No Brasil — ou ao menos em Porto Alegre — existe o Imposto Sotaque. Se eu peço um serviço, ele custa mais ou menos R$ 25 por hora. Se a Elena pede, custa R$ 60. Não estou brincando. Aconteceu ontem e hoje, com a mesma pessoa.
Também se a Elena, que é bielorrussa, usa um táxi, tem que explicar o itinerário. Se não faz isso, o cara vai de um bairro a outro da cidade pelo Canal do Panamá.
Isso faz com que eu seja o porta-voz do casal para efeito de contato com prestadores de serviços. Marceneiros, hidráulicos, pintores, eletricistas, pessoas que arrumam ar condicionado, tudo tem que ser comigo. O que é muito chato, pois a maioria dessas pessoas presta maus serviços e tudo acaba em reclamação. Semana passada contratei um marceneiro para arrumar nossas venezianas.
— O Sr. também pode pintá-las?
— Sim, claro.
Pintura feita, vemos que o serviço ficou uma porcaria.
— É que o Sr. sabe, eu sou marceneiro. Pintei só porque o Sr. pediu. Na verdade, não sou pintor.
E eu não pedi absolutamente nada, apenas perguntei. Assim, enganado desta forma, vou lentamente enlouquecendo e morrendo. Para não matar.