A provável extinção da TVE e da FM Cultura

Olha, eu não vejo televisão. Para mim, a TV existe para as notícias e o futebol. Como as notícias vêm com o filtro das grandes corporações, fico mesmo é com o futebol. Então, não pensem que conheço a programação da TVE. Nunca conheci. Mas sei de alguns fatos: a TVE tinha uma programação que vinha de três fontes: a TV Cultura de São Paulo, TV Educativa do Rio de Janeiro e havia a programação local. O espaço era dividido por 3, de forma mais ou menos igual. Só que, em 2 de dezembro de 2007, a Educativa do Rio foi extinta para dar no lugar à TV Brasil, canal de televisão pública do governo federal, fundada no dia em que começaram as transmissões de sinal de TV Digital em território brasileiro. A programação da TV Brasil parece ser boa. Aí é que Ela entra na história. Identificando a TV Brasil como a TV do Lula, a Inepta resolveu cortar a programação vinda do Rio, ficando só com a sua e a da TV do Serra (TV Cultura de São Paulo). Nunca antes um governador achara que as TVs públicas do Brasil tinham uma programação tão partidarizada a ponto de impedir as emissões vermelhas de um ou as azuis de outro, mesmo em programas sobre arte ou gastronomia. O estranho é uma governadora que já conta com todas as emissoras comerciais — todas notoriamente pró-Ela e anti-PT — , especialmente a maior delas, parece desprezar tamanho favor, investindo seu tempo em impedir a chegada ao estado de perigosos programas lulistas à sua TV de baixa audiência… Ou quem sabe quer vender alguma coisa à principal patrocinadora?

Bem, então chegou o impasse. A TVE gaúcha e a FM Cultura estão num prédio do INSS. O contrato chegará ao seu final em março e a desgovernadora teria que manifestar sua intenção de compra até meados deste mês. O governo do RS tem mais de 1500 prédios ociosos, que poderiam ter sido oferecidos para permuta. Apesar de ter a preferência na compra, o governo gaúcho não quis adquirir o imóvel… A compra seria um ótimo negócio, o preço era uma bagatela. Porém a Néscia deixou a data expirar. Não comprou o prédio. Nem vai mais. De forma mui lépida e inteligente, a TV Brasil, a do Lula, esperou que o prazo da Trouxa passasse, foi lá no INSS e arrematou o imóvel. Imaginem só: um prédio prontinho, histórico (era o ex-estúdio da TV Piratini da rede de Chatô, encampado pelo INSS quando da falência), com estúdios, antena, estrutura, fiação, vista para o lago Guaíba, tudo lindo e pronto, como não interessaria? Só não interessa à Tola.

Nesse embate, quem se rala é a TVE e a FM Cultura. Agora, a Parva arranjou um lugar para as emissoras: um andar inteiro do Centro Administrativo, um garajão no térreo, hoje cheio de entulho. Detalhe: a TVE tem que se mudar para lá em março. A Tonta chamou a transferência de local de Revitalização. Na boa, eu fico imaginando o ânimo dos funcionários da empresa com a Revitalização que a Palerma pretende. O jornalismo da TV não informa absolutamente nada sobre seu futuro. É a chapa branca elevada a níveis paroxísticos: prefere não olhar para a injeção letal que se aproxima. O presidente do Conselho Deliberativo das Emissoras percebe manobras do Desgoverno para acabar com as emissoras. Ah, é mesmo? Como ele descobriu?

Falta nos fará a FM Cultura, 107,7. O melhor da música brasileira toca ali. Um dia, Mônica Salmaso falou comigo em Parati e disse, encantada:

— Lá vocês têm aquela rádio. A melhor do país.

Ali, pode-se ouvir o melhor mesmo. É a única FM onde se pode ouvir Hermeto, Guinga, Edu Lobo, os grupos instrumentais só ouvidos no exterior, toda a discografia da Biscoito Fino, etc. E há um glorioso programa diário de jazz, o “Sessão Jazz“, apresentado há 11 anos pelo apaixonadíssimo Paulo Moreira. São duas horas por dia na companhia de um baita conhecedor. É algo finíssimo, um luxo que a Ignara não deseja ter. É notável: Serra e FHC demitiram John Neschling lá, o Yedão trata de imitá-los envenenando a cultura daqui com uma desLeal secretária, com uma Sinfônica sem sede e agora… Caramba, que coincidência!

Links importantes:
Blog dos funcionários da TVE e da FM Cultura e
Abaixo-assinado conta a extinção da TVE / FM Cultura

11 comments / Add your comment below

  1. Minha mãe uma época trabalhava na biblioteca de um orgão estadual. Era uma construção grande nos fundos. Quando o diretor que montou a biblioteca saiu, aquele espaço começou a ficar cada vez mais visado. Diminuiram a biblioteca, depois transferiram pra outro lugar, e por fim quase a desfizeram e queriam que minha mãe aproveitasse e tirasse xerox. Aí foi a gota d´água e ela pediu demissão.

    A mesmíssima coisa que estão fazendo.

    1. Esses poelíticos que não dão importância à Educação e à Cultura também não têm peito de dizer “Olha, gente, acabou!”. Eles deixam morrer.

      O importante é fazer alghuma pressão que possa se refletir em votos. Quando os cargos ficam ameaçados, aí eles dão um jeito.

  2. Seu Milton, a grei dos impropérios cresce a cada dia, desde que, na Grécia de Xenófanes, de Heráclito e de Eurípides, se inventou a palavra pública. Portanto, não faltarão alcunhas para a Energúmena, em que pese o (de)mérito dela transcender qualquer léxico ou catilinária. O que vemos hoje, com o colapso da teledifusão pública no RS, é o resultado lógico desta gestão, desde que se nomeou esta Incompetente, ou antes. Uns cobiçando honras e favores, outros por temores ou comodismo, outros por cooptação e capachismo, quase todos os intelectuais, artistas e jornalistas se omitiram na necessária denúncia. Livre, leve e solta, a Sicofanta, vai arrasando com o que pode, inclusive com a OSPA, que anda à beira do precipício há bom tempo (uns dizem que já caiu). Por trás disso, há também o fantasma do cururu de partido, aquele bará oligárquico que assombra o Estado brasileiro desde sempre, atrás de cargos, viagens, honras e pequenezas menores que suas próprias sombras. E também uma terrível incapacidade nossa para modernizarmos as coisas, sobretudo na área cultural. Mas mais e pior do que isso, há a sombra da(s) Inepta(s), a(s) Despreparada(s), a(s) Parva(s)… argh, e já vou pegando a Lurdinha prum passeio pela praça…

    Moral da história: mesmo com pouco eco, duvidosa eficácia e até certo risco, ou renovamos a grita contra esta Imbecil e sua (?), ou a civilização recuará mais 12 casas neste brejo em que vivemos. E depois mais 12, e mais…

  3. ÁRVORES
    by Ramiro Conceição

    Ah, meu Amor,
    tudo seria melhor
    se fôssemos…
    Mas se é impossível
    então que seja o real
    a sós.

    Aprender o mundo, por si só,
    já é um baita trabalho danado;
    porém enganar-se com ele
    aí, meu Amor, é tornar-se
    conscientemente um idiota alado:
    é pior que dar pérolas aos porcos;
    é plantar uma floresta de troncos
    mortos.

    Amor,
    não temos tempo de desperdiçar tanto trabalho
    neste campo onde o trabalho não tem qualquer
    valor!
    Então que seja assim: você aí… e eu aqui.
    Afinal, somos troncos… de nós mesmos!

  4. Nós, funcionários da TVE e da FM Cultura, sempre tivemos a noção de que nossa luta vai muito além das questões corporativas. Pelo menos é o pensamento de uma expressiva maioria.

    Vendo a discussão alcançar os mais variados espaços, como o deste blog, temos a certeza de que a compreensão de um grande número de cidadãos de nosso estado é a de valorização e de defesa do fortalecimento da TVE e da FM Cultura, e contrária às iniciativas destrutivas, como a que vem propondo agora a governadora Yeda Crusius.

    Estamos juntos.
    Abç,
    Alexandre Leboutte
    Jornalista – TVE/RS

  5. A decisão por não compartilhar a programação com a TV Brasil é birra da Burra. É ignorar a cultura dos gaúchos, bem coisa de paulistinha bunda-mole (os não bunda moles que me

    perdoem).
    Logo nesse momento que as emissoras necessitam de investimentos para se enquadrarem a tecnologia digital, tomamos este golpe.
    Mudem o slogan, por favor, a TVE não é mais “a tv dos gaúchos”, é dos PSDBs. Partidarizar a cultura é o fim do mundo.
    A TVE é nossa única referência não comercial.
    Não menosprezo outras emissoras, pelo contrário, acho que melhoraram muito. Trabalho com monitoramento de mídia e passo 6 horas assistindo telejornais e programas de entrevista

    (mais algumas horas em casa). Me emociono vendo o caos no Haiti, ou a simpatia do William Bonner.
    A TV cada dia está mais dentro de casa. Dentro de casa como se o apresentador estivesse do seu lado, tomando um chimarrão.
    A TVE tem disso, a simplicidade que torna natural o convívio entre o telespectador e os profissionais que formam o produto final.
    Tenho observado a insegurança dos apresentadores da TVE. Porque será? ahnnn ???

    Bem, Milton, sobre seu texto. Nunca havia acessado seu opsblog e de primeira me diverti muito com os termos que usa para se referir a “Ela”. aarghhhh ! ! !
    Desses o único que uso é o desgovernadora.

    Creio que a chance do quadro se reverter é no próximo governo gaúcho.
    G-A-Ú-C-H-O ! ! ! ! ! ! !

    PS. Mais uma coisa. Ninguém voto na Maldita? A todos que questiono, dizem que não deram o voto. Como a Talzinha tá lá?

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