Adaptado do Público.pt
Ontem, domingo (28/05/2017), Totti, o eterno capitão da AS Roma, despediu-se definitivamente da braçadeira de capitão e dos gramados. Il Capitano manteve-se fiel durante 24 anos à camisa do clube ao qual chegou ainda criança. Ele despediu-se dos torcedores e do mundo do futebol numa carta emocionada. Aos 40 anos, o jogador tinha anunciado a sua saída no início deste mês. O momento de despedida comoveu o Estádio Olímpico, cujos gramados pisava desde os 16 anos, disputando mais de 780 jogos pelo emblema romano, sempre com a camisola número dez da equipe italiana.
Ele foi torcedor desde sempre da Roma. Gandula do clube quando menino. Estreou entre os titulares aos 16 anos. Capitão do time onde jogou por 24 anos. Campeão italiano em 2000/2001. Campeão mundial pela Itália em 2006. Maior artilheiro da Roma.
A seguir, a carta de Totti:
Obrigado, Roma. Obrigado mãe, pai, irmão, familiares e amigos. Obrigado à minha mulher e aos meus três filhos. Quero começar pelo fim, pelas despedidas, porque não sei se serei capaz de terminar estas linhas. É impossível resumir 28 anos (ele conta os anos nas divisões inferiores) em algumas frases.
Gostaria de fazer isto com uma canção ou um poema, mas não sou capaz de os escrever e tentei, ao longo de todos estes anos, expressar-me através dos meus pés, o que, desde que era criança, tornou tudo muito mais simples.
Por falar na infância, conseguem adivinhar qual era o meu brinquedo favorito? Uma bola de futebol, claro! Ainda é. Mas crescemos ao longo da vida. Foi isso que sempre me disseram e foi o que o passar do tempo decidiu. Maldito tempo.
O mesmo tempo que, no dia 17 de Junho de 2001, só queríamos que passasse mais rápido. Não aguentávamos esperar mais pelo apito final. Ainda fico arrepiado quando me recordo desse dia. Hoje, esse mesmo tempo bateu-me nas costas e disse: “Precisamos crescer. Amanhã serás um adulto. Tira os calções e as chuteiras porque, a partir de hoje, és um homem e não poderás continuar a sentir o cheiro do gramado, o sol a bater no rosto enquanto assistes ao golo dos rivais, a adrenalina a te consumir, a satisfação de celebrar’.
Nos últimos meses, perguntei à minha mulher porque é que eu estava acordando deste sonho. Imaginem que são crianças e estão a ter um bom sonho. De repente, a nossa mãe acorda-vos para ir para a escola. Querem continuar a sonhar, tentam dormir outra vez, mas já não é possível… Desta vez, não é um sonho. É realidade. E não posso voltar a dormir.
Quero dedicar esta carta a todos vocês. A todas as crianças que torceram por mim. Às crianças de ontem, que cresceram e hoje são pais, bem como às crianças de hoje que talvez gritem “Tottigol”. Gosto da ideia de que, para vocês, a minha carreira é um conto de fadas a ser contado. Agora acabou. Vou tirar esta camisa pela última vez. Ficará guardada, ainda que não esteja pronto para dizer “chega”. Talvez nunca esteja.
Desculpem por não dar entrevistas para esclarecer os meus pensamentos, mas não é fácil apagar a luz. Tenho medo. E não é o mesmo medo que se sente quando se está prestes a bater um pênalti. Desta vez, não posso ver o que está à minha frente como via pelos buracos da rede.
Permitam-me que tenha medo. Desta vez, sou eu que preciso de vocês e do amor que vocês sempre me deram. Com o vosso apoio, vou conseguir virar a página e começar uma nova aventura.
Agora, é hora de agradecer a todos os meus companheiros de equipe, treinadores, diretores, presidentes e todos os que trabalharam ao meu lado nesta jornada. Para os torcedores, digo que ter nascido romano e romanista é um privilégio. Ser o capitão desta equipe é uma honra.
Vocês são e sempre serão a minha vida. Os meus pés vão deixar de vos emocionar, mas o meu coração estará sempre com vocês. Vou descer as escadas e entrar no vestiário que me acolheu ainda criança e que agora deixarei com um homem.
Estou orgulhoso e feliz de ter dado ao Roma 28 anos de amor. Amo vocês todos.