Despretensão, sinceridade, texto curto e fluido. Era isso o que queria quando comecei a escrever resenhas de livros neste blog. A merda é que esta é a 243ª resenha que escrevo e hoje o Google me encontra fácil quando alguém quer saber de um livro que eu tenha lido nos últimos anos. Hoje, o desafio é fazer de conta que ninguém lê estas resenhas. Não é fácil fingir esquizofrenia. Pois se considerar que alguém pode balizar sua compra por mim, vou revisar e revisar o texto, inclusive retirando o que mais gosto, o estilo gonzo das resenhas.
Então começo dizendo que tive a impressão de que o livro de Cristiano Baldi, Correr com Rinocerontes, cresce muito à medida que avança, mas que isso talvez tenha mais a ver com a lentidão com que iniciei a leitura — estava bem atrapalhado pessoalmente — e com o tempo que finalmente pude dispor para ler a segunda metade.
O livro pode ser dividido em duas partes, antes e depois de um trágico acidente familiar que não vou contar. Na primeira parte, o narrador subitamente viaja de volta para Porto Alegre a fim de encontrar sua família. Algo tinha acontecido. De forma divertida, ele nos mostra que não é aquele bom-moço coisa querida tão presente nos discursos feicebuqueanos e tão ausente na atividade prática dos donos dos perfis. Ou seja, ele é franco ao expressar algumas vagas opiniões políticas e franco no prazer, desprazer e dor, assim como em narrar alguns descompromissos afetivos. Suas observações sobre Porto Alegre são lastimáveis e absolutamente cheias de razão.
Quando os motivos da viagem passam ao papel, o livro cresce muito ao mostrar a reação de cada familiar à tragédia. Cada um corre para um lado. Com personagens bem construídos, o tom é o do humor ácido, apesar dos acontecimentos narrados serem efetivamente estarrecedores. Na escolha da linguagem, creio que uma das maiores influências seja a do Salinger do Apanhador. Tal escolha impõe um narrador inteligente, suficientemente interessante, divertido e iconoclasta. É o caso. (Mas jamais pensem que a vinda para sul tenha algo da literatura de Noll, tá?).
Recomendo.