Eu nasci em 1957 e acompanho futebol diariamente desde 1966, quando a Copa da Inglaterra me fisgou. Por outro lado, um núcleo familiar 100% colorado me trouxe para o Inter. Então, por ter vivido os fatos como expectador e torcedor, conheço boa parte daquilo que é descrito pelo lateral Sadi Schwerdt, o Sadi, neste livro franco e belamente escrito. Li feliz e muito rapidamente suas 222 páginas de texto simples e direto.
De certa forma, aos 75 anos, Sadi segue sendo o capitão do Inter. Sua visão ainda é a de identificar problemas e denunciá-los, mas também guarda a postura de proteger colegas e a instituição. Os anos 60 foram terríveis para os colorados. O Campeonato Gaúcho era o máximo que Grêmio e Inter podiam aspirar e, entre 1956 e 1968, o Grêmio ganhou todos, à exceção de 1961. A derrota de 1962 foi especialmente ridícula. Sadi chegou depois disso à titularidade, para ser a estrela de um Inter que destinava recursos para a construção do Beira-Rio e deixava os investimentos em futebol para um plano secundário. Lembro que o time nem era tão ruim, mas os dirigentes do futebol faziam coisas, que vistas de hoje… Como é que deixaram Alcindo escapar para o Grêmio? Como é que Sérgio Lopes também foi parar no tricolor? E por que contrataram Foguinho para técnico em 68? (É o mesmo que o Grêmio contratar Falcão hoje para dirigir a equipe ou o Inter contratar Renato). José Alexandre Záchia era tão perdido quanto seus filhos Pedro Paulo e Luiz Fernando, que afundaram novamente o Inter nos anos 90. Ou seja, os dirigentes da época deram enorme contribuição para o adversário.
Tais confusões ficam claras no livro de Sadi, mas jamais pensem que ele grita cada um dos fatos. Não, eles são citados elegante e calmamente pelo Capitão do time. É como se perdoasse. Menos tranquilas são as referências feitas ao ambiente de sacanagem e politicagem barata da Seleção Brasileira, onde ele se destacou sem ser capitão. Analisando suas atuações por lá — que, sei, foram sempre muito boas –, Sadi é mais explícito e explica o funcionamento dos grupos de cariocas e paulistas e as pressões.
Quando cheguei ao futebol mesmo, em 1969, já entendendo escalações, um pouco de tática e a importância de cada um, Sadi já tinha iniciado a série de lesões que o impediram de ir à Copa de 70. Já se tornara um lateral mais comedido no ataque, mas mantinha a segurança defensiva. Lembro do meu desespero cada vez que Jorge Andrade era escalado em seu lugar. Lembro também dos gritos da torcida do Grêmio com a finalidade de perturbá-lo. Gritavam até o nome de sua esposa… E sei que só os grandes jogadores recebem tal tratamento. (Lembro também de vaiar Ronaldinho e outros grandes jogadores do Grêmio… Puro medo, né? Ninguém perde tempo e voz com as ruindades).
Como disse João Saldanha, nos anos 60, o Inter era um time modesto com um grande jogador. Ficou assim até 1968, quando começaram a aparecer Claudiomiro, Bráulio, Sérgio, Valdomiro, etc, e um novo período de glórias chegou.
Nosso Capitão dá um belo painel do clube e do Rio Grande daquela época sob a ditadura militar. Também traz fotos e a recordação especialíssima abaixo. Esta é a foto do álbum Gigante da Beira-Rio que dez entre dez crianças coloradas completaram, incluindo este que vos escreve. É óbvio que reconheci na hora.
Recomendo o livro, mas antes de terminar, digo que Sadi, quando entrou para a política, rejeitou a Arena. Escolheu a oposição. Isso diz muito de meu ídolo.
O lançamento de Nosso Capitão será dia 14 de Setembro, quinta-feira, no Restaurante Terra & Cor Gastronomia (Avenida Praia de Belas, 1400) com a presença de velhos ídolos colorados.