Quando Música perdida fez a final da Copa de Literatura Brasileira contra Um defeito de cor tive absoluta certeza de que o vencedor seria o elogiado livro de Ana Maria Gonçalves. Ora, Ana surgiu nos blogs, Um defeito de cor recebera críticas favoráveis de todo gênero e os julgadores, seus pares, acabariam por escolhê-la, mas não foi o que aconteceu. O vencedor foi Música perdida. Tive então outra certeza: a de que se tratava de um livro superior, de uma obra cuja premiação era inexorável. E, burro que sou, enganei-me novamente.
Assis Brasil adota seu habitual tom manso para contar a história do Maestro Mendanha. No início, tudo me interessava. O personagem principal e suas circunstâncias eram muito sedutoras, principalmente para alguém que, como eu, ama e convive diariamente com a música erudita. Tanto foi assim que foi um pouco complicado inferir o que estava me incomodando no romance. Só quando o autor apresentou Pilar é que ficou clara a planura e a débil construção dos personagens. Assis Brasil nega-se a invadir suas psicologias, preferindo sinalizar acontecimentos e transições com simbolos factuais que são tão claros, mas tão notórios, que funcionam como deselegantes semáforos. Três mortes casuais ocorridas num mesmo dia – recurso estranho para uma narrativa tão tradicional – e uma enorme culpa fazem o personagem fugir de Vila Rica para uma guerra no sul, mas ele, internamente, não parece padecer grande sofrimento simplesmente porque Assis Brasil não o descreve. O livro é todo feito de narrativas de fatos, parecendo mais um roteiro cinematográfico escrito em linguagem literária. Para acabar com meu humor, o autor dedicou-se a estragar o final de minha tarde de domingo – a hora do suicídio – adotando um tom grandiloqüente em seu gran finale, equívoco que ele já havia cometido no patético final feliz de Concerto Campestre.
Pretendo ler Um defeito de cor assim que o obtiver de volta. A empregada lá de casa o pegou para ler. Ela escolhe seus livros e costuma ter bom gosto: antes leu Lolita.
a culpa é minha, e da Olivia, que julgou a partida entre o livro acima e um do Michael Laub – que tem como pano de fundo o Gre-nal do Século. quando ela comentou isso comigo, respondi, porra, aquela merda que os colorados ganharam!
aí o livro do Laub perdeu um pouco a graça.
Tinha uma mão gremista… Tá explicado.
Li “Um defeito de cor” da Ana Maria Gonçalves e, simplesmente, digo: é um dos melhores livros que já foram publicados no Brasil e além-mar. Quanto ao Assis Brasil, não li e, pela sua descrição, não gostei.
A Olívia me deu o livro, não consegui fazer uma análise tão apurada quando a tua.
Se fosse possível e eu tivesse alguma vergonha eu devia reler o texto, pois li nos intervalos de visita para a Gabi e a Valentina no hospital, ou seja, eu estava naturalmente alterado, ansioso.
A impressão que tenho é que deve ser mais simples para um iniciado na música erudita entender os nuances a que o texto se refere, mas minha impressão imedita e burra foi: o livro é absolutamente bem escrito mas eu ainda prefiro o Quarteto Fantástico.
Abraços!
T§