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  1. Coloquei meu parecer lá, mas não sei usar aquele sistema de publicação. Vai aqui, com as devidas licenças:

    Taí, também vim no kombão do Milton. Texto primoroso, logo vi que foi escrito de madrugada e com ódio_ dois elementos essenciais para a boa escrita (ódio e solidão: veja Bernhard).

    Porém…(ahhh, um porém!), apesar de ter vibrado com cada palavra sua, retirando do fundo toda aquela tralha de rejeição às cenas citadas, tem uma coisa, ou duas: não pude evitar de sentir o êxtase homicida que a multidão sentia; e acho que, num país hipócrita como o nosso, cheio de Ardis 22, tal comoção da ralé pode ser útil. nessas ocasiões, é inevitável para mim aceitar o tal dito que a voz do povo é a voz de deus.

    não creio que o assassinato dessa menina possa ser mensurado em graus de importância, se foi mais meritório de repulsa que os outros casos mencionados por você. Um assassinato é um assassinato, e se todos eles pudessem levar o povo diante os tribunais, seria ótimo_ mesmo que estivesse lá a ralé pelos motivos usuais que a move de catarse exibicionista, alienação da realidade social pelo ritual do sacrifício da fogueira, etc. o futebol faz isso todas as semanas, com acréscimos de violência e bestialidade muito mais evidentes e com o aval de argumentação da defesa de raça subtraída de absurdos maiores que a eugenia: a raça da camiseta, do bairro, da tradição paterna de, por acasos legitimados, ser grêmio e não inter, etc.

    Hanna Arendt escreveu que a exacerbada corrupção do estágio final do imperialismo inglês na Àfrica determinou seu fracasso, pois, restringida unicamente ao ganho dos ingleses de alta patente, acabou com a política do suborno_ o suborno havia construído a economia colonial, era uma prática aceita que permitia a sobrevivência do povo nos desvãos da burocracia excessiva. ou seja, a promiscuidade profunda gera suas próprias benesses; a velha prostituta, que conhece os minuciosos segredos da profissão, tem o respeito sagrado por parte das outras calejadas trabalhadoras de ofício por ensinar a milenar arte de ser indiferente aos humores dos homens. Baseado nesse exemplo, acho até louvável que algo tenha motivado o povo à rua, é só ter boa vontade e olhar a coisa pelo ângulo inusitado. Há todo um histórico de leis que foram mudadas através da pieguice popular reunida, hermeticamente concentrada em paixões homicidas e em choro para holofotes.

    Sou um cético quanto às mudanças nesse país_ principalmente as da ordem do código penal_, e, dando um voto para a intenção de parte daquelas pessoas reunidas, talvez essa mesma descrença esteja por detrás da festa, das simulações de linchamento vistas no sábado. Eu vou dizer de uma vez: a legista explicou por que um filete de sangue escorreu na direção do joelho para a virilha da Isabela: foi porque, atirada pela janela, já no chão do edifício, a dor que ela sentiu foi tão intensa, que ela contraiu a perna, a erguendo. Isso me causa nojo. Isso me faz, no primeiro, no segundo, no terceiro e quarto pensamentos da desrazão, querer ter uma hora com os assassinos, numa realidade paralela onde tudo pudesse ser jogado no lixo, com extrema compensação.

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