A Elena quer que eu conte como a praia nos ensinou a gostar de música sertaneja. Foi um fenômeno súbito. Nós frequentemente íamos a uma pastelaria na Rua Rio Tapajós, a principal de Zimbros.
Acontece que bem na frente da pastelaria havia uma igreja cfe. foto abaixo. A cantora da igreja pegava o microfone e cantava, puxando a pequena congregação. Olha, só estando muito necessitado para aguentar aquilo. A pobre moça berrava, alcançando muito raramente a nota procurada. Para que seus erros não ficassem plasmados, ela procurava demonstrar “pegada”. É um vício de maus músicos e cantores. Como não sabem tocar ou cantar, saracoteiam, fazem cara de inspirados ou de extremo esforço e tocam e cantam alto, errando tudo, mas com “garra”. Certo público e a torcida do Grêmio deixam-se enganar pelo esforço, vão esforço.
Até o dono da pastelaria dizia que as músicas da igreja doíam nos ouvidos. E, bem…
Em contraposição, dentro da pastelaria havia uma TV alimentada por um DVD que passava shows de duplas, trios e solos de música sertaneja. Que maravilha… Eles acertavam um pouco mais no tom, e sua música e temas ainda tinham algum sentido. Pouco, mas tinham. Soube que a ideologia deles é a de ser solteiro, beber muito, dançar e pegar e ser pegado por mulher. É um mundo de péssimo gosto, porém hedonista e mais eufônico do que o das igrejas evangélicas. Por isso, eu passei a amar um pouquinho os sertanojos.
P.S. — Mais da metade das músicas da pastelaria eram assim mesmo. O cara chegava cansado em casa, mas tinha marcada uma festa com mulher, música e muita bebida. Ou o cara tirava sarro do amigo que tinha que ir ao cinema porque estava namorando e, assim, perdia o menu de mulheres das festas. Ou era a respeito de mulheres poderosas que pegavam um cara por noite e não tavam nem aí. As letras são deste tipo.