Pra confessar que andei sambando errado
Talvez precise até tomar na cara
Chico Buarque — CORRENTE
Nunca vi tamanha pertinácia quanto à demonstrada por Tiago Flores em seu pedido de resposta a este desqualificado e recalcado… bem, blogueiro. E, nossa, que monte impressionante de títulos. E que trajetória! Que retórica! Como duelar com um homem desses? E quantos amigos no Facebook! Pois ele e seus amigos têm razão, sou um invejoso! A inveja é um sentimento difícil de lidar, é um sentimento que nos destrói e estraga por dentro. É quando vemos que outra pessoa é melhor ou possui algo que não possuímos. E isso acaba conosco. O invejoso é um ser que sofre, meus amigos. Parafraseando Roland Barthes, digo que, como invejoso, sofro quatro vezes: sofro por sê-lo, sofro porque me reprovo de sê-lo, sofro porque tenho medo de magoar o objeto de minha adoração e, finalmente, porque me deixo dominar por algo banal.
Direi a verdade, meus sete leitores, e a verdade é que invejo os cabelos de Tiago Flores. Eles são magníficos.
Cada vez que ele entra num palco, eu penso: que quantidade, que cor, que brilho, que hidratação! E, imaginando sua sedosidade, coço desconsolado meu crânio ralo, quase calvo. Sei que os cabelos são a continuação do cérebro. Que inveja. As volutas dos violinos nada são quando comparadas às mil concavidades, convexidades e espirais dos magníficos cabelos do maestro. Todos aplaudem seus cabelos. Toda a vez que ele para na frente da plateia, as pessoas não resistem e prorrompem em entusiástica vibração. Ele poderia reger nu, como num pesadelo, que seria ovacionado. Que cabelos magníficos!
Eu não desejo uma Ferrari, não desejo a glória, esnobo a megasena, não quero títulos — os do Inter me bastam –, não desejo as mais lindas mulheres, desistiria até da Juliette Binoche e da Elena se me fossem dados os magníficos cabelos de Tiago Flores. Trocaria tudo por eles. Por eles, esqueceria Pasárgada. Me mordo e emagreço só pensando neles. Não adiantam os condicionadores, os shampoos anti-queda, os creminhos, não adiantaria nada eu me tornar um metrossexual se não obtivesse os cabelos magníficos do maestro. Sim, confesso, sou como a bruxa má dos contos de fada. Quero aqueles cabelos para mim!
É este o meu problema. Recalque. Sou pior que Adorno falando sobre jazz. Não tenho a educação de Aury Hilário, a carreira de Juarez Fonseca, nem os cabelos de Tiago Flores. Que são magníficos. Como os de Dudamel. Como os de Sansão. Eu? Para que falar de mim? Sou apenas um invejoso.
Milton Ribeiro
Crítico submergente
Recalcado
Sem trajetória, talento ou carreira
Blogueiro