meio-garçom que serve apenas para entregar os pratos de comida e levar talheres, essas coisas. A bebida você a leva para sua mesa logo após o pagamento. Gostei do modus operandi. É muito mais rápido, eliminando a espera pelo garçom, pela conta e pelo troco. A coisa é prática e, do ponto de vista do pub, segura. Nenhum bebum negocia sua conta na saída. E só bebe após pagar. O famoso fish and chips é algo de constrangedora simplicidade. Consiste em peixe frito envolvido em polme (espécie de à milanesa), acompanhado por batatas fritas. Como sou um dos raros seres humanos que é indiferente à batatas fritas, comi o peixe — que era bem gostoso — e digeri as batatas junto com a cerveja na intenção de não ficar excessivamente bêbado.
Se vejo-me obrigação de elogiar os civilizados pubs, critico o maldito english breakfast, também servido neles. Os pubs abrem normalmente às 10h da manhã — horário em servem o delicado café da manhã a ser descrito adiante — e fecham tarde da noite. A cozinha fecha às 22h30, mas o pessoal segue bebendo. Não vi nenhum deles com horário para fechar, o que achei estranho, pois narrativas de amigos falavam nisso.
Aliás, assim como a alimentação, os horários deles diferem dos nossos. O dia inicia com o breakfast. Então, ali pelas 13h, eles matam um sanduíche nos parques. Estes podem ser boníssimos. Eu devorava os de salmão defumado ou camarão, que são coisas de louco. O jantar é comido por volta das 18h e os concertos — parte importante de nossa vida londrina — , começam às 19h30. Mas enfrentemos o english breakfast.
O traditional english breakfast custa 5,99 libras (aproximandamente R$ 21) na maioria dos locais e, numa bela manhã dominical — ou, de forma mais realista — , em nosso único domingo na cidade, fomos comê-lo. Na ida, já sabia que ia odiar, mas tinha que conhecer a merda. E, bem, é uma merda: trata-se de uma insana gordurama.
Uma pequena descrição do que vemos acima: em sentido horário, começaremos com o feijão branco abaixo. Ele vem meio durinho e o molho de tomate acima é açucarado. Vem açucarado. É um horror. Seguindo nossa rota, vemos à esquerda um cogumelão muito gostoso que é a única iguaria decente no prato. OK, além do tomate. Depois há um ovo, que comemos com o pão; somados a dois salsichões pra lá de gordos que são complementados por dois bifões de bacon. Tudo isso vem acompanhado de chá ou chá com leite — este um vício que adquiri na eletivamente britânica Buenos Aires. Quando saí de lá, pensava com devoção no Dr. Hilário Wolmeister, meu cardiologista, sempre preocupado com meu descontrolado colesterol que costuma bater nos 300. Eu sentia a gordura entupindo minhas veias, matando meu coração e criando coágulos que acabariam por visitar pontos fatais de meu corpo. Saí do pub louco para caminhar, correr, sonhava com uma salada.
E os ingleses amam o tal breakfast e outras coisas que são, sem dúvida, a origem dos sanduíches do MacDonald`s. Não os comentarei aqui porque não os comi.
Gostei muito das noites nos pubs, claro. Cervejas extraordinárias, sidras monumentais, um ambiente alegre e várias mulheres enchendo a cara sozinhas, coisa que atribuo a costumes bem mais livres que os nossos. Mas o povo londrino é papo para outro dia.