Os sete pecados capitais já foram oito. O oitavo era a Melancolia, entendida no sentido da tristeza profunda, aquela que pode acabar em suicídio, atentando contra a “obra de Deus”. Ou seja, tal melancolia não seria a tristeza comum e inevitável que todos sentem. É a doença da depressão, do isolamento extremo, da tristeza que parece, à pessoa que a sente, sem fim.
Em sua palestra no Fronteiras do Pensamento de 2018, o escritor José Eduardo Agualusa citou o fato da retirada da Melancolia como um dos pecados. Depois, ele entrou em considerações mais literárias sobre a criação e a cura através da literatura. A melancolia, vista como um pecado, é polêmica mesmo, pois ela não depende de um ato, mas de uma condição, de uma postura pessoal, digamos. Não é uma ação, mas uma vivência.
Ela foi colocada como pecado por ser uma insatisfação profunda que, segundo a igreja, surge da percepção errada de que falta sentido à vida. Isso atacaria a religião. Também seria uma forma de não aceitarmos a realidade, de não estarmos contentes com o que temos.
Após uma discussão de séculos, foi o Papa Gregório I quem atualizou a lista de pecados. Na época da criação dos oito pecados, os mais graves eram os mais egocêntricos. Portanto, o orgulho e a vaidade seriam os piores de todos. Logo depois viria a melancolia, pois confundia-se algo que hoje consideramos doença com a “característica extrema” de voltar-se para si mesmo.
A palavra melancolia tem origem grega e significa “bílis negra”. Victor Hugo escreveu que “a melancolia é a felicidade de estar triste”. Não o entendo. Ele devia estar se referindo àquela tristeza leve que nos acomete, não ao estado de paralisia que associamos à depressão.
Depois, a melancolia foi substituída pela preguiça. E o orgulho e a vaidade juntaram-se no pecado da soberba.
Então, ficaram os atuais Soberba, Avareza, Luxúria, Inveja, Gula, Ira e Preguiça.