Um dia desses, passei os olhos numa matéria que dizia que a leitura de livros era uma espécie poderosa de remédio para as tristezas e decepções da vida. Desta forma, os leitores de livros — acho que o texto utilizava o lugar comum “vorazes leitores” — tinham uma espécie bote salva-vidas que permitia que ficassem boiando durante as inundações que a vida nos impõe.
Impossível concordar mais. Quando a coisa está muito louca e incontrolável lá fora — e como está, não? –, quando a algaravia sem fim do Facebook começa a abalar nossa saúde mental, parece que um bom texto ou uma boa história vem cumprir não somente o papel de nos entreter, mas o de repor nossos pensamentos na linha da normalidade (ou do habitual, pois não tenho ilusões sobre minha normalidade).
Ler ficção não é somente entrar em outra realidade, mas estar em conexão íntima conosco de uma forma muito especial e tranquila. Pode até ser um livro que nos incomode com “murros no crânio” (para citar Kafka), mas o mergulho que fazemos, a penetração que realizamos no modo de pensar de alguém que nos é estranho, tem sempre o condão de nos mostrar o caminho de retorno a nós mesmos.
Quando fico muito tempo sem ler, tenho a impressão de que uma psicose pró-ativa vai tomar conta de mim e vou ficar tão idiota quanto um político de carreira ou outro carreirista qualquer. Mesmo que o nível médio daquilo que se publica seja muito baixo, vale a pena ler livros. A maioria das coisas que as pessoas escrevem no Facebook comentam sobre o dia de hoje de forma simples e descartável. Quando este hoje se torna ontem, aquilo que registramos não tem mais valor. É um palimpsesto (*) de altíssima velocidade. Isso perturba, cansa, gasta.
Enquanto escrevia este texto, descobri que existe uma biblioterapia. Ela consiste na prescrição de materiais de leitura com função terapêutica. A prática biblioterapêutica pode ser utilizada como um importante instrumento no restabelecimento psíquico de indivíduos com transtornos emocionais.
Começo a pensar em fazer listas terapêuticas…
(*) Papiro ou pergaminho cujo texto primitivo é raspado para dar lugar a outro.