No terceiro dia de vida besta, uma extensa rotina de banhos de mar e passeios. Eu e a Elena temos uma antes insuspeitada característica em comum: nós dois gostamos de tomar longuíssimos banhos depois ou bem depois da arrebentação. E ficamos lá por quase duas horas, nadando e boiando. É muito prazeroso e sei que você estava esperando ansiosamente por esta importante informação, caro leitor. Abaixo, deixo as poucas fotos do dia antes de nosso jantar na varanda. Afinal, tenho que liberar esta mesa para os pratos.
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Minhas Lígias
Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba
Não vou a Ipanema
Não gosto de chuva
Nem gosto de sol
LÍGIA, Tom Jobim
Minhas lígias têm pouco da musa de Tom Jobim. Nenhuma delas dá aula para minha filha — bem, uma delas É minha filha e a outra muitas vezes ensina alguma coisa à primeira — mas o que as tornam lígias são suas posturas na praia. Sim, passamos o fim-de-semana na casa de minha irmã, em Xangri-lá. Estava tudo ótimo: havia sol, calor, boas acomodações, bons amigos, cozinha extraordinária, vento aceitável e a casa de minha irmã e de seu marido é excelente. Eu e a primeira lígia tínhamos uma suíte! Só que minhas lígias… Bem, a mais morena delas ficou meia hora deitada no sol, ao lado da casa, e retornou de sua aventura com queimaduras apavorantes. Impossível tocá-la depois daquilo. A loira só aceitou viajar à praia sob a condição de acordar quando bem entendesse e de que não fosse forçada a ir àquele lugar terrível, o mar. Não obstante minhas peculiares lígias, estava muito bom.
Nós enquanto praia. A primeira acorda às seis da manhã e vai ler em algum lugar, normalmente sobre o gramado que circunda a casa; a segunda acorda às 12h30. Eu acordo às 9h30 e ouço a conversa da primeira com minha irmã. Elas me oferecem café. Fico sabendo que meu cunhado já saiu para correr e vou dar uma olhada na segunda lígia; ela dorme numa posição verdadeiramente estranha — as pernas estão na posição de quem corre, mas, curiosamente, está deitada de costas. O torso dorme serenamente voltado para o teto, as pernas fogem para algum lugar. É como se ele fosse uma figura egípcia da cintura para baixo. Os braços estão erguidos, os punhos acima da cabeça, como se comemorasse um gol. Os cabelos loiros cacheados do papai estão em todo lugar. Apesar da posição bastante original, faz uma bela figura. Devia fotografar, mas cadê a máquina?
Ninguém sai de casa. O cunhado volta e começa a trabalhar. É um médico de multitalentos. Explicando melhor, é um médico que poderia ter abraçado qualquer — ou todas — as profissões. Então, nas horas vagas, é pedreiro, carpinteiro, eletricista, pintor e jardineiro. Passará o dia inteiro trabalhando em sua casa absoluta e cada vez mais pronta. Parece feliz e não se importar muito com nosso sedentarismo. Gasto uma hora decidindo se corro ou leio. Corri um dia, li nos outros. Minha irmã não gosta de praia, mas gosta de sol e vai assar um pouco. Pontualmente às 12h30, a segunda lígia aparece em versão não egípcia, toma café e se atira sobre As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides. Não é o momento de entabular conversações com ela. Está mal-humorada, há que esperar meia hora para ficar pronta. O que vamos comer? A primeira lígia resolve isto com a minha irmã, isto se o cunhado não resolver pôr a churrasqueira em funcionamento. Surge uma batida de cachaça com abacaxi, feita pela primeira. Eu, o cunhado e sua mulher bebemos bastante. As lígias não gostam de nada, nem de beber.
O almoço é arrasador e a tarde é passada tranquilamente. Eu ligo o notebook e o deixo nuns mp3. Corrijo uns arquivos e depois durmo um pouco. As lígias leem ou veem TV ou jogam cartas. Vão a uma videolocadora e pedem o DVD de As Virgens Suicidas. A atendente só fica olhando, duvidando das duas. Será que é um erótico? Chega a hora em que gosto de ir à praia, 17h30. Me animo e faço convites. A adesão é mínima. Uma preenche palavras cruzadas, a outra revira os olhos só de pensar na possibilidade de areia e mar. Me pergunta se há cavalos por lá. Vou caminhar um pouco. O que vamos comer?