Musicalmente, vai muito bem

Nunca se poderá avaliar a extensão do crime que é cometido diariamente contra a OSPA. Ontem, num local inteiramente inadequado para a orquestra — a Igreja da Ressurreição, dentro do Colégio Anchieta — , o que ouvimos foi um concerto de primeira linha. Só para dar uma ideia: tive dificuldades de ouvir os agudos em meio à reverberação que acontecia onde estava sentado, em banco inteiramente desconfortável. Acho que a maior penitência a que deve ser condenado um crente que ali vai expiar seus pecados e prazeres, é o de ficar sentado na igreja por uma hora. Sairá dali livre deles, com a maior dor nas costas.

(Como parte da orquestra estava acomodada nos primeiros bancos da igreja, a plateia não os via, pois ficávamos na sentados no mesmo nível. Era bonito ver os arcos erguidos dos violinos dançando juntos durante os pizzicati. De resto, o local não oferecia diversão nenhuma).

As interpretações do Concerto de Aranjuez, do qual se nota melhor ao vivo a dificuldade, e da Sinfonia Nº 2 de Sibelius, foram consistentes, ótimas. Se o Concerto soou melhor por ser quase música camarística, a Sinfonia recebeu bela interpretação, tão bela que a gente fica pensando se as orquestras não deveriam mesmo dispensar seus regentes titulares para receber visitantes de concepções e repertórios diferentes do feijão com arroz diário. Não soube e nada sei sobre o regente Nicolas Rauss, mas o que vi foi uma direção tranquila e segura, íntima daquilo que propunha. O poema sinfônico Finlândia foi um bom aquecimento no qual mal pude prestar atenção, pois estava procurando entender o que havia de errado. Era a acústica.

Céus, que crimes se praticam contra a OSPA! Há bons músicos ali, os últimos concursos formaram um excelente conjunto. Quando o RS vai fazer por merecer o que já tem? E até quando se manterá bem uma orquestra sem sede e com falta de músicos?

Ah, acabo de descobrir que o próximo concerto em Porto Alegre também será numa igreja. Ai, minha bunda.

~o~

Atualização das 12h37:

Augusto Maurer, primeiro clarinetista da OSPA, escreveu nos comentários:

(…)

Ótima observação sobre os últimos concursos. Quando antes já se ouviu na OSPA um coral de metais como ontem no início de Finlândia ?

(…)

E eu respondo:

Pois é, escrevi rapidamente e esqueci deste detalhe (?) fundamental. Os metais não foram apenas bem em Finlândia, foram MARAVILHOSOS no final da Sinfonia! Assim como as madeiras, meu amigo.

A provável extinção da TVE e da FM Cultura

Olha, eu não vejo televisão. Para mim, a TV existe para as notícias e o futebol. Como as notícias vêm com o filtro das grandes corporações, fico mesmo é com o futebol. Então, não pensem que conheço a programação da TVE. Nunca conheci. Mas sei de alguns fatos: a TVE tinha uma programação que vinha de três fontes: a TV Cultura de São Paulo, TV Educativa do Rio de Janeiro e havia a programação local. O espaço era dividido por 3, de forma mais ou menos igual. Só que, em 2 de dezembro de 2007, a Educativa do Rio foi extinta para dar no lugar à TV Brasil, canal de televisão pública do governo federal, fundada no dia em que começaram as transmissões de sinal de TV Digital em território brasileiro. A programação da TV Brasil parece ser boa. Aí é que Ela entra na história. Identificando a TV Brasil como a TV do Lula, a Inepta resolveu cortar a programação vinda do Rio, ficando só com a sua e a da TV do Serra (TV Cultura de São Paulo). Nunca antes um governador achara que as TVs públicas do Brasil tinham uma programação tão partidarizada a ponto de impedir as emissões vermelhas de um ou as azuis de outro, mesmo em programas sobre arte ou gastronomia. O estranho é uma governadora que já conta com todas as emissoras comerciais — todas notoriamente pró-Ela e anti-PT — , especialmente a maior delas, parece desprezar tamanho favor, investindo seu tempo em impedir a chegada ao estado de perigosos programas lulistas à sua TV de baixa audiência… Ou quem sabe quer vender alguma coisa à principal patrocinadora?

Bem, então chegou o impasse. A TVE gaúcha e a FM Cultura estão num prédio do INSS. O contrato chegará ao seu final em março e a desgovernadora teria que manifestar sua intenção de compra até meados deste mês. O governo do RS tem mais de 1500 prédios ociosos, que poderiam ter sido oferecidos para permuta. Apesar de ter a preferência na compra, o governo gaúcho não quis adquirir o imóvel… A compra seria um ótimo negócio, o preço era uma bagatela. Porém a Néscia deixou a data expirar. Não comprou o prédio. Nem vai mais. De forma mui lépida e inteligente, a TV Brasil, a do Lula, esperou que o prazo da Trouxa passasse, foi lá no INSS e arrematou o imóvel. Imaginem só: um prédio prontinho, histórico (era o ex-estúdio da TV Piratini da rede de Chatô, encampado pelo INSS quando da falência), com estúdios, antena, estrutura, fiação, vista para o lago Guaíba, tudo lindo e pronto, como não interessaria? Só não interessa à Tola.

Nesse embate, quem se rala é a TVE e a FM Cultura. Agora, a Parva arranjou um lugar para as emissoras: um andar inteiro do Centro Administrativo, um garajão no térreo, hoje cheio de entulho. Detalhe: a TVE tem que se mudar para lá em março. A Tonta chamou a transferência de local de Revitalização. Na boa, eu fico imaginando o ânimo dos funcionários da empresa com a Revitalização que a Palerma pretende. O jornalismo da TV não informa absolutamente nada sobre seu futuro. É a chapa branca elevada a níveis paroxísticos: prefere não olhar para a injeção letal que se aproxima. O presidente do Conselho Deliberativo das Emissoras percebe manobras do Desgoverno para acabar com as emissoras. Ah, é mesmo? Como ele descobriu?

Falta nos fará a FM Cultura, 107,7. O melhor da música brasileira toca ali. Um dia, Mônica Salmaso falou comigo em Parati e disse, encantada:

— Lá vocês têm aquela rádio. A melhor do país.

Ali, pode-se ouvir o melhor mesmo. É a única FM onde se pode ouvir Hermeto, Guinga, Edu Lobo, os grupos instrumentais só ouvidos no exterior, toda a discografia da Biscoito Fino, etc. E há um glorioso programa diário de jazz, o “Sessão Jazz“, apresentado há 11 anos pelo apaixonadíssimo Paulo Moreira. São duas horas por dia na companhia de um baita conhecedor. É algo finíssimo, um luxo que a Ignara não deseja ter. É notável: Serra e FHC demitiram John Neschling lá, o Yedão trata de imitá-los envenenando a cultura daqui com uma desLeal secretária, com uma Sinfônica sem sede e agora… Caramba, que coincidência!

Links importantes:
Blog dos funcionários da TVE e da FM Cultura e
Abaixo-assinado conta a extinção da TVE / FM Cultura