Literatura é tudo que pode ser lido como literatura. É aquilo que desperta a imaginação do leitor e lhe provoca emoções de índole estética, sentimental, matemática ou lógica. Ou a mera transmissão adequada de conhecimento já é? Há construções textuais absolutamente geniais fora do âmbito dos romances e da poesia. Freud, Marx, Darwin e Euclides da Cunha são tão literatura quanto Kafka, Faulkner, Guimarães Rosa e Carver, apesar de não serem tão ficcionais…
Um belo teorema, em sua elegância, precisão, concisão e amplitude, é literatura para o matemático que pode avaliá-lo esteticamente.
Literatura é a arte que usa a linguagem verbal — verbal?, e o matemático? — como suporte. E, para ser literatura, o livro ou a coisa tem que ser escrita com a intenção de provocar um efeito estético. Paulo Coelho provoca efeito estético ou é pura mistificação? Temo que sim, em algumas pessoas. E mistificação pode ser parte da literatura, sem dúvida. E os livros de vampiros? Eles não estão preocupados com nenhum refinamento de forma ou conteúdo. São literatura? E a Bíblia? Tem estilo, retórica, é ficção e reflete uma cultura. Deve ser literatura, claro.
Literatura é a arte que usa a palavra como matéria-prima. Melhor aqui pois consigo incluir a literatura oral (a primeira que tivemos). Também as artes plásticas, a música e até a dança podem participar da literatura no seu aspecto de transmissão. A literatura engloba tudo, de crônicas do dia-a-dia até a poesia mais diáfana, passando por obras de não-ficção cuja construção textual vai além da simples função informativa. A boa literatura é aquela que transmite adequadamente o que procura transmitir. O raso ou o profundo dependem do leitor.
A literatura é um meio de comunicação, podendo ser poética, ficcional (plurissignificativa, subjetiva, etc.), técnica, especializada…
A literatura, assim como o futebol e a música, é uma das representações do real. Talvez a maior delas. Não, a literatura fica atrás — bem atrás — da música.
E o que não é literatura? O que é mal escrito? E como sabemos que está mal escrito? Ora, quando o texto ou o poema ou “a coisa” não transmitem adequadamente o que procuram transmitir. A transmissão pode ser rarefeita, mas isto não significa que será menos densa. Ops, melhor parar!
Marx é bastante ficcional.
(Literatura) “É aquilo que desperta a imaginação do leitor e lhe provoca emoções de índole estética, sentimental, matemática ou lógica.”
Mas então algo pode ser literatura para uns e não para outros?
Acho que sim, claro. Há pessoas para quem Paul Rabbit…
Gostei mais dessa versão. Deu conta de certas questões que eu ia levantar.
Dessa? Qual?
Você havia publicado um texto parecido com esse. Quando fui comentar, você já o tinha deletado.
É tinha escapado. Cliquei no “Publish” antes de terminar. Isso se efetivamente terminei.
Sorry.
Posso discordar um pouquinho? Literatura não tem que “transmitir intenções”. Acho que a palavra sugere algo racional, o que nem sempre é o caso. O pressuposto básico para que algo seja literário ou não (a qualidade são outros quinhentos, mas se levarmos ao limite o pressuposto, também dá certo) é a criação de um universo através da linguagem que, ainda que tenha relação com o universo “real”, sustenta-se autonomamente. De forma que a verossimilhança é apenas uma questão de coerência interna. Toda construção verbal que prescinde da relação direta com a realidade para ter sentido, é literária, no meu humilde bestunto. É um universo paralelo, que se relaciona com o nosso, obviamente, mas que possui autonomia na sua construção de sentidos. Uma notícia de jornal não se sustenta, por exemplo, assim como um ensaio, ou a linguagem teórica, que falam diretamente da realidade. Acho eu.
Leila, aqui a gente gosta de quem discorda. Veja bem, eu reiniciei algumas vezes minha definição, sempre por tê-la achado ridícula ou insuficiente. Ademais, concordo com teu humilde bestunto inexistente. Sim, as regras internas, a autonomia…
Devia ser proibida a chegada de comentaristas mais capazes do que o articulista!
:¬)))
Beijo e obrigado!
Oi Milton.
Seu post é oportuno, pois dá a oportunidade para tocar num assunto em que tenho pensado: ficção policial é arte?
Num texto desse tipo (usando como modelo a Agatha Christie) a investigação psicológica e as digressões filosóficas são irrelevantes. A obra não “acrescenta” nada ao leitor, não o faz refletir sobre a condição humana. Alguns a considerariam como simples diversão, culturalmente nula.
Eu aponto outro aspecto, que é na verdade o coração da narrativa policial. Todo o livro desse tipo é um engenhoso quebra-cabeça, um conjunto de elementos do universo e da narrativa ficcional que se encaixam num todo que é (se a coisa foi bem escrita) coerente. Toda a história e os personagens são “encheção de lingüiça”, que vão preenchendo as páginas enquanto as peças do quebra-cabeça vão sendo reveladas. O leitor (novamente, se o texto foi bem escrito) pode montar a figura por si mesmo se tiver atenção e engenhosidade suficientes. A solução final, com todas as peças disparatadas se unindo num só quadro coerente, proporciona um prazer estético que talvez só possa ser bem apreciado por quem tiver uma mínima familiaridade com matemática. Criar uma coisa desse tipo exige engenhosidade e trabalho cuidadoso, o que diferencia o texto policial de uma porcaria qualquer. Mas ainda não me decidi se ele pode ser considerado Arte com A maiúsculo ou não.
Cláudio, eu acho que depende.
Não tenho a menor dúvida de que o que Simenon faz é literatura. Maigret é um tremendo personagem, sua mulher idem, os investigados são muitas vezes complexos e surpreendentes. São todos muito bem construídos e, por exemplo, um livro como “Morte na Alta Sociedade” é altamente poético. Não, não fiquei doido.
Boto minha mão no fogo pelo romances policiais de Simenon. Nunca li os de Agatha.
Grande abraço.
Gostei do ponto de vista da Leila: “Toda construção verbal que prescinde da relação direta com a realidade para ter sentido, é literária…”. De fato, a literatura pode inspirar-se na realidade ou até mesmo inspirá-la, mas o “xis” da questão está no verbo “prescindir”. Uma notícia ou um estudo científico necessitam da realidade para corroborar sua existência. A literatura não.
Excelente observação, Rafael. Vou ter de montar uma nova definição a partir dos comentários…
Belo texto. Posso ser chato? Então vamos lá…
“Toda construção verbal que prescinde da relação direta com a realidade para ter sentido, é literária…”
ou religiosa, eu acrescentaria.
“A literatura, assim como o futebol e a música, é uma das representações do real.”
Nem toda a música, eu acho. Uma ópera ou uma missa, sim, mas as Variações Goldberg de Bach, pra mim pelo menos, são inteiramente desconexas da realidade. Se nas artes plásticas o abstrato só apareceu no século XX, na música, ele é a regra, e não a exceção. Não é?
Gostei da síntese…
Podemos observar que existe uma diversidade para explicar o que é literatura…
Existem várias formas de interpretá-la….afinal,isso é literatura!!!
Podemos observar que existe uma diversidade para explicar o que é literatura…
Existem várias formas de interpretá-la….afinal,isso é literatura!!!