Por Luís Januário
— provando que alguns (muitos) portugueses vivem numa realidade paralela
De facto a esquerda é utópica. A esquerda é qualquer coisa em que é impossível acreditar. Assim como um amor que durasse para sempre. A direita é natural. A esquerda é sobrenatural. A direita é uma coisa conhecida: o curso de direito, uma bebedeira ao fim-de-semana, uma bofetada do marido, um quadro do Cargaleiro, uma homilia de domingo, o Expresso, a crónica do Marcelo, os lucros do Belmiro e a nossa inevitável pobreza, as festas da Hola, os filmes da Lusomundo, a literatura internacional e a comida do Eleven, a hipertensão e a obesidade. A esquerda é a nacionalização do petróleo, um curso de enfermagem veterinária, um bellini ao fim da tarde em Corso Como, o esplendor das línguas, a pele secreta que as mulheres do Ocidente revelaram no final do século, a música de Arvo Part e Marilin Crispell e Christina Plhuar, os romances de Bolaño, Sebal – a esquerda tem tendência a ter um êxito póstumo -, VilaMatas, Coetzee, o design de Laszlo Moholy-nagy, o testamento de vida , os legumes no wok, o vinhateiro que resiste no Mondovino.
Os itálicos são meus. O incrível é que os portugueses acharam isso aí brilhante e comprovável… Bem, acho Pärt um saco e ele queria dizer Sebald, eu acho. Agora com licença, tenho que tomar minha sopinha de agrião.