Gaza

Por José Saramago

A sigla ONU, toda a gente o sabe, significa Organização das Nações Unidas, isto é, à luz da realidade, nada ou muito pouco. Que o digam os palestinos de Gaza a quem se lhes estão esgotando os alimentos, ou que se esgotaram já, porque assim o impôs o bloqueio israelita, decidido, pelos vistos, a condenar à fome as 750 mil pessoas ali registadas como refugiados. Nem pão têm já, a farinha acabou, e o azeite, as lentilhas e o açúcar vão pelo mesmo caminho.

Desde o dia 9 de Dezembro os camiões da agência das Nações Unidas, carregados de alimentos, aguardam que o exército israelita lhes permita a entrada na faixa de Gaza, uma autorização uma vez mais negada ou que será retardada até ao último desespero e à última exasperação dos palestinos famintos. Nações Unidas? Unidas? Contando com a cumplicidade ou a cobardia internacional, Israel ri-se de recomendações, decisões e protestos, faz o que entende, quando o entende e como o entende.

Vai ao ponto de impedir a entrada de livros e instrumentos musicais como se se tratasse de produtos que iriam pôr em risco a segurança de Israel. Se o ridículo matasse não restaria de pé um único político ou um único soldado israelita, esses especialistas em crueldade, esses doutorados em desprezo que olham o mundo do alto da insolência que é a base da sua educação. Compreendemos melhor o deus bíblico quando conhecemos os seus seguidores. Jeová, ou Javé, ou como se lhe chame, é um deus rancoroso e feroz que os israelitas mantêm permanentemente actualizado.

Reproduzido de : http://www.iela.ufsc.br/?page=noticia&id=744

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  1. Não, não, não. Não gosto nada disso!
    “Compreendemos melhor o deus bíblico quando conhecemos os seus seguidores. Jeová, ou Javé, ou como se lhe chame, é um deus rancoroso e feroz que os israelitas mantêm permanentemente actualizado.”
    Que coisa mais equivocada, Milton! Mais uma vez uma indignação mais que justificada apoiando-se em argumentos míopes e perigosos. Preconceito religioso que redunda em antisemitismo. Lamentável!
    bem mais informado, ponderado e justo é o Professor Akram Habeeb do post mais recente:
    “São atos que nada justifica, em nenhum caso. Penso no que Deus ordenou ao Povo Eleito: Não matarás. Não invadirás a casa de teu vizinho. Deus não elegeria seu povo, nem povo algum, para matar os vizinhos e roubar a terra em que todos plantam o que todos comem. As escolhas que Israel está fazendo são escolhas do governo de Israel. O governo de Israel escolheu matar palestinenses. Pratica aqui genocídio semelhante ao que outros impérios invasores e ocupantes praticaram em outras partes do mundo, contra populações autóctones. Nenhum genocídio é admissível.”
    Assim é que se fala! Sabes qual é minha opinião sobre religião. Respeitemos os judeus e seu deus! Nao confundamos judeus e isrraelenses com o “governo israelense”. Para mim a conversa começa ou temina aí.
    (Espero que nao apareça nenhum adepto de leitura dinâmica para dizer que eu estou apoiando o ataque à Faixa de Gaza! Por favor, me poupem!)
    Um beijo, f

  2. Este texto saiu no blog do Saramago. Comentei sobre ele no meu blog.

    Resumindo meu comentário ao texto, considero equivocado atribuir a Deus ou à crença nele os massacres que se cometem. Certamente há gente que massacra em nome de deuses. Mas há os muitos que crêem num Deus de paz e justiça (não usando essa palavra no sentido de “vingança”).

  3. Que hipocrisia!! Falar para não julgar um povo pelo seu Deus é válido, mas no caso dos judeus… É só ler o Antigo Testamento para ver o deus dos judeus: “O Senhor dos Exércitos”; “O Deus ciumento e vingativo”; “O deus que exige como prova de fé que seus servos lhe ofereçam holocaustos”, etc. Entreviste um judeu comum na rua sobre o que ele pensa dos muçulmanos. Ele não pestanejará em recriminá-los. Eles seguem com esse “Deus da Guerra” até hoje. Se pensando assim estou me mostrando anti-semita, paciência. É a realidade. Aliás, “anti-semitismo” foi uma estratégia dos judeus para serem respeitados em qualquer lugar do mundo, se fazendo de vítimas não compensadas até hoje, usando como mote o Holocausto. Os judeus não gostam dos “descendentes de Isaque” e querem mais que todos morram. Nisso, não diferem em nada dos colonizadores brancos do sul da África que instituiram o Apartheid.

  4. Parece que ninguém quer lembrar a provocação dos fundamentalistas do Hamas em lançar foguetes Kassan sobre as cidades do sul de Israel! Será que os judeus, mais cedo ou mais tarde, não iriam tentar fazer cessar o bombardeio dos energúmenos? Não deu outra e a retaliação provocada, claro, foi realizada com míssieis modernos disparados de caças F-16. O que será que esperavam? Que os judeus fossem apenas devolver os ataques com bombinhas de São João? Parem com essa hipocrísia e refreiam um pouco seus ódios antisemitas e outras coisas do gênero. Deixem que o negão Barack assuma a bronca e mande o lulla calar a boca… E Milton, dizer que “o negócio é matar” precisa ser melhor explicado

  5. 1. Deixam os palestinos sem alimentos no campo de concentração denominado de Faixa de Gaza.

    2. Eles protestam através de bombas.

    3. E os israelenses “reagem”.

    Sim, Jacó, o negócio é matar, o negócio é genocídio. Sim, o estado de Israel é criminoso.

  6. Meu caro Milton, não quero polemizar contigo, mesmo porque gosto muito de passear pelo teu blog e costumo ler com muita satisfação os teus textos. Entretanto, ainda que também não tenha por Israel grandes simpatias, não posso deixar passar em brancas nuvens o fato que aquele país é a única democracia na região, onde pululam os autoritarismos mais boçais do mundo, afora Cuba e Coréia do Norte. Também, não se pode esquecer que o fundamentalismo islâmico é de uma estupidez belicosa profunda, chegando mesmo, a estimular o suicídio de homens bombas que, no sétimo céu, serão recompensados com as virgens e outras benesses vindas direto de Alá! Nós que já não consiguimos suportar uma Testemunha de Jeová ou um pentacostal qualquer, como podemos ficar frente a intolerância do fanatismo islâmico e seus foguetes Kassan? Fanatismo tão boçal que se utiliza do terrorismo e do ataque aos inocentes como arma política! Ao admitirmos isso estamos dando razão a Ravachol, enlouquecido anarquista do século XIX, que justificava-se, enquanto jogava bombas nas pessoas comuns, aos gritos de que “não existiam iocentes”! Não, meu caro Milton, mesmo que tenha alguma razão em teus argumentos, não podemos levar o Hamas, um partido formado por fanáticos primitivos estimulados e armados pelo Irã e pela Síria, de lombo liso nessa história sanguinolenta…

  7. Bem, Jacó, eu não levo livre o medievalismo talibã e nem os fundamentalismos, incluindo nestes os de alguns católicos.

    Também não estou preocupado se Israel é ou não uma democracia, ou se o Afeganistão — uma cultura milenar — escolhe ser uma democracia ou um estado religioso. O que acho impossível suportar é um campo de concentração existir com o beneplácito americano e ocidental.

    Um guerra não cria avanço nenhum, certo? O que há é um roubo de território — cuja grande parte DEVE SER israellense — e uma tentativa de extinção, ao menos do ponto de vista político, dos palestinos.

    Cordialmente, MR.

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