Por Valéria Brandini (*), antropóloga.
É o povo que está elegendo o fascismo. Se não fosse esse militarzinho bunda suja, seria outro. Pesquiso o brasileiro há 25 anos. Já fiz pesquisas presenciais de norte a sul do País e atesto que o brasileiro médio “é isso aí”.
Quando a tendência da diversidade chegou, ela veio “de fora para dentro”, é uma tendência mundial, pegou a parte mais desenvolvida da sociedade, que não deve chegar a 5% – não falo de nível econômico, falo de nível cultural – e pegou o pink money da comunidade LGBTQ. Mas quem estuda tendências socioculturais sabe que uma coisa é a tendência que vem de fora, e outra coisa é sua assimilação de acordo com os valores e tendências emergentes de um grupo, ou povo.
Pois bem, há uns 7 anos entrevistei grupos de jovens homens que diziam que “não dá pra namorar hoje em dia porque só tem puta”, e grupos de jovens mulheres que “queriam casar virgem, porque a mulherada hoje não se respeita”, que acham que “não dá pra trabalhar e ser mãe e esposa ao mesmo tempo”. Isso é o brasileiro médio – homens e mulheres machistas, racistas e homofóbicos.
Entrevistei adolescentes que diziam ter medo de ir em baladas, pois “os caras não aceitam quando você não quer ficar com eles e te agridem”. Entrevistei jovens homossexuais de periferia que disseram que “tirando os Jardins (SP), ser gay na periferia é correr ameaça de espancamento e morte todo dia.
O brasileiro médio nunca foi “bonzinho”, como dizia Kate Lyra nos quadros de humor dos anos 80. O brasileiro médio “odeia viado”, odeia pobre — mesmo quando é pobre — não odeia “a pobreza”, odeia “o pobre”, divide as mulheres entre as putas e as mulheres pra casar, é racista e de um “racismo cordial” nojento, pois diz que tem amigo negro, mas não se importa que a polícia mate jovens negros inocentes. As mulheres são AS grandes machistas, pois o machismo feminino é o que forma homens e mulheres machistas na socialização primária das crianças e elas NAO QUEREM se libertar dos padrões coercitivos do machismo, elas querem manter esses padrões, pois acreditam que nele elas tem privilégios (mesmo tomando porrada de machista e com um índice altíssimo de feminicídio — vivem uma eterna síndrome de Estocolmo) — já no feminismo, teriam que ser responsáveis por suas próprias vidas, teriam que ter autonomia existencial e isso é novo e assustador.
A candidatura de B17 rompeu o lacre do reacionarismo e o protofascismo que orienta o ethos do brasileiro médio, mas que com a tendência mundial de apoio à diversidade, ficava reprimida. Democracia é isso, senhoras e senhores e infelizmente o povo brasileiro “é isso”.
Nós aqui que achamos uma abominação o machismo, homofobia e racismo do PSL, nós que lutamos contra Bolsonaro e sua ideologia de extrema-direita, sua apologia à tortura, seu desmerecimento às mulheres, seu ódio aos LGBTQ e sua depreciação dos negros, somos a minoria numa elite cultural que não representa o brasileiro médio — e não digo isso com orgulho, mas com pesar —, pois somos o que o brasileiro médio não quer.
Então, se você, como eu, acredita nos valores da diversidade, na busca por equanimidade para os excluídos, como base da cidadania, busque inspirar e influenciar os valores da igualdade por onde passar. Use o conhecimento como ferramenta para desconstruir mitos discriminatórios, use o conhecimento como forma de mostrar a realidade do Outro para aqueles fechados em suas bolhas, pois a empatia é o caminho para que estas pessoas entendam que você precisa lutar por quem não tem condições de lutar por si na sociedade. Não fique apenas na tentativa de convencimento de voto. O trabalho para inspirar é trabalho de uma vida inteira, não de uma eleição — e só ele causa mudanças profundas. Não tente “convencer”, mostre o conhecimento, desconstrua os preconceitos pelo conhecimento e deixe que escolham o caminho a seguir. Se 1 em 10 pessoas se inspirar, você venceu.
E aprenda a mandar à merda quem precisa ser mandado à merda, sem medo de que não gostem de você, pois nada é mais precioso do que a integridade, e integridade é ser inteiro no que você acredita.
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(*) Valeria Brandini é antropóloga graduada pela Unicamp, especialista em Multimeios (Comunicação e Interdisciplinaridade), Mestre em Publicidade e Propaganda pela ECA – USP, Doutora em Ciências da Comunicação pela ECA – USP em Convênio com a Universitá La Sapienza (Roma) e Central Saint Martin’S School Of Fashion (Londres) e Pós Doutoranda em Antropologia Empresarial pela Unicamp.