Eu aprendi uma coisa curiosa naqueles dias da virada dos anos 60 para os 70, mais exatamente entre 1969 e 75, quando fui aluno do Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Tal ensinamento grudou em mim, desde aquela época em que o Julinho vivia seus últimos dias de auge e tinha algumas características educacionais bem próprias e libertárias, mesmo durante a ditadura.
O ensinamento era o seguinte: quando alguém denunciava um colega por ter cometido um erro ou alguma coisa fora das regras da escola ou do razoável, uma dura punição acabava sendo dirigida a ambos, ao delatado e ao dedo-duro, o delator. Porém, quando alguém confessava seu ilícito, a punição era bem menor. Pois delatar seria uma forma de filha-da-putice, uma canalhice, deslealdade, traição. E não confessar também.
Eu adquiri tal postura. Quando faço algo errado, seja uma brincadeira equivocada ou um ato mais grave, me entrego logo de cara., peço desculpas, etc. Porém, quando outro comete mancadas, jamais acuso, mesmo que saiba. Tive uma colega e amiga que fazia o mesmo, e então comprovei como esta nobre postura também pode ser péssima. No trabalho como jornalista, ela tinha a mesma função de outra funcionária, que sempre acabava por montar nela. Todo erro dela era criticado em voz alta pela colega — algumas vezes por e-mail para a chefia e colegas –, a qual jamais recebia uma resposta de mesmo calibre. A acusadora acabou tida como pessoa correta e intocável, apenas caindo no conceito da minha amiga, o que não tinha significado nenhum na dinâmica do grupo. Pior, minha amiga silenciosamente corrigia os erros cometidos pela dedo-duro, tudo em nome do “time”. Se o Papa a conhecesse, lhe concederia a canonização.
Lembro que ela nunca virou seu caminhão de lixo ou de ressentimento sobre a outra. Todos a viam como uma jornalista mais ou menos competente e nada sacana. Eu só observava. Um dia, após um discurso da filha da puta, dei-lhe os parabéns e disse que, a propósito, não era de meu feitio apontar os erros de outros para a chefia. Resultado: ela passou a me perseguir.
Mas ela não sabia administrar o sarcasmo alheio e nisso… Bem, nisso eu sou bom demais.