O Banquete, de Muriel Spark

O Banquete, de Muriel Spark

Um belo divertimento. O Banquete, da escocesa Muriel Spark (1918-2006), começa e termina em um jantar. Os anfitriões ricos servem mousse de salmão e têm criados que não permitem que suas taças de vinho esvaziem.  Conversam sobre um assalto (me senti estuprado!), uma lua de mel em Veneza e um casamento. Margaret Murchie e William Damien se casaram recentemente (eles se conheceram na seção de frutas da Marks & Spencers, como é repetido ironicamente no livro) e se tornaram tema de muitas especulações. A moça é esquisita, mas eles parecem se gostar. O anfitrião não dá um ano para o casamento. Margaret parece atrair incidentes infelizes e Hilda Damien, sua sogra também ricaça, simplesmente não consegue superar um sentimento desconfortável a respeito dela. É instinto maternal ou simplesmente suspeita infundada?

O Banquete é um Spark clássico. Embora use um evento aparentemente despreocupado como ponto de partida, ele traz uma riqueza de situações estranhas, incluindo violências, maldade em um convento, uma clínica de loucos e uma conspiração criminosa. Começa com conversa fiada e de repente revela os pensamentos mais profundos e sombrios de seus personagens. Como em muitos romances de Spark, você tem a sensação de que alguém vai morrer. O que é antecipado sem problemas pela autora. Ela diz ao leitor quais coisas desagradáveis ​​vão acontecer e, em seguida, deixa-o por vários capítulos descobrindo como e quando.

O Banquete tem muitos personagens, mas não está lotado. É um texto inteligente e provocativo, atravessado por uma veia diabólica de humor negro. Como sempre, Spark consegue colocar muita coisa em seus pequenos romances. Durante a narrativa, há roubos, assassinatos, rixas familiares e todo tipo de comportamento desonesto. Conhecemos servos suspeitos, tios loucos e um convento de freiras, uma das quais é muito comuna. Tudo é tratado com a segurança característica. Este é um romance afiado de Muriel Spark, que destaca como as pessoas podem não ser tão inocentes quanto parecem à primeira vista. Um deleite.

Trevor Leighton / National Portrait Gallery, London

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Uma escola para a vida (The finishing school), de Muriel Spark

Eu sou um cara que costumo andar sempre com um livro na mão, no bolso, na bolsa ou na pasta. Qualquer oportunidade, saco do livro e leio onde estiver. Porém, achei tão ridícula a tradução do título deste romance de Muriel Spark que tinha certo constrangimento de lê-lo em público. E a capa é um horror. Parece um troço militar… Mas o livro é de uma das autoras com as quais mais me divirto. Memento Mori, A Primavera da Srta. Jean Brodie, O Banquete e Realidade e Sonhos não mudaram minha vida, mas me deixaram muito feliz de lê-los, principalmente a Srta. Brodie. Finishing School é um gênero de escola particular muito comum na Europa. É onde os alunos recém saídos do colegial fazem um hiato e tem aulas de idiomas, cultura geral, cultura artística, boas maneiras, leem os livros sem os quais não se pode viver…, etc. É neste ambiente que Muriel Spark desenvolve o tal Uma escola para a vida (2004). A Finishing School em questão chama-se Sunrise e é itinerante. A cada ano aluga um local paradisíaco diferente e lá dá suas aulas. Os donos são jovens — Nina Parker e seu marido Rowland Mahler têm menos de 30 anos. Ela cuida da parte burocrática da instituição e ele leciona redação criativa, uma das matérias mais concorridas do colégio. Nos intervalos, Rowland tenta escrever seu primeiro romance. Paralelamente, um de seus alunos — Chris Wiley, de apenas 17 anos — , também está escrevendo o seu. Só que enquanto o texto do rapaz avança, Rowland entra em crise de criatividade; sim, logo ele, o professor de “redação criativa”. Se Chris alimenta-se da crise e da inveja de Rowland; Rowland deseja todo o mal àquele desgraçado que parece não padecer de nenhuma dificuldade com seu livro.

Sim, é um belo plot e Muriel Spark (1918-2006), que escreveu a novela aos 86 anos, não perde a elegância nem a segurança. Não seu melhor texto, mas ainda assim fica muitíssimos furos acima da média. E, por favor, a octogenária escritora não merecia este título de auto-ajuda… Nada a ver! Eximo o tradutor, que fez excelente trabalho, mas o editor merece a nota zero sem perdão. Faltou-lhe uma finishing school, sem dúvida!

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