Fernando Arralbal e Gerald Thomas têm chiliques em Porto Alegre

Parece que os fatos foram os seguintes. Num jantar, na noite anterior ao evento, os diretores teatrais Fernando Arrabal (espanhol nascido do Marrocos) e Gerald Thomas (nowhere man, segundo ele), estavam conversando alegremente. Então Arrabal citou alguns ditadores – Hitler, Stálin, Salazar, Pinochet, etc. – em meio a uma fala. Em resposta, Thomas perguntou-lhe porque não incluíra Franco em sua lista.

Pronto! Arrabal quis saber aos berros se Thomas pensava que ele tivesse apoiado Franco, Thomas chamou-o de anão descontrolado e por aí afora… Mais briga, depois: qual dos dois teria privado mais da companhia de Samuel Beckett. Era importante para ambos não somente apresentarem a grife Beckett, mas também demonstrarem tê-la maior e mais íntima. Gozado isso. Beckett morreu em 1989, sendo um dos fundadores do Teatro do Absurdo… Do absurdo, não da burrice.

A partir deste fato, os organizadores do Fronteiras do Pensamento fizeram de tudo para que as duas estrelas não se encontrassem. Só que havia um problema, estava programado um debate! Que não houve, claro. Houve duas palestras separadas: a do simpático e sedutor Arrabal foi um sucesso de público, mas fontes mais confiáveis dizem que o espanhol apenas empreendeu uma série de piadas razoavelmente inteligentes, retirando-se aplaudidíssimo; a de Gerald foi um fracasso, pois nosso amigo não soube ser simpático. Ficou 20 minutos no palco: disse que estava preparado para um debate, não para uma palestra, continuou dizendo que não era palestrante de profissão e começou a falar que era favorável ao fim do estado de Israel e que não acreditava mais no teatro. Aliás, este seria um ponto interessante pois Gerald é cético sobre o futuro do teatro e Arrabal acredita num renascimento. Mostrou também uma foto sua com Beckett… Depois, retirou-se abruptamente, provavelmente indignado pelo cotejo entre a capacidade de improvisação do espanhol e sua própria incompetência. Vaias e aplausos.

Um absurdo, não? As pessoas que pagaram para tal bobagem estão indignadas, claro.

Não creio que eles não pudessem entrar num acordo e conversar, expondo suas diferenças. São adultos, experientes e articulados. Mas acho que ambos, separadamente, concluíram que valeria mais a pena brigar e ganhar manchetes e posts. Porém, aqui em meu post, gostaria de fazer coro ao psiquiatra Mário Corso e declarar que ambos, ao escolherem os chiliques em lugar do debate, deviam ter pouco ou nada a dizer.

6 comments / Add your comment below

  1. Não sei quanto a você, mas tem me incomodado cada vez mais essa incapacidade das pessoas (mesmo as — aparentemente — inteligentes) em discutir qualquer assunto num tom civilizado.

  2. Parece que o próximo debate do Fronteiras será entre o Alexandre Nardoni e o Josef Fritzl sobre como criar uma família feliz.

    Será muito mais interessante do que falar de teatro, tenho certeza!

  3. olá Milton

    o que eu fico besta, é ver que o Brasil ainda dá trela pro Gerald Thomas, que só saber pavonear, e há muito não apresenta algo minimamente assistível. Se um dia apresentou.

  4. Pelo que v,. descreve, o Thomas contava com a verve do Arrabal para usá-lo de escada no debate, e ficou sem escada, pendurado no ar, e broxa, digo, pendurado na broxa.

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