A Máquina de Ser, de João Gilberto Noll

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Eu teria tudo para gostar de João Gilberto Noll. Ele escreve indiscutivelmente muito bem, tem uma voz pessoal, distinta e acho-o muito inteligente nas entrevistas — cheguei a fazer anotações durante algumas para não esquecer de respostas especialmente brilhantes. Como se não bastasse, ele é portoalegrense como eu e, como eu, ainda vive na cidade. Mais: com surpreendente freqüência, vejo-o entrar nas mesmas sessões de cinema que eu e, na penúltima, ainda na fila do ingresso, pude observá-lo abrir a bolsa para pegar A Máquina de Ser com uma cara que interpretei de como de desaprovação. Ele lia a página 114… Mas Noll é uma pessoa reservada; ou seja, nossa “relação” nunca irá evoluir para o diálogo.

Comecei dizendo que teria tudo para gostar de seus livros e sigo confessando estar cansado de seu narrador, sempre na primeira pessoa do singular. “Há pouco tempo descobri que o meu protagonista é sempre o mesmo”, disse ele à Entrelivros. Puxa, ele descobriu isto só há pouco tempo?

Este narrador é alguém que observa-se na solidão e daí parte. Nesta coletânea de 24 contos, houve momentos de entusiasmo e de decepção e não é casual que os momentos mais satisfatórios foram aqueles em que Noll conseguiu afastar-se do protagonista que conta a história.

O que me incomoda é que tal narrador solitário leva a história a situações previsíveis, ao menos para mim, que conheço quase toda a obra do gaúcho. Imaginem que quando ele parte de sua solidão para um situação maior, consigo prever até a linguagem que ele vai utilizar para se encalacrar lá. Fica chato e nem a prosa inventiva do autor me salva do enfado.

Li algumas outras opiniões e ninguém parece ter restrições a este narrador e nem dizem que os contos são bastante desiguais. Deve ser um problema meu. Belos contos que demorarei a esquecer são O berço, Alma naval, Noturnas doutrinas, Rudes romeiros, Biombos, Na divisa, A máquina de ser e Na correnteza. Como disse acima, são contos onde o eterno narrador de Noll ou está excepcionalmente de folga – caso de O berço – ou está em conflito com outros personagens. Porém, ao menos minha relação de melhores contos de A Máquina de Ser está de acordo com quase todas as outras listas, o que me faz pensar se não está todo mundo enjoado do tal narrador.

Num livro tão bem escrito por Noll e bem cuidado pela Nova Fronteira, acho inconcebível que a segunda metade da “orelha”, escrita por Paulo Scott, não tenha sido censurada. É inútil ler aquele amontoado de adjetivos e analogias que só serve para dar a impressão de que trata-se de um ajuntamento mal costurado de histórias sobre todos os temas do mundo, o que não é absolutamente verdade.

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26 comments / Add your comment below

  1. Milton, como sempre, muito boa sua mini resenha (pena que tão curta). Do Noll li “Rastros de Verão” e “Mínimos Múltiplos Comuns”. O primeiro assim que foi lançado, e o autor era uma grande promessa. Minhas observações da época era que o ritmo, os cortes, a manipulação da estranheza, de Rastros, remetia a Cortázar, em especial um conto de Octaedro; mas o ouvido do autor se prestava a dar vazão a toda sua leitura de Camus. Não achei grande coisa, mas era visível que o autor teria muito que oferecer pela frente. Mas o que se seguiu foi a mesma via sacra da maldição do escritor nacional: a falta de ambição.Cadê o grande romance do Noll, aquele que o faria reconhecido fora das platitudes territoriais. E, sem nada que fazer em umas férias forçadas no Rio, ciente de que pra se morar em tal cidade só mesmo sendo muito condicionado pela insuficiência de apostas melhores e radicais, tive como única leitura o Mínimos, emprestado de um amigo. O que serviu pra reacender minha indignação, pois se trata de uma coletânea de contos breves e aforismos magníficos.

    1. Charlles, eu tenho uma queda especial pelos escritores que NÃO TÊM o grande romance. Simenon — a meu ver um enorme escritor — dizia que sua grande obra era o mosaico formado por seus pequenos romances. Acho uma magnífica e verdadeira expressão para o caso dele.

      Já Noll insiste NO MESMO PERSONAGEM. É isso que me enche o saco. O foco, a consciência e a postura são sempre as mesmas. Quando abri este livro deu-me a sensação de já tê-lo lido. Fico puto.

      1. Sei o que tu dissestes. Quando digo “grande” não me refiro ao número de páginas. Simenon_ que eu compartilho veementemente sua opinião_ não deveria ter dito isto, já que em sua bibliografia consta alguns grandes romances (“O gato”, “O homem que via o trem passar” e “Sangue na neve”). Coetzee, que também é o que é, nunca escreveu um romance que, no dizer de Raquel de Queiróz, se mantem em pé sozinho na estante. Minha triste constatação é que o escritor brasileiro é um automutilador; começa fremindo de paixão e escreve com o frescor da adolescência, onde tudo parece-lhe possível, até que, quando o rito de passagem para criações maiores se apresenta inevitável, ele recua, se encolhe sob a sombra do estigma de “escritor brasileiro”. Como Marx diz, não podemos perder o interesse pelas palavras, muitos o fizeram e sucumbiram por isso. Essa linha decisória impossibilita para mais tarde o surgimento de escritores importantes como o Saramago, que só escreveu pra valer depois dos cinquenta anos.

        1. Quando falo em “grande” considero também o número de páginas. SEi que não é importante, mas os críticos contumam considerar o livrão como a obra magna do autor. Nabokov também fez sua obra magna bem pequenina: “A Verdadeira Vida de Sebastian Knight”.

      2. Milton, o peso dos séculos não queda só o escritor brasileiro, mas qualquer escritor de qualquer parte do mundo. Isso parece complexo de vira-lata, que não enxerga também o “mercado”, a determinar qual é o escritor explorável da vez, quais vale a pena manter (porque vendem) e quais podemos deixar para o culto dos iniciados(porque pouco vendem). Escritos de qualidade existem em todo lugar do mundo, e nem precisamos percorrer os inéditos que assim serão para sempre; não são fronteiras e culturas que limitam o alcance e êxito, mas a administração das coisas centrada no paradigma do lucro. Não vejo grandes problemas com o escritor brasileiro, mas com a literatura como um todo; na verdade, o problema não é o problema, mas todos os problemas que nos afligem e a literatura, entidade superestrutural, nada mais faz do que chafurdar nesse mar de bosta, sonhando tirar dele algumas pepitas de conhecimento, à parte dos axiomas científicos. E é como você disse: grande obra é balela, mas vale hoje a despretensão de quem sabe que, no tempo das enciclopédias literárias, os autores perceberam o mar de bosta dos píncaros de seus Olimpos, cabendo hoje aos nossos escritores menores o mergulho para demonstrar a verdadeira humanidade e, nela, onde navega e submerge a literatura realmente relevante, cujo vigor pode até ser maior que sua qualidade formal, mas, afinal, o vigor também é uma qualidade formal, entenda-se ou não.

        1. Pois é engraçada esta coisa de mercado x boa literatura. A literatura de consumo pode ser boa, mas a fórmula se perdeu. O livro A Cidade de Deus, se tivesse uma trama envolvente, poderia ser um clássico de nosso tempo. Mas há algo que impede os autores a escreverem um livro que envolva um roteiro. Ora, se o cara não é um beletrista, se os fatos contados são cronológicos, se não há um trabalho de linguagem que impeça a comunicação com o público, então pq não dá para escrever uma traminha?

          Eu sempre insisto em dizer que, sob TODA a filosofia e as parábolas de Os Irmãos Karamázovi, há uma pergunta só: “Quem matou o velho Fiódor?”. E creio que 80% dos que leem o livro apenas querem ler respondida esta pergunta.

    2. “E, sem nada que fazer em umas férias forçadas no Rio, ciente de que pra se morar em tal cidade só mesmo sendo muito condicionado pela insuficiência de apostas melhores e radicais”

      Eu, como carioca e riodejaneirista, agradeço, apontando-lhe como aposta melhor e radical Kandahar, no Afeganistão, para servir de escudo aos obuses imperialistas. Nada mais radical que isso.

      1. Não, não. Kandahar não é um exemplo propício. Há de se ter respeito pelas maravilhas do Oriente Médio, visto que os obuses narcoimperialistas cariocas devam impressioná-los na mesma medida.

        1. Os narcobuses são tão letais quanto a gripe suína: pproporcionalmente, não são nada, mas ambos vendem jornais pacas. Outra sugestão: Porto Alegre. Exerça a democracia radical e entre com a camisa so Inter na torcida do Grêmio, em pleno Olímpico.

  2. Noll tem em comum algo que é muito… comum a muitos autores mundo afora: monotematimania. Escreveu (e ainda escreverá) seu único livro, sob diversas formas, mas fixado em parâmetros, para ele fundamentais, da desterritorialização, incomunicabilidade, fragmentação, esgarçamento, perda da identidade e tudo aquilo que o tal de Zygmunt trata em suas humanidades líquidas e afins. depois de ler três livros dele, não precisamos de mais nada. O narrador único se apresenta, está fodido ou a ponto de se foder, vai se fodendo e vendo tudo a se foder como ele mesmo, nada pode fazer para mudar nada e, quando tenta, se fode mais ainda e também aos outros, estes últimos ocupados também em foder a si mesmos e aos demais, etc. Vamos por aí na perda do encantamento há muito perdido; qualquer tentativa de retomar a vida e pegá-la pelo rabo esbarra na falência de todas as teorias. Quer saber: tudo o que o Noll faz é foder com os leitores, arrebentando-lhes com os sentidos que eles porventura alimentem, e isso é bom. O ruim é fazer só isso.

    1. Costumo concordar com o Marcos quando o assunto não é jazz…

      Ora, um pouquinho de trama, de variação, é bem legal. Uma nesguinha de conflito que não o habitual já faria uma brutal diferença pró-Noll. Ele é ótimo escritor.

      De resto, o empate do Flamengo calou o país, mas não o Leonardo Moura de belo penteado.

      1. Taí um outro sintoma da mazela do escritor brasileiro: quando o assunto sobre livros começa a ficar bom, aparece um neguinho pra falar sobre futebol!

        Dessa forma não há como desenvolver-se!

  3. Sobre o Paulo Lins, li apenas um conto dele publicado numa edição especial da Caros Amigos sobre literatura marginal, e gostei muito. Milton, a sua tirada sobre os Karamazóv é ótima. Crime e Castigo pode ser lido como uma trama policial muito bem urdida, e nessa linha alguns escritores habilidosos contemporâneos tem partido da premissa “entretenimento” para levar o leitor a uma alta literatura: Orhan Pamuk escreveu dois policiais de primeira, “Meu nome é vermelho” e “O livro negro”, e Bolaño já não disfarça o mote do seu livrão pelo título “Os detetives selvagens”. E Faulkner, com “The intruder in the dust” e “Santuário”, a reversão do policial até torná-lo uma condição necessária para a expressão dos conflitos da modernidade.
    Sobre o comentário do Nunes: mas onde está o escritor menor brasileiro, aquele que pode fazer a diferença numa atuação marginal que efetue a oposição à bostologia? A literatura norte-americana tem esse tipo de escritor aos montes, e precisaram até instituir um rótulo para eles: a contra-cultura. Daí Paul Auster, Charles Bukovski, Vonnegut, William Burrougs, Jack Kerouac; ou os quadrinistas como Allan Moore, Art Spielgerman. Talvez, em contraposição do que o Nunes disse, o que esteja faltando no Brasil seja realmente um mercado para os escritores, bem prostituído e corrupto, para que algum grande talento insurgente possa dizer, à semelhança de Hewmingway, que teve que dormir com as mulheres certas para que elas o ajudassem a sobreviver enquanto escrevia. Nem foi o mercado interno que fez Paulo Coelho, mas o francês.
    Para finalizar (se é que vocês estão lendo essa porra!): Ralph Ellison criticou uma resenha que Bellow escrevera sobre seu livro “O homem invisível”, por este ter esquecido de salientar o “caráter mítico” da obra. Bellow acabou se rendendo, reconhecendo que não era um simples mimo. O que falta na obra por mim lida do Noll é: o “caráter mítico”. Sem este, “Rastros de Verão” é só um ingresso do narrador dentro de si mesmo, e, por mais profícuo que seja com a narrativa, não passa de sons e silêncios de um bom aluno, fica como aquelas sátiras dos Simpsons aos filmes experimentais franceses: closes intermináveis nos personagens, paisagens desérticas, música afônica. Não há transcendência. O leitor treinado_ o único que vai ler essas coisas_ descobre o coelho escondido na cartola, as cordas sob o fundo negro que farão a levitação. O caráter mítico é a obra se impor sobre nacionalidades e cenários facilmente reconhecíveis, é falar de um Brasil sem que se identifique o Brasil esteriotipado, como Borges fazia com sua Argentina às vezes londrina às vezes um farwest onde sempre se encontraria uma faca empunhada nas mãos de um gaúcho pronto pra briga. Daí toda aquela cansativa literatura regionalista, em que mostra justamente e apenas o retrato irretocável de brasileiros que não atraiem interesse algum, brasileiros brasileiros à enésima potência. No “Extinção”(charlles, deixe o bernhard em paz!), o narrador se arrepende de ter visitado as terras de seus autores preferidos: percebe que a Sils-Maria de Nietzsche não tinha nada a ver com os escritos do filósofo, assim como Périgord (valha-me o santo guogal) nada a ver com os escritos de Montaigne, e assim por diante.
    A Istambul do Pamuk é fruto de sua narrativa; o Chile da Bolaño só se insinua em Detetives, passado no México, e se transfigura num país crepuscular e apolítico em Noturno do Chile, em que Bolaño junta a falcoaria com a reeducação de Pinochet num só balaio de gato(e como dá certo!).

    1. Quando você escreve mais de dez linhas, precisamente não quer ser lido, como previamente comentaste, etc.

      Moacyr Scliar é um escritor menor. O atual Rubem Fonseca também. Ainda o Daniel Galera. O Milton Hatoum, que eu saiba, também não é nenhum Shakeaspeare, e que tal Chico Buarque. À parte os mortois, como Caio Fernando Abreu. Entre os males regionalistas, houve Graciliano Ramos. Angústia, por exemplo, é mesmo um livro de brasileiros à enésima potência? Você afirmaria isso? Dos estadunidenses que citaste, só dois: Vonnegut e Auster, embora não goste de nunhum dos dois especialmente. Os demais são lixo. Bellow? Ai, que sono… Por que a mediania de lá (e logo daquele LÁ!) é melhor do que a mediania daqui? Ih…

      Já sei porque escrevi cósmico noutro comentário que fiz: foi para fugir à palavra transcendência. Afinal, Cosmos há, já algo transcendente…

      Certamente o Milton poderá relacionar uns vinte escritores modernos, lidos e publicanos, no Brasil, a merecer ao menos a leitura. Quem sabe, se fizermos um mosaico deles todos, não extrairemos daí um Moisés, não o mítico, mas o do Michelangelo. Se é para ser alto astral, otimista e cheio daquela tão apetecícel ao pequeno-burguês auto-estima, mentir um pouco não custa nada. É só pagar com uns trocadinhos de engano.

      E só para lembrar novamente: nada do acima escrito é destilado de mau humor ou disposição a briguinhas para saber quem é o mais fodão por aqui. São apenas gracejos de quem possuiu, nesses escassos cinco minutos, mais uma daquelas folguinhas instantâneas em meio ao trabalho. E como todo trabalhomaníaco, sempre utilizo o tempo disponível para trabalhar mais um pouco, à guisa de relaxamento…

      Ademais, como diria um escritor menor: Perdão, leitores!

  4. A literatura norte-americana ou a brasileira? Você quer mesmo sustentar esse debate?

    O fodão por aqui???

    Bellow te dá sono?

    Sustentar a qualidade da literatura por medidas como ufanismo nacionalista ou ódio exterior é querer reduzir tudo à técnica perigosa da predestinação. Mais um pouco e terás a velhice instalado numa destas igrejas da prosperidade, falando em línguas ashallaballaya, colocando um copo de água sobre a televisão e rodando como uma enceradeira humana pelo chão na sessão do descarrego.

    Graciliano não enquadro entre os regionalistas. Rosa, também não. A literatura nacional é cria da norte-americana, assim como a hispano-americana toda partiu de faulkner, hemingway (e Joyce e o existencialismo francês), na literatura espanhola do Século de ouro, e dos romancistas ingleses do oitocentos. Scliar se ampara em releituras bíblicas e na influência dos autores judeus americanos: o Bellow Diazepan, Malarmud, Roth, Bashevis Singer. Fonseca é uma cria dos noir americanos, como Chandler, Dashiel Hammett, assim como da violência e non-sense dos romancistas do absurdo, como Pynchon. Milton Hatoum, como bem lei em sua coluna em Entrelivros, tem como influência maior…e não é que é o Faulkner? Pô, interessante!

    Agora uma coisa concordo com você: por que a medianidade daqui tem que ser menor do que a de lá? porque assim querem nossos escritores.

    1. 1) Você quer mesmo sustentar esse debate?

      Resposta: Não; é meramente idiossincrático, por maiores que sejam os pressupostos técnicos que alguém julgue possuir. Não me interessa saber se há literatura melhor aqui ou na esquina, só se existem livros interessantes aqui, na esquina no quarteirão, na Lua ou em Marte, daí não sou defensor do Brasil, pois para mim nenhum país existe de fato, só de direito e por artimanhas dos poderes que os constituíram;

      2) O fodão por aqui???

      Resposta: Ué, não entendeu? Então explicadinho: não escrevo aqui para manter disputas para que os leitores concluam a favor deste ou daquele; escrevo porque tenho algum tempo livre (que, no caso, está acabando), e não me interessa saber quem sabe mais que quem, é outra tolice;

      3) Bellow te dá sono?

      Resposta: Dá.

      4) A literatura nacional é cria da norte-americana, assim como a hispano-americana toda partiu de faulkner.

      Resposta: No sétimo dia, ele viu que estava tudo bom? Ok, mas no oitavo dia eu vi o mundo mas não vi Faulkner. Ele não é para mim nenhum modelo literário; sequer o admiro, e pelo culto que você faz dele (guardou-o até no próprio nome…) menos ainda me interessa. Se encontro alguém com uma disposição fanática para defender determinado gênio, perco as esperanças nele. Por isso gosto, por exemplo, de Mario Benedetti. Se falarem para mim “Mas o Onetti é melhor, e olha que nem saímos do Uruguai”, acedo. É como discutir se claro é melhor que escuro, azul mais bonito que verde, mulheres magras melhores que gordas, ou minha dialética de merda melhor que a dialética de merda de outro;

      5) Assim como etc.

      Resposta: Então a gente deve começar quando o ser humano deixou os grunhidos e forjou fonemas, símbolos para eles, documentos para os símbolos, etc. Discussão estéril;

      No fim, só estou dizendo que a literatura me interessa, mas percorrer seus meandros à caça de influências para mim não importa, pois os elementos captáveis dessas influências são arranjos de palavras, e eles só compõe sentidos no jogo que jogam apostando tudo na busca, mesmo que inútil e fugidia, do conhecimento. Como já disse ao Milton, não sou erudito nem teórico, e toda essa minúcia para mim cheira a tempo perdido em busca de justificativa e delírios senhoriais. Não é minha praia. Vivo no “Rosa Íntima”, recebendo toda esterelidade intelectual e tomando seus dinheirinhos, enquanto os sonhos masturbatórios explodem em ejaculações precoces. Não sou anti-intelectual, mas anti-todo-tipo-de-intelectual que acha que está a inventar o mundo, quando não passam eles de Deleuzes da vida, a fraudar o mundo. Até por isso gosto de literatura, pela incerteza e anti-fanatismo; qualquer literatura de proposições enfáticas é literatura de merda, mas até literatura de merda assim mesmo pode ser literatura. Afinal, a merda é o nosso domínio natural.

  5. Milton, tens um email com o qual possa falar contigo? Cara, procurei aqui e não achei… Se possível, responda pelo meu email. Valeu.

  6. Foram mais que dez linhas mas eu li. Que tal montarmos um blog de repentes de opiniões literárias? Cada um afina sua violinha e empunha uma rima no final de quadrinhas simpáticas. “A literatura norte-americana não me compromete, pois eu gosto mesmo é do Onetti”; e eu, rapidamente, depois do enhã,inhã,enhã-inhã, conserto meu chapéu de palha e devolvo:”Pode me faltar o que comer, mas eu não fico sem meu Faul-kner”, enhã,inhã, enhã-inhã…

    Antes de mais nada, se tu interessas por crítica literária ou não, esse tempo que tu perdes entre o descarregamento de um caminhão e outro (porque, pelo que mencionas da ardilosidade de seu trabalho, dá a entender que trabalhas no mercado municipal) é muito melhor investido do que se estivéssemos comentando o caminho das índias ou o novo modelo da Kia motors. Temo que estou a me tornar um desses beneficiários orgulhosos no estilo dos modelos retratados com dois narizes nos quadros de Picasso, quando tu dedicas a sua arte de tolerância zero sobre mim e minhas opiniões. Mas prefiro muito mais isto, mas muito mais, do que o seu anteriormente mencionado chá das cinco com, “como vai”, tudo bem, eu também, eu também.

    Me julgo_ ou julgo-me_ um intelectual, desde que li as Coferências Reith com o Edward Said, em que ele desmistifica tal termo e o expande a todos os que simplesmente usam o cérebro para viver. E me afirmar para mim mesmo como intelectual, recuso a pouco estima nacional que dá a tal sinônimo uma inacessibilidade quanto ao que só pode existir lá fora. É o tal estigma do “doutor”, que quando comecei a exercer a veterinária me irritava quando assim me chamavam, por saber que era a devida distância que se mantinha entre o “formado” do “apenas mal-escolarizado”. Minha ocupação maior é a leitura, o que minha esposa brinca de como achei tempo para lhe enxertar um filho , ao que eu deponho o livro e devolvo um: será? Com essa globalização, só me falta nascer um pirralho de olhos puxados. Então, tirando um amigo aqui que mal o vejo por suas 60 horas de aula cumpridas, não tenho ninguèm com quem conversar. (Tadinho, você não vê tua enorme responsabilidade com esse intelectual carente?). Ler não é um dos atributos invejáveis hoje em dia. Nunca comi mulheres começando uma cantada sobre o por que o Hans Castorp não deixou aquele asilo na hora certa e foi curtir sua longevidade bem remunerada lá embaixo. Se lei é por puro prazer e uma tentativa de aprimoramento pessoal que nada tem a ver com se estou bem na fita, se assusto com requinte, se tenho todas as proparoxitonas espantosas na ponta da língua.

    Agora: segundo a Rachel, tu não lestes nenhum livro do Faulkner. Como achar Bellow soporífero se tu não lestes Herzog, um romance de frases curtas e de uma velocidade mozartiana? Não tenho “Faulkner” tatuado no bíceps, e nem aquele rostinho de velho maroto desenhado para sempre no calcanhar. É só um endereço de email que tem me dado problemas, “charllesfuckme”? E quem disse que Faulkner é deus foi Sartre, não eu.

    E tu tentastes trazer o Milton para o discurso com a menção do Benedetti e os dez escritores nacionais citáveis. Mas nessa hora, o Milton fica como deus, de fora, sem intervir, só vendo o circo pegar fogo.

    comecei ler aos sete, mas só agora o benedetti, enhã, inhã, enhã-inhã.

    1. Bem que eu gostaria de trabalhar no mercado municipal, ser feirante ou ter uma barraca de frutas e legumes. Me sentiria menos inútil.

      Quanto ao Faulkner, li O Som e a Fúria sem terminá-lo (não faço isso com livros que me chateiam). O monólogo do retardado é um saco, e depois vem as mitologias sulistas com tempero rançoso; quando aparece um carinha citando Nietzsche pensei: acho que pararei por aqui. Dei mais uma chance, fui um pouco mais adiante, relaxei e peguei outro livro.

      Bellow, só um, Hendersen (ou Henderson?) o Rei da Chuva. Quando tinha cerca de 23 anos, acho. Lia no trem (li A Montanha Mágica, já que mencionaste Castorp, no trem), mas me dava sono. Nem me lembro se terminei de ler o tal. Acho que era sobre um tipinho bem estadunidense num outro meio (África?). Depois, embrenhei-me noutros autores e esqueci-o. Tenho melhores lembranças do Mallamud (é esse o nome?), até pela simplicidade de seus personagens e da própria linguagem dos livros.

      Não, não darei uma segunda chance para nenhum dos dois. Tenho uma lista bem grande à frente.

      Benedetti? Milton? Não por ele, por mim mesmo.

      O rame-rame repentista é universal. Não há lugar no mundo onde não haja música semelhante. O literário também.

      Uvas! Alface! Cebolas! Pimentão! Abacaxis! Abacaxis!

  7. Pra você ver: o diabo do Milton me mandou um email indicando a sua réplica anterior, no melhor estilo de provocação de assar-se o porco incendiando a casa toda.

    1. Como é que é? Não entendi. Eu mandei um e-mail? Quando?

      Ontem trabalhei muito. Realmente não li os últimos comentários. Acabo de revisar meus “Itens enviados” e não mandei nada.

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