Da Beleza das Analogias e Simetrias (entre 1905 e 2005)

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Porém, desde então, Gejfin foi morar no Rio…

1. Béla Bartók (1881-1945) foi um compositor húngaro.
2. Leandro Gejfinbein está vivo e é um blogueiro gaúcho, conforme vocês podem notar clicando sobre seu nome.
3. Tiago Casagrande também e é amigo do Gejfin.
4. Zoltán Kodály (1882-1967) foi um compositor húngaro amigo de Bartók.

Tiagón / Gejfin: Eu e o amigo-gêmeo Gejfin partilhamos da mesma fascinação pela memória humana. Pensar que cada pessoa tem uma História pessoal riquíssima, não importa quem seja ou onde vive, nossa – é o que os antigos definem como “muito louco”. Encontramos diversos pontos de contato quando começamos a conhecer a ficção um do outro; descobrimos que ambos usamos as lentes nada convencionais para observar o que está ao redor – pelo contrário, nos fascina o lado interno, a possibilidade escondida pela objetividade do dia-a-dia… E da ficção para os chopes de boteco, e deles certo dia imaginamos quantas histórias não estão enterradas pelas pequenas cidades do Rio Grande (só pra ficar dentro da nossa galáxia), à margem da capital, e logo, dos holofotes. Porque, mesmo que não haja glamour algum nisso, a verdade é que em algum momento nos perguntamos: o que as pessoas dessas cidades fazem quando a mídia não está olhando? E fomos curiosos o suficiente para ir lá espiar.

Bartók / Kodály: Em 1901, fascinados pela música do também húngaro Liszt, Bartók e Kodály tomaram consciência das relações de seu predecessor com a cultura popular da Europa Oriental. Ambos jovens compositores, resolveram estudar a música dos camponeses da região. Em 1905, Bartók pleiteou uma bolsa que lhes facultou recursos para recolher essas canções “em sua própria fonte” e partiu para anotá-las em companhia de Kodály. Então souberam que seus conhecimentos sobre tal assunto – e os de outros compositores – eram desfigurados, quase paródias da realidade. Na verdade, o que habitualmente se chamava de música cigana (tzigane) e danças húngaras não passavam de garatujas desengonçadas perto da caligrafia original.

Tiagón / Gejfin: Nossa idéia é compor ficção como um patchwork das diversas histórias e memórias colhidas. Não é um livro de curiosidades, é um livro sobre vida de pessoas, com a ressalva de que não é a nossa. Deixemos o encantamento para o leitor, a nós resta tentar ser o mais puros possível. Sua estrutura prevê que as pequenas cidades visitadas (no início, o parâmetro era 10 mil habitantes, mas reduzimos para metade) sejam capítulos, e junto delas, há um ensaio fotográfico. Em maio do ano passado fizemos a viagem-piloto: para Agudo, centro geográfico do Estado – embora a escolha tenha sido aleatória, na base do “e que tal…?” Jamais poderíamos imaginar tamanho êxito. Também pelos resultados práticos, mas principalmente pela sensação de olhar correspondido num flerte; chegamos lá querendo enxergar, e tudo abriu-se à observação e fruição. A acolhida foi fantástica. Conhecemos o interior da cidade, fotografamos, gravamos os diálogos entre nós; conversamos com as pessoas mais importantes e cheias de histórias da cidade, que, na verdade, poderiam ser qualquer cidadão. O cuidado que tomamos é o de deixar a curiosidade sobre “o outro”, “o estranho”, nos domínios da motivação de todo o esforço; mas na hora de transpor tudo que absorvemos, e mesmo a forma como absorvemos, há de ser a mais legítima possível, como se fôssemos também parte daquilo tudo desde sempre.

Bartók / Kodály: A partir de publicação das Canções Populares Húngaras, eles inauguram uma nova disciplina científica – a etnomusicologia. Nos anos posteriores, ampliaram seus progressivamente o horizonte geográfico de seus trabalhos: primeiro a Romênia, depois a Ucrânia, a Bulgária, até a África do Norte (Argélia e Egito) e a Anatólia (Turquia). Com o tempo, tornaram-se alvo da galhofa de certos críticos que não compreendiam a necessidade dos dois de alimentarem suas linguagens musicais com matéria viva. Estes críticos, ridicularizavam especiamente (e incompreensivamente) o último movimento da Música para Cordas, Percussão e Celesta, de Bartók, que hoje é uma das peças fundamentais do repertório erudito do século XX.

Tiagón / Gejfin: Voltamos a Porto Alegre com as sinapses lotadas de encantamento, mas não conseguimos transformá-las em texto. A experiência vivenciada repercute ainda hoje em conversa sim, conversa não; pequenos pedaços da viagem a Agudo seguidamente irrompem sobre a mesa de bar e criam lembranças de sorrisos divagantes. O projeto está interrompido por diversos motivos – um emprego fixo e verba são motivos nada originais, mas que se aplicam; mas também acho que há um frio na barriga causado pelo medo de que a próxima viagem não seja perfeita como a primeira foi. Além da viabilidade técnica para tocar o projeto adiante, precisamos romper a aura fantástica que se criou em torno do piloto.

Bartók / Kodály: O resultado, para a arte de Bartók e Kodály, foi um estilo originalíssimo. Em seus trabalhos, eles utilizavam elementos alheios à música da Europa Ocidental. Depois, conseguiram uma gloriosa união de seus estilos com o da grande tradição européia, sobretudo com Bach (caso de Bartók). Kodály foi um enorme compositor, porém – como os dramaturgos elisabetanos que tiveram o “azar” de serem contemporâneos de Shakespeare – foi sufocado pela genialidade do amigo Bartók. Bartók tornou-se subitamente célebre em 1911, quando da publicação da curtíssima peça para piano Allegro Barbaro. A música do povo era mais interessante, selvagem e intrincada do que qualquer scholar da época imaginava. O espírito científico de ambos não deve ser comparado ao dos compositores ditos “nacionalistas”, que se contentavam em tomar de empréstimo à música popular seus trejeitos para que suas obras ganhassem um colorido folclórico.

Tiagón / Gejfin: No momento em que conversávamos com nossos entrevistados, sentíamos um travo amargo – como um vinho tânico demais que passa dois dias na garrafa aberta. Porque embora jamais tenhamos nos revestido de uma posição oficialesca ou jornalística, soava ingrato e até injusto o fato de que macularemos os relatos com nossa ficção. As histórias, por si só, já são fascinantes o suficiente, e nos foram entregues com a paixão do protagonista; como evitar o medo de desapontar tantas pessoas? Não só pessoas, mas a própria história da cidade; pois não havia história simples. Nem o hotel – tu morrerias de rir se visse minha expressão no momento em que dona Eda me contou que o hotel onde estávamos hospedados, de sua propriedade, fora um hospital até os anos 40; e que a sala de tevê era, antigamente, a varanda onde os doentes tomavam sol – o que explicava as clarabóias improvisadas no teto. Pudéssemos, e sairíamos cobrindo todos os cantos de todas as cidades, escutando todas as histórias de todas as pessoas com o mesmo interesse e devoção, e transcrevendo-as depois para a eternidade das bibliotecas; porque na raiz somos apaixonados por colecionar a si mesmos, e disso vem a percepção de que todas as histórias são infinitamente ricas e multicoloridas, e que, sempre que alguma delas morre com alguém, o mundo fica um pouquinho mais árido.

Bartók / Kodály: Eles assimilaram o espírito da música camponesa, aplicando, ao criar, estruturas forjadas no conhecimento aprofundado dos esquemas populares. Descobriram, por exemplo, que a improvisação melódica se realizava por um processo que é o mesmo em todas as músicas populares: partindo de uma curta fórmula de base – que pode ser de apenas duas notas – os músicos vão ampliando progressivamente esta fórmula, e a elas retornam periodicamente no decorrer de uma peça, como se o fizessem para ganhar, a cada vez, um novo impulso. Este fato – que pode parecer uma simples definição do jazz – era desconhecido há 100 anos atrás. É inegável o mérito de Bartók de observar a realidade, depreendendo dela as leis internas de seu funcionamento para, então, empregá-las em suas obras, no sentido de que estas passassem a ser uma profunda reflexão.

Tiagón / Gejfin: Queremos reunir o material de três localidades para batermos em algumas portas – empresas patrocinadoras ou editoras – para realizar as outras sete viagens e publicar o livro. Há como ficar indiferente quando se tem nas mãos uma arte que tem como matéria-prima uma realidade distante, mas que se aproxima de qualquer ser humano na medida em que são coleções de pedaços de vida? Esse é o espírito. Queremos que o livro incentive as pessoas a fazer o mesmo consigo, praticando no seu próprio universo. Ter como retorno pessoas encantadas como nos encantamos por tudo isso. Acreditar que será possível nos move. Como pensar o contrário – que o encantamento é uma prática rara – dá medo. Vivemos conflitando essas coisas. Não raro os papos sobre o projeto chegam neste ponto, embora o fim da conversa sempre aconteça do mesmo jeito: “a gente sabe, né amigo, mesmo se nada disso acontecer – nem mais viagens, nem livro, nem nada -, pra gente, ter colocado câmera e gravador no carro e pegado a estrada rumo a Agudo, já valeu o que foi e será das mais incríveis experiências que vivemos”.

Observações finais: Bartók sentiu-se atingido quando o ministro da Educação Popular e Propaganda Nazista Goebbels, em 1936, organizou uma exposição de “Música degenerada” incluindo os nomes de Stravinsky, Schönberg e Milhaud. Escreveu ao ministro para que este inscrevesse seu nome e sua música nesse grupo. Depois, em 1938, chegou mesmo a declarar que pretendia converter-se à religião judaica como forma de ficar ao lado dos perseguidos. Expôs-se de tal maneira, que foi obrigado a aceitar os insistentes pedidos dos amigos – entre eles o de Benny Goodman – para que emigrasse, o que fez apenas em 1940. Foi para os Estados Unidos, onde morreu em 1945. Kodály viveu na Hungria até 1967. Além de compositor, era professor universitário e presidente da International Society for Music Education, da Hungarian Academy of Sciences e da International Folk Music Council.

Fontes consultadas: Leandro Gejfinbein e Tiago Casagrande escreveram a quatro mãos suas seções. As de Bartók e Kodály foram escritas por mim com o sempre providencial auxílio da memória de livros e discos e – muito mais importante – o da História da Música Ocidental de Jean e Brigitte Massin, um calhamaço de quase 1300 páginas, da Nova Fronteira, 1997 e o da Música da Modernidade de J. Jota de Moraes, Ed. Brasiliense, 1983.

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17 comments / Add your comment below

  1. Por absoluta falta de tempo, recorro a um post antigo de que gosto muito. Abaixo, os 32 comentários que recebeu em 2005.

    Caríssimo Míton Só hoje pude vir cá ver teu post sobre música, como disseste lá no comentário do Eu pensando. Ah, Mílton, não pode haver comparação em situações como as que se apresentam aqui. A par da forma original com que tu e teus preciosos amigos exploram a simetria e o paralelismo, há o conteúdo movimentado dos rapazes e o estudo impecável de pesquisa que realizas sobre os músicos europeus. Tudo muito bem dosado, equilibrado e magistralmente inserido num texto elegante, de muita classe. Os três estão de parabéns, merecem aplausos. Deixo-te um abraço e a recomendação de passares às tuas crianças uma porção de beijos sonoramente estaladinhos.

    Magaly Da Beleza das Analogias e… Jun 2 2005

    Genial, é o minimo que posso dizer após ler esse post e antes de recuperar o fôlego! Mas confesso um imensa inveja: jamais um sociólogo (tal qual serei muito em breve) poderia escrever com tamanha honestidade como os amigos Tiagon e Gejfin. Eu estaria sempre a procurar o que está por trás do que foi dito. Justamente o que não foi dito. Aí estaria o problema! Simone (psicóloga) compartilha parcialmente de minha opinião. Em verdade, sou bem mais chato do que ela (coisa de sociólogo).

    _U1 Da Beleza das Analogias e… May 26 2005

    !

    Rafael Reinehr Da Beleza das Analogias e… May 26 2005

    Gênio!

    Rafael Reinehr Da Beleza das Analogias e… May 26 2005

    Sincronicidade é tudo. Ou quase tudo, que no es lo mismo pero es igual. beijos! Ana

    Ana Lúcia Merege Da Beleza das Analogias e… May 25 2005

    E, quando solicitei à Meg permissão para publicar seu e-mail, recebi mais esta demonstração de seu brilho intelectual (ter leitores assim – e há vários – me deixa até assustado). O texto é novamente da Meg até o final: Milton, querido: Sabes perfeitamento que em relação a mim “and around” – tu podes tudo, dessa velha dama indigna:-) Tenho mais confiança em ti do que em mim mesma, as matter of fact. Só acho que há imprecisões e que – por alguma razão, isso poderia até ser mais valioso pois foi escrito no calor da paixão que teu post – belíssimo repito pela enésima vez – me provocou. Mas é isso. Memória das pessoas, de sujeitos que viveram e construíram para nós um passado, só podem escapar do olvido, do esquecimento, como diria Gardel – se forem retiradas desse esquecimento, num amoroso trabalho de verrumar aquilo que tende a se transformar em ruínas e fragmentos. É bem o que nos faz caminhar para a frente, mas tendo em vista o que passado nos lega, sob pena de trilharmos percursos já antes percorridos. A tarefa de vocês, guys, é inapreciável. Tentar salvar do esquecimento é a nobre tarefa do narrador, que recolhe lembranças, imagens, pensamentos e palavras, insere-as na memória da sociedade e aponta para um futuro – mais rico em possiblidades. Fiz ligeiríssimos acréscimos, mas confio que saberás fazer uma adaptação, conjugando esta ressalva. (PARA QUE, MEG? DELICIO-ME COM TUAS VARIAÇÕES SOBRE O TEMA!) Beijos P.S: Crucial porém é mostar que Walter Benjamin inicia esse processo em “Erfahrung” (Experiência), 1913, no texto: A Criança, o Brinquedo, a Educação. Pouco depois, num ensaio sobre o conceito de experiência em Kant (“Ueber das Programm der kommenden Philosophie”) [“Sobre o Programa da Filosofia a vir”, Em vários textos dos anos 30 (“Experiência e Pobreza”, “O Narrador”, os trabalhos sobre Baudelaire) e ss. “O Narrador”, e que eu me lembre, O NARRADOR está naquela coleção, “Os Pensadores”, da Abril Cult. 1980, trad. excelente de Modesto Carone, um discípulo de Herbert Caro, e em “Sobre alguns Temas em Baudelaire” e, finalmente, as teses de 1940. (Este livro em 3 volumes – Obras completas, saiu pela Brasiliense, década gloriosa de 80, e se vires num sebo atira-te e compra mesmo que só tenhas esse valor para comer o mês inteiro;-) Claro, que para um blog não é necessário isso, estou enviando para ti, para que guardes, pois o Tiago me parece estudou Benjamin (mas como te digo, não tenho hoje em dia, nenhuma confiança – de forma genérica, é claro, nos acadêmicos de hoje. Eles não ouvem os mais velhos hohoho). E aí, com justa razão, os jovens inteligentes os criticam, mas sem fazer ressalvas e tomam a parte pelo todo: -((

    Meg Da Beleza das Analogias e… May 25 2005

    Ela, a Meg, me envia este belo e-mail complementando seu comentário (o texto a seguir é da super e socrática professora Maria Elisa Guimarães, a Meg): Querido: O que vocês fizeram – foram vocês três não foram? É nada mais nada menos que todo o percurso teórico de Walter Benjamin. Olha só o que eu escrevi para uma amiga em 1900 e lá vai poeira;-) “Os alemães tem duas palavras distintas para definir a experiência: uma delas, é a Erfahrung que define, de certa forma, a narração subjetiva, para um grupo de pessoas, que divide partilha, dá e recebe, troca as experiências do grupo. Mas eu me refiro aqui, à *experiência* que embora pertencendo a um grupo, está ligada mais à subjetividade intima, privada e especial, às coisas da vida interior, interna do indivíduo. É a chamada Erlebnis. Pois bem, esses dois conceitos são o marco fundamental de Walter Benjamin, nos seus estudos sobre Baudelaire, e são a essência da suas teses sobre a história: Porém, ao invés de apontar para uma “imagem eterna do passado”, como o historicismo, o que Benjamin quer é exatamente o que vocês fizeram, tornar essa história viva, pois não se pode construir um fututo ignorando a experiência dos mais velhos. Deu-se início então, na modernidade, o nascimento da *NARRATIVA*. Para o momento é só, estou bombardeada. Remédios, remédios, remédios. Mas estou aqui, afoita e atenta mandando beijos para Babi e Bernardo hohoho ;-)))) Beijos para ti e para os narradores. Tenho também um artigo que está no site da http://m-musica.com quando analiso o *desaparecimento* ou o esquecimento (olvido) de uma cantora dos anos 80 . Se eu tiver o permalink mandarei para vocês. Beijos e parabéns pelo excelente post, que requer ser lido com a mesma paixão com que foi escrito. Brilho puro de estrelas. Extensivos, claro, ao Tiagón e Gejfin.

    Meg Da Beleza das Analogias e… May 25 2005

    Sem comentários, espero o livro para ontem! Beijos de sorte nas três mãos escondidas!

    Tania Barros Da Beleza das Analogias e… May 25 2005

    Um post grande e gostoso de ler. Um projeto de dar água na boca e três sujeitos que tinham que se encontrar por esse mundo e registrá-lo. Torço para que o livro saia das conversas e se transforme em papel. Beijos Ps. Espero que tenha recebido meu e-mail

    nora borges Da Beleza das Analogias e… May 25 2005

    ola amigo, pois é… cada pessoa é o universo inteiro, traz com ela toda a historia da humanidade … alguns têm a felicidade de partilhar universos com um copo de cerveja na mão e sorrisos. Que Maravilha! beijos

    Leda Da Beleza das Analogias e… May 25 2005

    Ótima viagem. Tanto aquela de Bartók/Kodály, quanto a de Tiagón/Gejfin. Se não der certo o projeto da última dupla, que ao menos montem um roteiro das vidas visitadas. Seria um excelente guia de turismo interno. Ciao

    Allan Da Beleza das Analogias e… May 25 2005

    Milton, O projeto deles é sensacional. Mesmo que não arranjem patrocínio nem editora, o que vai enriquecê-los na vida não tem tamanho. Já rodei muito por esse país e até hoje não me esqueço das pessoas e coisas que vi. É o que me ajuda, hoje, a ser simples. Deixo minha torcida para que consigam e um beijo carinhoso.

    Laura Da Beleza das Analogias e… May 24 2005

    Milton querido e Tiagón e Gejfin, que não falam comigo não sei o porquê:-)) Já vim aqui três vezes; já, praticamente, incorporei as palavras do post. Já li e reli os comentários, na esperança de encontrar alguém que se manifestasse e manifestasse a grandiosidade desse projeto que segundo os dois ou mesmo os três ‘”a gente sabe, né amigo, mesmo se nada disso acontecer [..]já valeu o que foi e será das mais incríveis experiências que vivemos’.” Eu tenho então a impressão de que nem mesmo vocês se dão conta da riqueza do que têm nas mãos. Não, não é isso que quero dizer, por favor, não estou sendo indelicada, estou é entusiasmada. É que às seis mãos estão faltando duas, companheiros;-)) Milton, Tiagón e Gejfin: vocês sabem a quem pertence historicamente a primazia dessa idéia – importantíssima para a civilização dita moderna e contemporânea? E que poderia constituir as outras duas mãos que faltam? E que vocês têm como missão não deixar que se perca? Vocês, seus privilegiados, têm um dia para me dizer quem é. Findo o qual – se quiserem poderei dizer. Admiro-me que quem quer que lide com literatura não tenho reconhecido e sentido esta falta. Não é, entretanto, falha. Afinal, sem se conhecerem Leibniz e Newton descobriram ao mesmo o cálculo infinitesimal, não é? Beijos e minha sincera e entusiástica admiração. Meg P.S – O chato disso tudo é que sou professora e morrerei professora, sorry;-) E, socrática, acho que o professor não é provedor de respostas e sim um “despertador de consciências. Parabéns, mais uma vez. M.

    Meg (subrosa) Da Beleza das Analogias e… May 24 2005

    terei que voltar mais tarde e continuar a leitura. por hora um beijo.li.

    .li. Da Beleza das Analogias e… May 24 2005

    Milton! que projeto mais incrível, vai acabar em ‘road movie’ – boto fé! bjs, grata pela visita, Tekka

    tekka Da Beleza das Analogias e… May 24 2005

    Estou encantada com tudo: o projeto, a viagem, o post entremeando as duas estórias, a foto. Eu fiz Projeto Rondon em uma cidadezinha de 3000 habitantes em MT (Acorizal). Sem dúvida os melhores momentos eram os bate-papos com os bons contadores de causos.

    Viva Da Beleza das Analogias e… May 23 2005

    Que belo post! Não vejo a hora de ler o resultado dessa pesquisa do Tiagón e do Gejfin. E os seus apontamentos sobre Bártok são precisos, e me fizeram revisitar o nascimento dessa disciplina que me fascina tanto, a etnomusicologia. Para completar, ficaram super bem na foto! Parabéns!

    Idelber Da Beleza das Analogias e… May 23 2005

    A foto está à disposição, assim como o inverno para desfrutar suas alegrias – tintas e calóricas. Nasci não muito longe de Agudo e adorava vasculhar as estradas de chão daquelas paragens. Sempre à cata de filmes mudos que depois saboreava em memórias, mas também fico fascinada com as ilimitadas possibilidades contidas nas histórias escondidas em cada criatura que segue por aí em nossa galaxia. beijim!

    Laura Paz Da Beleza das Analogias e… May 23 2005

    Milton, Como estava atrasada nos seus posts, li os dois últimos e esse vai ficar para outra hora. Mas a foto é ótima1 Três Gatos!!!! Beijo,

    Laura Da Beleza das Analogias e… May 23 2005

    Milton, Vi a citação do seu blog no de Manoel Carlos. Vim visitá-lo, então, e saio com a melhor das impressões. E não dizem que quem gosta, volta? Um abraço. Sobreira

    Francisco Sobreira Da Beleza das Analogias e… May 23 2005

    Novamente tentando… serei sucinta antes que saia brigando com o seu comentador. Não consigo nem salvar o que te escrevo enfim… adorei ler. adorei Kodaly, lembrou-me o universo da faculdade de m´suica há muito esquecido beijos e re-beijos Odila… antes que seja defenestrada novamente do seu comentador

    Maria Odila Da Beleza das Analogias e… May 23 2005

    parabéns aos três mosqueteiros pela união de conhecimentos e estudo da memória humana, Milton. Abraços

    Marco… Da Beleza das Analogias e… May 23 2005

    Quanta honra! Quanta honra! Um brinde! E tu e o post reforçam mais um pouco a certeza do final do texto, quando diz que mesmo se não rolar mais nada, isso tudo já valeu MUITO. Colecionar é o máximo. 🙂 Abraço, tchê! (por que eu faço SEMPRE a mesma cara nas fotos?)

    Gejfin Da Beleza das Analogias e… May 23 2005

    E não é que o cara tá emagrecendo mesmo? Levei um tempo pra identificar quem era o Tiagón e quem era o Milton Ribeiro (espero que ele veja isso e, de tão feliz, me coloque no fim da fila de pagar a mensalidade da Verbeat).

    Marco Aurelio Brasil Da Beleza das Analogias e… May 23 2005

    Milton, muito bom teu texto. Teu, do Tiago e do Gejfin. Que aliás, são bons também, assim como os húngaros, hehehe… =) Graaaande abraço!

    Renato Rosa Da Beleza das Analogias e… May 23 2005

  2. Sei que você estava esperando o meu comentário.

    Devo dizer que ri muito ao saber do seu processo porque foi no mesmo dia em que li um post da Marjorie sobre a propaganda de cerveja que menosprezava as mulheres ao colocá-las no fim da hierarquia humana, atrás de homens brancos, cães e homens negros. Se eu fosse um desses blogueiros que palpitam sobre tudo, faria um post sobre os dois textos, sobre os dois lados da histeria politicamente correta: semiótica do absurdo e processos bizarros.

    Aliás, é curioso ver gente como você, todo metido a progressista, ser processado por machismo. Vejo o seu processo como Trostky recebendo uma picaretada no crânio a mando do seu ex-camarada Stalin. Quem inventa, agüenta.

    Até sobre inventar e agüentar, acho que você deveria pagar uma quantia mesmo ganhando, só para mostrar que você é de fato um progressista. Seria algo assim: “Se o dinheiro gasto servir para que no futuro outras mulheres não sejam vítimas de sexismo, então eu pago de peito aberto! Prefiro ir para a cadeia do que imaginar um mundo onde o machismo é tolerado!” Seria Bombordista, seria progressista e seria esquerdista. “chegou mesmo a declarar que pretendia converter-se à religião judaica como forma de ficar ao lado dos perseguidos” Você, para mostrar que está do lado das vítimas, deveria mudar seu nome como forma de solidariedade.

    Sobre a sua piada com o nome dela e sua possível imoralidade. Bem, parafraseando o dândi inglês, a sua piada é PIOR que imoral: NÃO TEM GRAÇA. Fazer uma piada sem graça, e acabar processado por ela, dever ser quase tão ruim quanto ser impotente e ser acusado de estupro. E se por acaso você sobreviver ao processo, esteja certo que estarão todos esperando por você na redação da Praça é Nossa. Enfim, espero de verdade que você ganhe.

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    Sobre o post:
    Primeiro, Bartok é tão bom que fico constrangido de vê-lo comparado ao que você e seu amigo quiseram fazer. Até porque o Allegretto 2/14 das Danças populares húngaras é melhor que toda a blogosfera. E olha que é curtinho. E a frase principal da rapsódia no.1 das danças populares é melhor que a própria palavra escrita. O que dizer de Este a székelyeknél, dos sketches húngaros? Se o que vocês queriam fazer fosse a versão literária de Este a székelyeknél eu compraria os direitos.

    Segundo: “como os dramaturgos elisabetanos que tiveram o “azar” de serem contemporâneos de Shakespeare – foi sufocado”. Acharia mais justo te processar por isso de que pela piada. Do período, só Bill Shakespeare e Jonson escapam – e Chapman escapa por Bussy D’Ambois. Talvez Doctor Faustus, do Marlowe, que eu detesto. E mais nada. Tecnicamente, Jonson, vamos combinar, nem elisabetano era. Se não fosse Shakespeare, ninguém lembraria do período.

    Abraço.

    1. Bem, eu gosto dos isabelinos, como dizem meus amigos portugueses. Só Jonson e Marlowe já seriam um belo sufocamento, não?

      Deverias limitar teus comentários musicais. Eles traem enorme ignorância, para dizer o mínimo…

      Sobre a “sem acento”: tens toda a razão, desde que excetuemos aquela afirmativa sobre que eu estaria aguardando teu comentário.

      Isso foi perfeito: “Fazer uma piada sem graça, e acabar processado por ela, dever ser quase tão ruim quanto ser impotente e ser acusado de estupro. E se por acaso você sobreviver ao processo, esteja certo que estarão todos esperando por você na redação da Praça é Nossa”.

      Que vergonha.

    2. TRAQUES
      by Ramiro Conceição

      A torpeza
      é uma cópia
      da Beleza,
      uma seqüência
      de traques
      duma cólica
      intestinal.
      É a puta do templo,
      desde a Babilônia,
      a lamber capachos
      à ignorância global.

      A torpeza
      não tem nome,
      é um codinome
      que pia,
      que deseja,
      que as eras
      sejam
      das amebas!

      Graças a Deus,
      ainda bem,
      que torto,
      nasceste
      morto!
      Graças a Deus,
      que não passas
      de tua mãe
      a limpar o cu
      do mundo!

  3. Como periférico é, na verdade, todo e qualquer lugar, dependendo tão somente da perspectiva do sujeito, tendo a fazer uma tábula rasa cultural, e encontrar semelhanças em tudo e em todos, não importando distância, língua e microdiferenças. Em meio a todas singularidades, os medos se assemelham, os egoísmos, as dores, os desejos, as impressões, os prazeres… É claro que, na linguagem da cultura dominante, entro é Nova Iorque, Londres ou Paris, Bonn ou Berlim, Milão ou Turim, Madri ou Barcelona, Pequim ou Calcutá, Tóquio ou Hong Kong, etc., e todo o resto é periferia, mas isso é só uma perspectiva economicista, nada afim às vidas vividas. Guardadas as distâncias, as proximidades são patentes, bem como os mitos incorporados à formaação dos discursos e das culturas são sempre muito semelhantes, basta comparar a cosmogonia indígena com a indiana ou africana, todas elas na base das elaborações cristãs e estas devedoras das gregas. No fundo, todas são animistas, é só ir lixando camada por camada: no final, lá estarão os deuses Sol, Lua, Tempestade, Rio, Mar, Floresta, etc.. Livros, então, guardam sempre muitas semelhanças. Autores eslavos desenvolveram idéias semelhantes a de autores peruanos, e por aí vai, fora as influências assumidas e outras estranhamente rechaçadas (Clarice Lispector odiava comparações dela com Virginia Woolf, mas 90% da obra de Clarice deriva de Mrs. Dalloway). Enfim, não dá para desenvolver o tema em poucas linhas, mas o que quero dizer é que o surpreendente não é a descoberta de simetrias, mas se encontrar algo que não reflita nada pré-existente – afinal das contas, impossível, dada a materialidade primeira de todas as coisas, uma gerando outra, se multiplicando e mantendo as características afins, incorporando novos elementos.

    1. De uma perspectiva meio atravessada, tive pensamentos semelhantes ao ver dois museus de arte pré-colombina em Montevidéo. Os Aztecas já estavam no ponto X a que os Mayas chegariam, a que os Incas idem, e que até os Charruas alcaçariam, mesmo tendo feito apenas uma pedra cheia de pontas chamada no museu de “rompe-cabezas”.

  4. Ir morar no interior foi, para mim, um processo vertiginosamente gradual de perda do excessivo peso supérfluo que vinha carregando em vinte e cinco anos de confinamento urbano.Quando se decide abdicar da vida dos semáforos contínuos para morar numa cidadezinha cuja população avaliada paira na casa dos cinco dígitos, os anos de ruído perpétuo e da hiperinformação visual de prédios e outdoors em que nos treinamos para reconhecer o peso e a medida da vida, nos instrui apenas a compreender o que estas pequenas cidades tem pelo que nelas nos aflige a ausência: ausência das estruturas formais básicas do trânsito, da verticalidade das casas, da pressa contumaz em que objetivos e chegadas nunca nos bastam (antes eu me sentava no sofá de um décimo andar, ao entardecer, e junto descansava sobre mim o peso da certeza de que algo ficou faltando a ser completado; algo, num fatalíssimo esquecimento, estava se cozinhando para a surpresa desagradável de me pegar de frente assim que o novo dia recomeçasse). Quando saí da metrópole, eu era o Josef K., a espera do ofício inevitável que pressagiava minha condenação, cuja cinética de uma burocracia indevassável garantia que o ultimato me seria entregue em mãos religiosamente, no carinho sádico da Jurisprudência infalível; quando me instalei na cidadezinha, por mais que me alertasse o bom-senso de uma boa criação, não me faltava a encarnação do personagem de Pais e Filhos, do Turgéniev, que apenas entende como obtusa a tradição do campo, do alto de sua recém adquirida esnobice cosmopolitana; e hoje- apesar de estar longe, aqui onde eu moro, de ser tão bucólico e protegido quanto meus devaneios românticos exigiriam_, estou disposto a jurar que conheço a encarnação do sistemático Platero, o burrinho apaixonante do poeta espanhol Juan Ramón Jiménez, que eu tenho que desviar o carro sempre que vou para o almoço. E, cargas d´agua, o que isso tem a ver com o post? Tudo, desde minha pretensão (junto a um amigo professor_ e louco) de também coletar histórias locais, colhidas da fonte da experiência impagável de seus próprios personagens, como, também, da temática folclórica da música de Bártok, Chostacóvich, etc. Mas, Milton, nós não nos preocupamos com a conspurcação da possível pureza desses relatos , mesmo porque seria impossível ( e sem sabor) se não fizessemos funcionar os demônios particulares da escrita na compilação destas histórias. E, sendo fiel tanto ao material tratado, quanto à minha própria presença devidamente distanciada, eu jugo estar prestando o reconhecimento justo ao meu processo de exorcismo. Quando visito a casa de minha mãe, já estando há dez anos afastado da metrópole, percebo ter feito o caminho contrário de Bazárov, olhando do extremo oposto as pesadas máscaras de respeito próprio que eu ridiculamente mantinha neste ritual sofregamente arcaico, legitimamente urbano, que é compartilhar o elevador de um prédio. Mas tenho que esconder o riso quando, em resposta a um natural cumprimento de “bom dia”, ou “como vai”, recebo do cidadão sofisticado uma contração facial de resguardo, revelando que na superfície de sua mente ocupada desenha-se a certeza compulsiva de que deixou algo fatalíssimo por fazer, que não sabe o que é_ mas pelo qual já se resigna de ter que pagar caro.

    1. Puxa, para entender este comentário que ter lido um bocado!

      O que fazer no interior? Alguma comarca mais longínqua? Adonde estás, hijo?

      1. Desculpe pelo rebuscamento do texto. Não há absolutamente nada a fazer onde moro, além do que se reduziu ao essencial de tomar uma cerveja com amigos no final do dia e sentar de frente à casa para jogar conversa fora com o vizinho. Eu achava insuportável, hoje não troco isso por nada. Moro em uma cidade de 30.000 habitantes no interior de Goiás, com a onipotente usina de cana e um matadouro gigantesco.

  5. Nossa! Esse post contém, embora de forma embrionária, uma peça e/ ou um filme. Vou tentar explicar: a obra (peça ou filme) teria 4 personagens centrais:
    Dois atores seriam o Villa-Lobos e o Mário de Andrade: ambos estudaram o folclore brasileiro na elaboração de suas obras. Mário deixou “O Turista Aprendiz” . Desconheço se o Villa deixou algum material escrito sobre o folclore além, é claro, da sua música.
    Dois atores seriam o Tiagón e o Gejfin: com suas reflexões de viagem.
    O tema da peça seria o caminho “reverso” do tempo, isto é, um discurso entre presente (Tiagón e o Gejfin) e passado (Villa-Lobos e Mário de Andrade). Reverso no sentido geométrico de retas reversas. Ou seja, embora não se toquem fazem parte da mesma “geometria humana”, embora em planos “de tempo” diferentes. Penso que se acabaria por tocar na teoria do “Inconsciente Coletivo” de Jung bem como no seu modelo dos “Arquétipos”.
    É difícil escrever, claramente, o que vem na minha cabeça neste instante; mas essencialmente é a imagem de retas reversas: duas entidades em planos diferentes, com a impossibilidade de se tocarem, porém conscientes da existência uma da outra e, mais do que isso, embora em planos diferentes, ambas constituídas da mesma essência humana. Ou em outras palavras: uma metáfora sobre a nossa intrínseca solidão.
    Vem-me agora uma cena poética do “Aniversário” de Pessoa, não me lembro dos versos, mas a cena é a seguinte: num cruzamento qualquer duma cidade qualquer (provavelmente, Lisboa), se encontram dois seres: um é o Eu(passado do poeta) o outro o Eu(presente do poeta). Ambos se conhecem, se amam e têm saudades, mas é impossível se tocarem pois fazem parte de dimensões diferentes, contudo, sabem que terão no mesmo instante o mesmo fim, porque pertencem ao mesmo ser dividido: é de arrepiar!!!!!
    Espero que tenha contribuído com alguma coisa para vocês três: Tiagón, Gejfin e Milton.

    1. Puxa, Ramiro, ainda bem que já escrevi o post de amanhã. Agora tua ideia grudou na minha cabeça. Caralho, já sei até algumas cenas…

    2. Ramiro, há o livro do Saramago com a mesma temática do encontro entre dois Fernando Pessoa, “O Ano da Morte de Ricardo Reis”.

  6. sigo apaixonado por Agudo e tudo que me trouxe. o projeto ainda dorme, mas vai reviver. acho que daqui a um tempo vou convidar o Bernardo para retomarmos a ideia. ainda tem a vantagem de que é melhor fotógrafo que o Gejfin.

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