Como os amantes de livros italianos estão lidando com o bloqueio de coronavírus

Como os amantes de livros italianos estão lidando com o bloqueio de coronavírus

Leitores de todo o país estão recomendando livros, enquanto editores, escritores, livrarias e bibliotecas tentam manter a alegria na vida das pessoas

Massimo Carlotto — no The Guardian (tradução minha)

A neve cai nos telhados. O silêncio é sinistro. Apenas alguns dias atrás, este campo montanhoso na fronteira com a Áustria estava cheio de turistas. Agora está quase deserto. Suas estações de esqui, hotéis e restaurantes estão fechados. Geralmente atravessamos a fronteira para fazer compras e encher nossos tanques com gasolina que custa menos e é de melhor qualidade, mas agora a alfândega austríaca recebeu ordem de fechar. Não é mais possível passar. Não moro neste vale, mas tenho uma casa aqui para onde fujo quando preciso de paz para me concentrar na escrita — geralmente quando estou atrasada para o prazo de um romance e meu editor está começando a se preocupar. Mas agora eu prefiro ficar aqui. Não apenas porque o contato com outras pessoas é mínimo, mas porque eu quero assistir o que está acontecendo da distância certa. O coronavírus está mudando a imaginação coletiva dos italianos e nós, escritores, devemos estar em condições de registrá-lo. Eu assisto Pádua, minha cidade, via webcam. As belas praças estão desertas. Finalmente, as pessoas estão aceitando a gravidade da situação.

O bloqueio é absolutamente necessário: o sistema nacional de saúde não consegue acomodar o grande número de pacientes em terapia intensiva. A Itália está pagando o preço por cortes. Felizmente, porém, o governo teve a coragem de tomar medidas drásticas em um país que está culturalmente acostumado a interpretar regras com certa elasticidade. Parte da população, confinada em suas casas, está exalando sua ansiedade e frustração nas mídias sociais e houve incidentes como assaltos no supermercado. Mas celebridades e estrelas do esporte se uniram em uma campanha de divulgação chamada #IStayAtHome. A mensagem deles é insistente: não saia de casa.

O establishment cultural se mobilizou contra o medo: escritores, músicos, artistas, mas também editoras, livrarias e bibliotecas públicas. Todos se empenham em tornar este lar forçado menos triste e difícil.

O fechamento das livrarias foi um golpe para o mercado editorial, que está sendo mantido pelas vendas on-line, mas os leitores tomaram a iniciativa, desenvolvendo maravilhosas listas de leitura boca a boca, destacando clássicos esquecidos e autores de pequenas editoras. Houve uma ênfase em romances que se passam em momentos difíceis da história, de A Peste, de Albert Camus, e Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago.

O bloqueio deve se tornar uma ocasião para reflexão coletiva, não apenas sobre nossos próprios medos, mas também sobre grandes temas sociais, como a solidão — um dos grandes problemas, que o vírus tornou ainda mais doloroso. Solidão não faz diferença de idade ou classe social; aqueles que sofrem com isso precisam de apoio concreto e consistente, mantido ao longo do tempo. O tempo do vírus é uma página na história da Itália; está sendo escrito por muitos, com tragédias e uma miríade de exemplos práticos de solidariedade.

Foto: Prefeitura de Veneza / Divulgação

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Porque hoje é sábado, filósofos

Neste sábado, vou dar espaço para a carioca Fernanda Novarino. Ela publicou no Twitter uma divertida lista de filósofos seguindo o mesmo critério é o mesmo que utilizamos para a escolha de mulheres, ou seja, não estamos interessados na produção nem no cérebro. A partir de agora, passo a palavra a Miss Novarino, como Fernanda é conhecida no Twitter.

Mulherada (da uni, não daqui do trab) fez enquete sobre os filósofos “ôro”. Atenção que estamos falando de ‘shape’. Na minha lista:

10. Sem dúvida Camus:

9. Sim, eu sou das que acha o Nietzsche um chaaaaarme (ou é amor de qq jeito):

8. Dando uma força pros antigos, o Aristóteles dá pro gasto:

7. Schiller???

6. O Benjamin tá na mesma escola do Nietzsche. Eu reconheço este bigode:

5. Surpreendendo, temos Kierkegaard:

4. Merleau-Ponty:

3. O jovem Husserl:

2. Karl Popper:

1- O nosso número um é o indelével Foucault. Puro charme.

Boa foto, por sinal.

Infelizmente a caridade é impensável com Sartre, Adorno, Heidegger e o Kant (este merecidamente!). E Descartes? Neeeeeem pensar!

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