O escritor britânico Christopher Hitchens falou sobre o mal que as religiões causam à política internacional.
Por Gabriel Brust
Na noite em que lançou no Brasil seu mais novo livro, o polêmico escritor Christopher Hitchens despejou uma hora de críticas à fé religiosa em sua palestra no ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento. Para o britânico, que também participou de sessão de autógrafos de Deus Não é Grande – Como a Religião Envenena Tudo, decidir entre a razão e o divino é uma questão urgente.
Embora o debate seja antigo, para Hitchens o momento histórico e a conjuntura internacional — com regimes baseados em religião se multiplicando pelo mundo — exige que ele volte à pauta.
— Precisamos decidir se estamos aqui pelo resultado das leis da Biologia, ou segundo um plano divino, que não tem nada a ver com nossa vontade — afirmou o escritor.
Conhecido por criticar figuras incontestáveis no imaginário político internacional, como a Princesa Diana, Hitchens não tem dúvida sobre qual a decisão a ser tomada.
— A religião foi a tentativa primeira e mais primitiva de tentar descobrir o que é a verdade e o que é o bem. Ela surgiu numa época em que sabíamos muito pouco, na infância aterrorizada de nossa espécie — explicou o autor.
Implacável com a questão religiosa, o autor acabou deixando de lado o debate político, pelo qual ficou mais conhecido em livros como Amor, Pobreza e Guerra e Cartas a Um Jovem Contestador. Ontem, os argumentos de Hitchens foram todos contra a religião. Com o conhecimento de quem trabalhou muito tempo como correspondente internacional, traçou uma espécie de relatório da geopolítica religiosa. No Irã, uma teocracia. Nos Estados Unidos, cristãos influenciando o ensino. Na Rússia, a Igreja Ortodoxa pregando o ódio aos judeus.
O autor diz que o argumento de que a religião forneceu bases morais para o mundo é falso:
— A Bíblia diz que somos feitos de pó, que nascemos do pecado, mas que Deus nos ama. Isso é um truque sadomasoquista, que não se destina à saúde psíquica e moral.
Hitchens não obteve resposta ao lançar um desafio ao público:
— Desafio alguém a me mostrar uma ação moral feita por um crente que não possa ser repetida por um não-crente.
Para finalizar, esclareceu que não é um ateu, mas um antiateísta, alguém que não crê em Deus e também não acha que seria bom se ele existisse:
— Sou um antiateísta, me sinto melhor sabendo que não existe um déspota celeste que nega a nossa liberdade.
P.S.- A propósito, Gabriel, não seria antiteísta em vez de antiateísta?