Dormir é a melhor coisa deste mundo. Nem leitura, nem diversão, nem uma boa mesa, nada se compara. Sexo então é fichinha perto. É um momento de magia quando você, só cansaço, cansaço da pesada, deita o seu corpo e a sua cabeça numa cama e num travesseiro. Ensaio, prosa, poesia, modernidade, tudo isso vai para o brejo quando você escorrega gostosamente da vigília para o sono. É o nirvana!
Raduan Nassar
Acordar, Viver
Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?Ninguém responde, a vida é pétrea.
Carlos Drummond de Andrade
Eu concordo com Drummond de segunda a sexta, e com Nassar no fim de semana. Fico meio aterrorizado com as coisas a fazer dos dias úteis, então durmo e acordo meio no susto. Prazer é no fim de semana, e o sinto tanto ao acordar como ao escorregar para o sono. Tenho sorte: desconheço a insônia.
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Dia desses, eu estava conversando sobre música com uma violinista chinesa de Xiamen. Pelo MSN, claro. Ela é uma pessoa muito séria.
Então, Fang Liu pediu para ver uma foto minha. Eu mandei a foto abaixo. Ela ficou absolutamente enternecida, mas não pela filha do Idelber, a Laurinha…
É que ela pensou que no Brasil nós comêssemos com pauzinhos (chopsticks)…
Me deu o maior trabalho explicar-lhe que nós não os utilizávamos e, pior ainda, que eu não sabia usá-los, mas que estava ensinando à Laura.
— Se você ensina, como pode não saber?
Fang, caríssima, não posso explicar.
Pois você é mesmo um sortudo, Milton. Cá estou eu em plena insônia, esta que já se arrasta por vários meses, visitando teu blog de madrugada (lembrando que estou +4h de distância do Brasil).
Quanto ao mal entendido, mas que idéia a sua! Mandar fotos comendo com os pauzinhos para uma chinesa é pedir para explicar.
Grande abraço!
Claro, fiz confusão com a Fang.
Eu tenho autêntica pena de quem tem dificuldades para dormir. Imagino como vocês sofrem. Como convivo com insones, sei pela manhã quando a noite foi ruim. Fica estampado no rosto o cansaço.
Desculpe, amigo, mas já estou bocejando. Só o que falta é eu dormir antes de ti.
Concordo totalmente. Também sou do tipo que desconhece a insônia. Em qualquer momento do dia, se deitar e ficar de olhos fechados durante muito tempo acabo dormindo. E quando fico deprimida, durmo muito também.
Quando deprimido, durmo mais!
A Claudia, minha mulher, diz que sou um companheiraço… Quando fomos juntos à Europa, dormi toda a viagem. Só acordava para comer. Sou como tu.
Tenho azar: sou insone. Quando durmo, nada de nirvana, mas sonhos (ou pesadelos), alguns algo cinematográficos, outros caóticos e terríveis como uma visita ao Inferno. Com trilha sonora do Nirvana. Há muito não sei o que é uma noite de sono gozosa, inteiramente reparadora. Para mim é até admirável: minha irmã mais velha dorme umas doze horas por dia; por qualquer coisa, ela encosta num canto e dorme, mesmo sentado em qualquer canto. Às vezes gosto dos sonhos; só não consigo gostar mesmo é dos palitinhos, e sempre achei que os chineses, japoneses e afins teriam facilidade com instrumentos musicais, só por utilizar esses palitos para comer. Você toca algum instrumento?
Esta é a sina de todo insone: não dormimos, mas quando dormimos temos pesadelos horrorosos. Eu já sonhei que o diabo do “Doutor Fausto” de T.Mann veio me vender tempo, e isso nas poucas horas de sono que consegui naquela horrorosa noite…
Abraços!
Não, não toco nada.
Vou matar vocês. Quando levei meu filho para ver O Senhor dos Anéis, sentei na cadeira e, após 5 minutos, decidi dormir. Dormi as três horas. Depois, fui ver a continuação com ele e repeti a dose.
Não me perguntem nada sobre o filme.
Marcos, hoje li 21 páginas do teu livro (versão 139 pág.). Excelente. Depois me comunico por e-mail.
Bem, agora posso falar: do jeito que voc~e segurava os “talheres” orientais, pensei: esse puto não deve saber nada de instrumentos de arco ou de sopro. Mas não quis queimar o comentário; vá que você seria exímio violinista? A teoria iria para as calendas.
Ahn… o romance concorreu ao prêmio SESC e, além de não ganhar (o vencedor teve por título O MOMENTO MÁGICO, que pode ser ótimo, mas… ê nomezinho infeliz!), não foi selecionado nem entre os vinte (ou trinta, sei lá) préselecionados (foram 450 concorrentes, entre contos e romances). Ficaria imensamente feliz se, de fato, o vencedor e todos os demais fossem de fato melhores que o meu (e talvez sejam mesmo), mas tam bém imensamente triste: afinal, que país é esse que, com gente tão talentosa, tem por best-seller Paulo Coelho?
Acho isto normal, Marcos. Não conheço nenhum vencedor de concursos que tenha entrado para a história, ao menos no campo da música. Mahler não venceu, e Brahms estava no jurí, inclusive; Bartók (que faz aniversário hoje) também não ganhou um concurso para óperas, apesar de ter escrito a ópera mais profunda que conheço. Os vencedores de tal concurso? Nunca ouvi falar…
Marcos,
Fernando Pessoa participou de um único concurso. Adivinhe o resultado?
Agora uma perguntinha do capeta: quem ganhou?
Agradeço pelos nomes mencionados por você e pelo Gilberto (a parada dele é música, mas dá no mesmo, afinal tratamos de concursos), mas meu nome, atenção, é Marcos Nunes, e euzinho tem não qualquer pretensão de ombrear-se a tão ilustres e dignes representantes de uma humanidade mais criativa (embora não menos tola). Tenho muitos e extensos limites, e nem me aborreci tanto acerca do concurso, mas pelo fato de que, sim, os demais, mesmo quem venceu, permanecerão como ilustres desconhecidos, enquanto, entre os conhecidos, temos o que aí está, e os melhores entre eles são lidos por uns mil, dois mil, no máximo cinco mil leitores, enquanto uns troços tipo Eclipse e sei lá mais o quê (não esqueçamos os caçadores de pipas e afins)tem, no Brasil, 1 milhão de leitores, por aí.
À parte isso, bem que poderia ficar entre os vinte, né?
Talvez eu soe muito romântico agora, mas eu não trocaria dez bons ouvintes por uma multidão me ovacionando.
E se os dez estivessem no meio da multidão?
Eu sei: um Manuel Qualquer.
explicar ensinar sem saber: como poderia? boa resposta, milton.
linda a filhinha do idelber.
Bom, Arbo, estava brincando de ensinar, mas não se vê na foto.
Um bom empate para ti hoje!
Ah, é linda a Laura!
Gilberto, Brahms estava empenhado em sua luta antiwagneriana e identificou em Das Klagende Lied o gigantismo de Wagner. Foi pro vinagre. Uma avaliação apressada, com certeza.
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Bom, amigos (TODOS), o Marcos Nunes me mandou um romance dele para ler. Eu pedi para ele. Ele não me impôs a leitura. É um calhamaço. Deve corresponder a umas 250 páginas publicadas, mas ele me mandou um “.pdf” sacana, de 139… O tamanho da letra é um teste de oftalmo.
Eu imprimi ontem 1/4 dele. 35 páginas. Li tudo hoje, EM MEIO AO TRABALHO. É excelente, muito visceral, tanto política quanTo sexualmente. Talvez o problema seja o início pouco sedutor. Na página 2 há uma frase de sei lá quantas linhas. Só que depois que a gente engrena na leitura não dá para parar. E eu, idiota, estou com a impressora de casa sem cartucho. Só vou continuar a leitura amanhã.
Podem pegar os 20 melhores lançamentos de qqquer ano no Brasil. O livro do Marcos Nunes estaria na seleção. Acho que o pessoal não está acostumado com acidez e inteligência. Baita livro. A montagem do conflito é rara de se encontrar por aí.
Abraços.
Milton, se os dez estiverem no meio da multidão então tudo estaria bem. E eu adorei o “teste de oftalmo”. Andei baixando tantos pdfs sacanas como como este ultimamente.
Grande abraço!
Bem, Milton, eu havia dito que o primeiro capítulo tava fraquinho. Já alterei umas vinte vezes, e não sei mais o que fazer com ele. Mas me sinto uma sardinha vestida com escamas de robalo: não faz isso não, o pessoal vai achar que sou um puta escritor, e não sou nada disso. Só me acho melhor que o Sérgio Sant’anna, só que isso é fácil. O difícil é publicar, vender mais que o Bolaño (a Cia. das Letras jura que nenhum livro dele vendeu mais que 3.000 exemplares aqui no Brasil), ser massacrado por todo mundo mas deixar tesão nos outros em provar que eu sou um merda, escrevendo coisas melhores que as minhas. Isso me obrigaria a melhorar também. Mas, como estão as coisas, fico com as idéias na cabeça e deixo-as morrer lá mesmo, abortos de imaginação doentia. Droga, hoje não deveria escrever coisa alguma: parece que dá pra ver lágrimas borrando o texto!
Desculpa pelo tamanho usurário das letras. Não quis fazê-lo gastar papel em demasia, acho que esse romance não vale uma árvore. Fico penalizadoe pensando que, por causa dessa bosta, você acabará aumentando o grau dos seus óculos. Desculpe-me, sinceramente.
Hahahahaha
Já imprimi minha segunda parte.
É um bom livro. Muito original. Não lembro de teres reclamado do primeiro capítulo, acho legal termos concordado. Eu tenho sugestões para ele e pretendo te escrever uma interpretação deste estranho capítulo, na minha opinião fora do tom do que se lê após.
Penso que ele não mereça uma reforma, mas sim um desdobramento em vários. Depois escrevo melhor: parece que tentaste estabecer um acordo tácito com o leitor — o livro será assim, com este tom de farsa, assim assado, mas estás contando sobre a relação entre os personagens. Há tese misturada à ação. Eu pergunto: por que ele tem de ser apenas um (1) capítulo. Ele ficou duro, meio confuso, os personagens só terão humanidade depois. Bom, depois conversamos mais.
O livro é bom, mas só falamos sobre 5% dele…
Eu já tô puto com ele, e você ainda quer que eu o desdobre?
Acho que 80% do que está adiante é aceitável. Uns 10% inaceitáveis, e uns 5% de equívocos semelhantes ao 1º capítulo. Original? Acho que não. Perseguir originalidade em literatura é a mesma coisa que querer que uma bananeira dê frutos pela raiz. Diria que se compatibiliza, na medida do possível, com os tempos que correm e, para aqueles que os vivem, não são nada originais, mas isso os contemporâneos de nada sabem. E a História é tal qual o Anjo do Klee, sobre o qual versou Benjamim.
Tese? Teses. Furadas, mas teses. Que esse troço de suspender juízo já arrebentou com o meu a ponto de dar vontade de arrebentar com o dos outros.