Eu publiquei esta foto trazida por Vladimir Sinyavsky no Facebook. É uma foto de artistas plásticos bielorrussos tirada em Mogilev (Moguilhóv) em 1982. Nela, além do padrasto da Elena Romanov (agachado), que é pintor, estão a Elena — que é hoje minha mulher — aos 13 anos, e sua mãe, com o braço no ombro da filha. A foto é belíssima, e a repercussão foi incrível.
Foram centenas de curtidas e comentários. Muita gente achou a foto muito parecida com as dos grupos de rock da época:
Então, o amigo Igor Freiberger criou o que segue:
Sim, criou a capa dos Minsk Devils. Atentem para os nomes das faixas e para aquelas que foram censuradas — todas as que não eram instrumentais. Ah, o nome dos músicos são impagáveis.
E ontem, nós recebemos de outro amigo, o historiador Artur Barcelos, uma reportagem da Rolling Stone sobre o disco. Abaixo, a capa da revista feita por Leandro Boeira, com texto de “Iuri Bacelov” (Artur Barcelos, claro).
O mar é a floresta
A história da maior banda da metade do mundo
Edição especial da Rolling Stone.
Entre 1969 e 1975 uma Big Band eletrizou os países do Leste europeu. Por trás da Cortina de Ferro o rock folk dos Minsk Devils desafiava o ambiente cultural e político. Diziam que a Belarus (Беларусь) estava cercada pela Ucrânia, a Rússia, a Polônia, a Lituânia e a Letônia. Por isso uma de suas músicas mais famosas era “Quero ver o mar” (Я хачу ўбачыць мора), assim como Mopa foi o nome de seu primeiro disco.
Surpreendendo seu público, o segundo disco se chamou Floresta (Лес). Nele, a inspiração vinha das florestas de Belarus e suas lendas.
Apesar de se chamarem Minsk Devils, na verdade eram de Mogilev. Sua primeira Belarus Tour foi após o disco Mopa e se apresentaram em Brest, Grodno (Hrodna), Gomel (Homiel), Mogilev (Mahilyow) e Vitebsk (Viciebsk).
Com o sucesso o grupo decidiu viver em uma comunidade alternativa rural em Mogilev, onde foi feita a foto da capa dessa edição especial.
Cultivavam legumes e se especializaram em produzir o kvas, uma bebida de baixo teor alcoólico feita de pão preto maltado ou farinha de centeio. O kvass também pode ser combinado com vegetais fatiados, para formar uma sopa fria chamada okroshka. A panela nas mãos de Igor Piotr é uma homenagem a okroshka.
Depois do segundo disco eles fizeram a world Tour, que não foi além da estação de Tishovka em Mogilev. Uma discussão por causa do Denpr Mogilev, time local, levou ao fim da banda.
Nunca mais voltaram a se reunir. Com a volta da autonomia da Belarus em 1990 e o eterno e deplorável governo de Aleksandr Lukashenko não havia mais clima para um retorno.
Seus discos viraram raridades disputados em milhares de rublos em todo o leste e na Rússia. Os Minsk Devils viraram um ícone da liberdade na Belarus e até hoje se espera sua volta.
Iuri Barcelov – corresponde da Rolling Stone.
E esta foto? Seria o making of do grupo?