Como a praia nos ensinou a gostar de música sertaneja…

A Elena quer que eu conte como a praia nos ensinou a gostar de música sertaneja. Foi um fenômeno súbito. Nós frequentemente íamos a uma pastelaria na Rua Rio Tapajós, a principal de Zimbros.

Acontece que bem na frente da pastelaria havia uma igreja cfe. foto abaixo. A cantora da igreja pegava o microfone e cantava, puxando a pequena congregação. Olha, só estando muito necessitado para aguentar aquilo. A pobre moça berrava, alcançando muito raramente a nota procurada. Para que seus erros não ficassem plasmados, ela procurava demonstrar “pegada”. É um vício de maus músicos e cantores. Como não sabem tocar ou cantar, saracoteiam, fazem cara de inspirados ou de extremo esforço e tocam e cantam alto, errando tudo, mas com “garra”. Certo público e a torcida do Grêmio deixam-se enganar pelo esforço, vão esforço.

Até o dono da pastelaria dizia que as músicas da igreja doíam nos ouvidos. E, bem…

Em contraposição, dentro da pastelaria havia uma TV alimentada por um DVD que passava shows de duplas, trios e solos de música sertaneja. Que maravilha… Eles acertavam um pouco mais no tom, e sua música e temas ainda tinham algum sentido. Pouco, mas tinham. Soube que a ideologia deles é a de ser solteiro, beber muito, dançar e pegar e ser pegado por mulher. É um mundo de péssimo gosto, porém hedonista e mais eufônico do que o das igrejas evangélicas. Por isso, eu passei a amar um pouquinho os sertanojos.

Elena Romanov Zimbros

P.S. — Mais da metade das músicas da pastelaria eram assim mesmo. O cara chegava cansado em casa, mas tinha marcada uma festa com mulher, música e muita bebida. Ou o cara tirava sarro do amigo que tinha que ir ao cinema porque estava namorando e, assim, perdia o menu de mulheres das festas. Ou era a respeito de mulheres poderosas que pegavam um cara por noite e não tavam nem aí. As letras são deste tipo.

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  1. Percebe-se que sua cultura é muito deficiente em música sertaneja, Milton. Essas músicas que vocês ouviram, pelo que você relata de seus temas, pelo que parece são do sertanojo (ops, digo, sertanejo) “clássico”, quando suas letras ainda tinham ressaibos de significados. Provavelmente se trata de Zezés e Xororós e Daniels. Hoje, essa música evoluiu; já não necessita mais desses enredos. Passou para a onomatopeia, onde se vê refrões inventivos como “bará bará bará, berê berê berê” que sempre se fecham com uma auto-louvação com o nome do cantor, tipo: “Gustavo Lima é você”, etc, etc. Você está tão desatualizado que não se fala mais em sertanejo, mas no “agro-pop”, assim como não se fala mais em funk e rap nacional, mas no “narco-pop”. Como eu sei disso tudo? Moro num estado infestado por esse tipo de música.

    1. NÃO HÁ RETORNO
      by Ramiro Conceição

      Depois de um tempo ausente… Há lugares que medem a nossa mudança. Primeiramente, é a memória que se surpreende: o mato cresceu; a árvore caiu; aquele amor… partiu; a cerveja, embora da mesma, não bate mais direito; e os mesmos amigos são outros… De fato, não há retorno.

      A uma potencial festa, o que nos resta, parece, é apreender a parte da matemática que, com exatidão, ainda não se vê; ler aquele livro que há muito está na lista; ver aquele filme…; dançar aquela música…; voltar àquele poema que não se compreendeu ou, quem sabe, descobrir em si o inusitado…; acima de tudo, beijar… beijar… quem está ao lado; decifrar a dúvida de um filho esperançoso; abraçar se possível quem treme de medo; e preparar-se à ausência, pois sempre há lugares que medem até a última.

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