O que torna ruins os livros ruins?

Ora, um monte de coisas, mas acho que o pior de tudo é a construção de um conflito desinteressante, piegas ou cheio de clichês. Ou má construção de um conflito, ignorando a seu potencial. Os clichês incomodam muito, mas quando peguei um livro de Ian Fleming (007), o himalaia de clichês era tão impressionante que era divertido… Parecia Tarantino… Aliás, quando assistimos a um filme do 007, esperamos exatamente o clichê e ai do diretor que não nos satisfizer. Não li Dan Brown, mas o filme feito sobre O Código da Vinci é outro interminável e desagradável desfiar de clichês. A falta de charme e de originalidade é uma merda, mesmo.

Eu adoro os inícios dos romances de Balzac. Quase sempre, eles começam com uma calma e elegante apresentação dos personagens. O texto avança e nos açambarca, pois já traz os conflitos grudados a cada um dos personagens como parasitas. Mas ele escreveu o desagradável A Mulher de 30 Anos, um dos maiores exeplos de ruindade que conheço. Ele estava com pressa ao escrever, tinha dívidas e fez uma desgraça de livro.

Nunca uma capa disse tanto sobre um romance

Tenho certeza de que a identificação de uma má redação é intuitiva. A correção gramatical pode ser chata, o tom pode ser chato, o brilhantismo pode ser chatíssimo, Eu não sei porque alguém tem má redação ou é chata, mas há gente muito capaz que é desinteressante. É uma pena quando um desses escritores descobre um bom tema. Dia desses, li um livro que era um porre. Era de um blogueiro. O cara sabe escrever, mas a construção da novela era (muito) periclitante, até paradoxal, e ainda o acompanhava uma nota final – havia outra, a inicial… – em que o sujeito justificava as mancadas ou, em outras palavras, sua ruindade. Insuperável chatice arrogante, pois há pessoas que apenas usam o romance para chamar a atenção das pessoas para suas existências, independentemente do texto produzido. Sei que escrever é vaidade; sei melhor que escrever bem é a vaidade recebendo a admiração alheia. Um bom mutualismo!

Também há os que têm seus modelos literários e tentam desesperadamente alcançá-los (no caso de autores) ou procurá-los (no caso de críticos). “Infelizmente, alguns dos meus colegas da Universidade julgam tudo pela proximidade a Ulisses, de Joyce, o qual releem anualmente”, li num artigo. Se o Charlles Campos, leitor e comentarista habitual do blog, julgasse tudo sob um filtro – o qual seria certamente imaginado por ele – de Faulkner, eu o chamaria de imbecil para baixo. Seria o mesmo que eu, kafkiano de quatro costados, admirar o austríaco que escreve em um só parágrafo por seus incertos e tênues parentescos com o tcheco. Durante anos a literatura brasileira sofreu do Efeito Clarice. Um monte de gente queria ser Clarice Lispector. Houve grandes epígonos que livraram-se em bom momento da sombra ucraniana – Caio Fernando Abreu, João Gilberto Noll e poucos mais – , mas imitar Clarice… Por quê? E para quê imitar a mais pessoal das escritoras? Ah, e céus, como escreveram porcarias!

(um dia qualquer, continuo)

55 comments / Add your comment below

  1. Engraçado, tenho sempre a esperança de que o autor dvai reverter, no meio ou no final, a ruindade inicial. Tento enfrentar o porre, mas isso é praticamente impossível. Um livro que começa cheio de clichês vai terminar cheio de clichês, como faz o Dan Brown. Mas as vezes o livro engrena depois das 100 primeiras páginas, como um dos melhores livros que li: O nome da Rosa do Umberto Eco. Descobri faz uns 5 anos um autor que é batata: todos os livros dele são bons: Sándor Márai, inclusive sobre Canudos, apesar dele nunca ter pisado em solo brasuca. Dostoievski, Machado, o próprio criador do Maia, o Eça, também não erram nunca. O Noll também é um grande escritor.

  2. Posso colocar lenha na fogueira das vaidades?

    A febre Clarice ainda não parou de todo e ainda tem gente que acha que só o fato de começar o livro por uma vírgula é o ponto alto de uma literatura. Bem, Clarice é Clarice, mas entre metafísicas e metafísicas, fico com Borges. Perto dele, ela é pinto.

    Outro cara cheio de clichês, intencionais ou não, é o Rubem Fonseca. Adoro-o e amei, entre outros, o “Vastas Emoções”. Mas eu praticamente sabia, antes de ler, todos os clichês que iria encontrar.

    Mas ninguém pode sair do armário para falar essas coisas!

  3. É foda…

    Estava fazendo tratamento no CA (Comentaristas Anônimos), para me livrar do vício, e, depois de descumprir a promessa de a partir desta última segunda dar um longo descanço aos leitores deste blog, e ter reiterado o propósito após o episódio tiagon cummings (que me deu uma lavada terapêutica com o seu nãotemetasecrieteupróprioblog), convicto em me calar mesmo que a coçeira da vaidade fale mais alto, eis que você, Milton, sabendo o tamanho preciso da isca, me lança essa torpe e covarde provocação, ainda mais mencionando Faulkner.

    Também acho que a música é a mais superiora das artes; mas, solitária, sem as outras que dependem dela, tornaria-se vazia e perigosa. Se a ânsia humana por indagação tivesse parado nas sonatas para flauta e cravo de Bach (que eu as amo apaixonadamente), esses exercícios de
    floreamento matemático ultra-rápido e densamente compressivo de insinuações espirituais teria se reduzido ao que um cantor sertanejo do naipe do Eduardo Costa a entenderia: uma dura provação de estranha música natalina funesta, desgraçadamente chata (que minha esposa, uma curtidora iconoclasta cujo passatempo preferido é tentar torrar minha inexpugnável paciência, diz ser tema para enterro do papai noel_ ela também adora gritar lá da cozinha, quando ponho pra tocar o solo de trumpete rasgado do Pat Mepheny na canção com o BB King, “Guess Who”: “Sooolta o gato!!!”) . Mas, quando adolescente ainda, tive contato pela primeira vez com uma dessas sonatas, de madrugada, após ter chegado de uma festa emocionalmente frustrante, ouvindo-a como uma premonição pela rádio universitária, como se um flautista realmente tivesse decidido cumprir a antiguissima imagem mais poética do mundo e subiu para o telhado para tocar para a cidade adormecida.

    Daí percebi que não podia mais viver sem aquilo, que aquilo me definia, pela extrema angústia que senti, e pela extrema alegria de saber que zonas extraterrenas assim podiam ser alcançadas, e que tudo pairava abaixo daquele telhado na devida forma irretocável da passagereidade de todas as coisas_ todas as coisas que não fossem aquela intuição espiritual inadmissível e ainda assim (nesse lastro de oxímoros e contradições a absurdos plausíveis que a música consegue provocar) perfeitamente reconfortante. Pois quando ouço Bach, Beethoven, as conflagradoras e impossíveis partes finais de “Pictures at an Exhibition” e “Firebird” (que minha esposa, tocada, me encheu de amor um dia ao, em estado de trégua, ter dito que ambas pareciam a festa de celebração por uma cidade resgatada) tenho uma certeza divina (que é outro assunto e não quero atiçar tendências).

    Há músicas que me fazem fechar os punhos e pensar, absolutamente surpreso e tomado da mais virulenta das vinganças: “Mas nada pode com nós, porra!”. Lembro de Alex Ross escrever que após as complicadas pautas de criação do que estava se tornando a música minimalista norte-americana, gente como Steve Reich e Arvo Part, saíam do academicismo extremado das universidades para aprender com os solos de meia hora de John Coltrane, no Note Blue e outros bares de jam. E meu disco preferido de Coltrane é um gremlin que eu me iludo só eu ter, por tê-lo encontrado no fundo de um sebo escuro, que tem uma versão exorcista ao vivo de 17 minutos de “My Favorite Things” que meu filho de quase um ano adora ouvir quando a coloco no último volume; e que para mim é um mantra que resume uma luta primordial, tanto da humanidade afundada em crônico desespero nas tentativas de se superar, quanto de Coltrane para angariar de deus a evaporação do grande tumor que lhe comia o fígado. (Uma versão que minha esposa disse_desta vez por eu ter-lhe perguntado o que parecia_ ser o lamento apaixonado de um jegue; que eu, veterinário, adorei!)

    E daí que a literatura se coliga à música. Os maiores livros são distúrbios calibrados de música, apanhados organizados de música. Não diria isso que mencionas no post sobre Faulkner, que ele pode ser uma escala determinante de excelência na escrita. E tampouco acho que Bernhard tenha algo a ver com Kafka (se o tal austríaco a que você se refere trata-se do autor de Extinção). Ambos possuem uma qualidade raríssima entre escritores: criaram um universo particular, para poucos, o qual ascende-se bem acima da superfície mundana. São similares em esoterismo alienígena a Bach, porque compactuo de Bellow a crença de que os grandes livros são esotéricos.

    Nas últimas páginas de “Origem”, Bernhard, após narrar todas as angustiosas tentativas de se curar da doença fatal dos pulmões que lhe acometia, recebe a informação de que nada pelo qual passou havia surtido efeito; que teria que trafegar novamente por todos os centros cirúrgicos para corrigir seu pneumotórax, e se internar em todos os asilos nos quais já havia se internado, por longos períodos. Daí ele sai pela porta do hospital em direção ao mundo, para sempre_ ele ressalta: para sempre! Não iria se importar mais…

    No romance “Dezembro Fatal”, de Saul Bellow, o personagem principal, um deão de universidade isolado na Romênia, à espera de que as autoridades revolucionárias liberem o corpo de sua sogra, relembra o que certa vez ouvira num metrô de Londres: “Nada existe por nada ser realmente absurdo para existir”. Era um velho cavalheiro inglês que havia sido ateu a vida toda, e que concluía: “Talvez, então, Deus exista!”

    Grandes escritores, não grandes livros_ talvez! Faulkner disse que se vivessemos quatrocentos anos, Dostoiévski, Cervantes, já teria dito tudo que ele dissera, o tornando obsoleto. Tenho a íntima convicção de que os grandes músicos e escritores sejam perseguidores, que margeiam o limite impossível, sem nunca o adentrarem. A entrada só seria possível num outro grau de evolução, num outro coeficiente perceptivo, num outro merecimento espiritual.

    1. Perguntaram pro Alejo Carpentier — o excelente escritor de O Séculos das Luzes — quem tinha sido sua maior influência.

      Resposta:

      — Goya.

      O notável é que a gente seus livros e é Goya.

      Desculpe , Charlles, mas após escrever “Os maiores livros são distúrbios calibrados de música, apanhados organizados de música.” tua demissão está suspensa por período indefinido.

        1. Milton e Charlles
          Como sempre, aprendi muito com vocês. E desfrutei literatura. Vão escrever bem assim na casa do cachorro!

          Charlles, “tenho a convicção de que os grandes músicos e escritores sejam perseguidores”. Está aí o eco do magnífico conto do Cortázar?

          Sobre a literatura e sua relação com a música: quando era adolescente, li “O Diabo a Quatro” do Ernani Ssó. Talvez tenha sido ali, pela voz do personagem Camilo, que li algo como “este livro é o resultado do fracasso da tentativa de fazer uma máquina de escrever funcionar como um sax ou um piano.”
          Estou citando de cabeça, porque emprestei o livro a um amigo, em 1997. E ele nunca mais devolveu. Sinto a falta do livro até hoje.
          Interessante como cheguei a ele. Eu aluguei a obra em uma locadora de livros (isso mesmo). Depois que li, voltei lá com pilhas de livros ruins que havia em casa e convenci o dono a trocar pelo “O Diabo a Quatro”.
          E não é que um amigo filho da mãe me rouba o livro! Minha vingança veio alguns anos depois, lá pelo ano 2000. E veio torta, porque foi contra um inocente (quem disse que o mundo é justo?): outro amigo, que me emprestou outro livro do Ssó (“O Sempre Lembrado”). Agora é meu, nunca mais o devolvi.

          Enfim, acho que foi em “O Diabo a Quatro” que estava aquela passagem. Se não foi, ao menos esta parte do comentário poderia servir para que o Ssó, que por vezes comenta aqui, o lesse e, eternecido, resolvesse me presentear com um exemplar do livro.
          Eu ficaria imensamente grato.

  4. Charlles e Milton:

    Muito interessante a visão de vocês de acharem a música uma arte superior. Sempre achei inferior à literatura, mesmo com todo o seu poder de mensurar o tempo com espírito e energia (como diria Mann na viagem mágica à montanha) ou sua capacidade palatável, vamos dizer assim. Isso me lembrou até uma entrevista com o Millôr, no Pasquim, onde ele também defende a inferioridade da música – embora não se refira à erudita.

    Mas, mesmo com o barroco ou até com todo o jazz, dos álbuns mais escondidos e incríveis, até as sinfonias mais obscuras, ainda prefiro o poder solitário da literatura. Mas sei que isso também é uma discussão besta. O fato é que achei interessante ver dois intelectuais defendendo o contrário! Vocês podiam falar mais disso.

    Abs

    1. Pedro, trata-se de duas coisas sem as quais não vivo. Se fosse optar por uma das duas, a música ou a literatura, tenderia firmemente para a segunda. A literatura legitima a música. Música, no dizer de um dos alter-egos de Bernhard, é a mais inofensiva das artes (por isso, segundo a mesma fonte, a Áustria havia se deixado levar pelo nacional-socialismo e tinha um povo tão comodamente subjugado). Digo mais: a literatura, em anos sinistros da minha formação, me salvou da deterioração como ser-humano, que ameaçava surgir não como o suicídio (do qual sei-me incapaz), mas talvez como uma solidão que seria quase uma versão passiva da mesma coisa_ uma depressão profunda, talvez! Enquanto a música, julgo que se torna perigosa quando não se desenvolve uma base pessoal de experiência para saber aproveitá-la_ não um conhecimento didático musical, coisa que me falta bastante (sou um leigo desavergonhado e ousado em submeter meu braço raquítico à queda com o anabolizado braço do Milton), mas uma imaginação, um sofrimento investigativo que torna a música intelectualmente assimilável.

      Sobre livros ruins, acho que o estilo não é a coisa mais importante, mas o que Hemingway aludia ser a sinceridade e honestidade do escritor. Como disse o Milton, livros sem o aparte humano, sem a justificativa onisciente, em cada frase, de que o autor necessitava tirar aquilo de si e o doasse ao público, torna-se um calhamaço de pretensões e constrangimento. Estou lendo, finalmente, o cultuado Ardil-22, do Joseph Heller. É um livro cheio de lugares-comuns, de estratagemas forçados para fazer o leitor rir. Pensei em abandoná-lo antes de chegar à página 50, mas persisti. E, ao longo, tornou-se recompensador. Aos poucos se vê que Heller não podia ter feito outra coisa com tanto empenho. E…é de rolar de rir.

      1. Só uma coisa: no caixa eletrônico ontem, pagando o livro da Caminhante, uma psicóloga amiga e tia da minha primeira namorada me chocou com a notícia de que o irmão desta namorada havia se matado no sábado. A ele sempre tinha incomodado estar ocupando lugar com sua irmã de um outro que tivesse um carro bacana e uma fazenda, e gostasse de rodeios. Depois de quatro anos de namoro, ela mesma se solidarizou à causa do irmão, lançando-se à recuperação do atraso atrás do casamento predestinado. Teve dois filhos e o marido a deixou.
        Perguntei à psicóloga se foi drogas que o levou ao tiro na têmpora. “Não, ele era sempre muito sistemático com essas coisas; foi porque suas economias quebraram, perdeu as terras, e estava sem propósito na vida.”

        Hemingway dizia_ o que acredito ter sido sincero_ que trocaria a renda de um milhão de dólares por ano com as vendas de seus livros, para voltar às tardes em que, deitado como um autêntico vagabundo nos leitos dos rios, vivia dentro de “Os Budenbrooks”, de “O Vermelho e o Negro”, de “Longe, e a Muito Tempo”.

        Geralmente, os leitores não se matam.

        1. Tive algumas tristezas nos últimos anos que me fizeram pensa em suicídio, mas nada sério, sou muito “bicho” para me matar. Sou daqueles que tentam sempre erguer-se.

          (Idem para o pênis…)

        2. Charlles, tua análise é perfeita. “Geralmente, os leitores não se matam” já é o título de um bom ensaio!

          Minha experiência com a leitura parece um pouco com a sua – parece é balela, cada um tem a sua complexidade -, mas ela é realmente uma aliada. (Como naquele poema, o último de A Cinza das Horas, em que Bandeira pede a Deus que seja companheiro de sua dor. Literatura me lembra aquilo, embora em outro contexto, é claro).

          Da música tenho um conhecimento que me equilibraria numa queda de braço, tanto teoricamente como praticamente, já que sou um instrumentista – medíocre, mas um instrumentista – mas, comigo, a literatura tem um peso maior, por ser, em certa maneira, uma forma mais direta do homem proclamar sua existência enquanto ser pensante. É difícil teorizar isso em palavras… Mas, como no conto de Borges, o que o homem consegue fazer com menos de 30 letras de um alfabeto é incrível. Funda-se civilizações com isso. A música, sozinha, não tem esse poder.

          Mas aí já estamos fugindo da literatura…

          Bah, é tão difícil explicar gostos! O fato é que amamos as duas formas de arte e isso é o que importa.

          Milton: também adoro o RF!

      2. Charles,
        também não vivo sem música e literatura. A diferença é que leio qualquer porcaria. Em música sou bem mais exigente. Há explicação para isto?

        Milton, roubaste meus pensamentos sobre o Concerto de Tchaikowsky. Exatamente isto. E de novo o fizeste no 007. De vez em quando quero ver um filme ruim e o James Bond é um dos melhores.
        Aliás, Umberto Eco tem um ensaio em que ele comenta que Casablanca é tão chio de clichês que se torna um filme interessante.

        Pedro, sobre teu comentário. Não sei não, como instrumentista conheces o sistema musical , um alfabeto bem mais restrito no seu uso que o escrito e olha o conjunto de variações que existe.

        Abraços
        Branco

        PS. os comentários deste post estão tão bons que sinto-me envergonhado

        1. Branco,
          não sei a porcaria a que se refere em livros, mas li o “Simbolo Perdido”, e (vou falar baixinho para não manchar a reputação que tenho neste blog) os mais de dez livros que li do Stephen King me faz acreditar que o cara vai persistir como uma aberração requisitada no cânone das letras de seu país. Tentei ler Paulo Coelho, certa vez, mas francamente….( o principal milagre do cara definitivamente não é fazer chover!)

          Já música, minha grande conquista foi aprender a não ter preconceitos. GGM tem uma crônica belíssima (por onde anda o Farinati?), no volume cinco de suas crônicas, onde fala de seu enorme ecletismo musical. Cita Bartók, seu preferido, e diz que na música há três Bs: Beethoven, Bach e Beatles. E conclui que teria preferido que a academia sueca lhe tivesse concedido o nobel com a música valenata de sua Colômbia de fundo.

          Fui cabeludo na adolescência, tinha uma banda cover do Jethro Tull (era o Ian!), e até hoje escuto Sex Pistols intercalado à Sexta do Beethoven; amo Philip Glass (que o Milton despreza); amo Joni Mitchel, Loreena McKenit, Marie Brennan, Van deer graaf generator, Caetano, Tião Carrero, win mertens. Tenho um MP3 com mais de cem versões diferentes de Guantanamera (inclusive as minhas duas preferidas, com Juan Baez e Julio Iglesias).

    2. As divagações sobre o tempo na Montanha Mágica são esplêndidas, né? Mas a única Montanha Mágica que vejo diariamente é a de livros no meu criado mudo. Cresce todo dia. Tiempo es olvido y memoria. (E chute.)

        1. Settembrini me vem na cabeça como um Hercule Poirot (ou o ator que o interpretou no filme “Assassinato no Nilo”). Já o professor Naphta, ficou representado na minha mente como uma das fotos do escritor grego Nikos Kazantzakis. Aliás, Pedro, que dois personagens fabulosos! E Mynheer Peeperkorn, uma antítese sensual! E a cena em que Mynheer propõe que Castorp beije a testa da madame Chauchat, e esse recusa polidamente; e no leito de morte do holandês, numa das passagens mais belas, os dois cumprem o pedido. Uma das maiores obras da literatura!

  5. Milton, li as postagen sobre a Geisy, hehe , acabei lembrando do nome dela, mas não lembro se é assim que se escreve. Concordo com tuas análises, deram ao caso uma dimensão absurda, hipócrita, enfim, idiota, bem coisa de bbb. Mas o Brasil não tem jeito, não adianta, sou muito pessimista, só o que nos resta é ouvir, por exemplo, um Brahms.

    Gostei também deste texto, uma ótima reflexão literária. Ainda bem que os grandes escritores não estão nem aí para os seus “filtradores”. Respeito a Lispector, mas nunca apreciei muito seu estilo. Toda análise literária, no sentido de avaliar o valor de uma obra, sempre será, ao menos parcialmente, falha, pois não há como fugir ao subjetivismo. Quem pode dar a certeza de que tal obra é boa ou ruim? Aliás, com toda arte é assim. Lembras que diziam que Brahms era retrógrado? E que Bach estava ultrapassado? E que queriam “corrigir” as sinfonias de Bruckner? Então, aqueles que pretendem julgar tal obra através de seu limitado e subjetivo crivo, no fundo, não sabem o que fazem.
    Abraços!

    1. É verdade. Todos compositores anacrônicos…

      Mas vamos à Clarice. Eu, tu e Marcelo Backes. O trio de não adoradores de Clarice. Gosto de Água Viva, Laços de Família e A Hora da Estrela, mas sem alto entusiasmo. O resto… Tentei começar 20 vezes a “obra-prima adolescente” A Maçã no Escuro.

      Não deu. E olha que sou um menino esforçado.

      1. Posso me incluir nesse time? Também não vejo nada de tão grandioso nela. É boa. A Paixão Segundo G.H. é interessante (a proposta, narrativa e estética). A Hora da Estrela marca também, assim como Laços. A Clarice cronista também é bacana. Mas nada que mereça o altar das estantes. Pelo menos na minha, ressalto.

        Ô Milton e Charlles, gostam do Graciliano? Confesso que ainda não procurei no blog, mas, por acaso, falaram dele? Reli toda a obra há pouco tempo e, dos meus parcos 23 anos, tomei um certo choque de estilo. Há muita festa por Vidas Secas, mas o livro me comove mais por Baleia. Narrativamente, prefiro Angústia, cuja ideia perfeitamente casa-se com a forma, como acontece também em S. Bernardo. (A Angústia do Tchekov também). Mas de indispensável indispensável mesmo é Memórias do Cárcere. Mas talvez seja minha veia de apenas um rapaz latino-americano.

        Olha, vocês são uma salvação nesse mundo virtual, viu?

  6. Charlles,

    Interessante tuas visões das personagens! Confesso que, além do Gable, o Dr. Behrens me lembrou uma foto do Konstantinos Kaváfis. Mas a coisa foi ficando cinematográfica demais e aí eu parei de tentar achar paralelos (rs). Mas a Montanha Mágica é um dos meus livros prediletos. De certa forma (de certa forma mesmo, pois não estou comparando), para mim, lembra algo de Grande Sertão: Veredas, pois em cada passagem há uma reflexão sobre alguma coisa. Mas Mann era um monstro e estou louco para conseguir o filme (já viu?).

    Gostas do Carpeaux?

    1. Pedro,

      hahaha! Quando leio, realmente não me vem na cabeça ligar personagens a atores; sigo a descrição exata, ou a falta dela, por parte do autor.

      Já disse antes aqui sobre minhas inúmeras deficiências como leitor, que pretendo sempre corrigir: não li Moby Dick, Jane Austen, Marcel Proust, ainda. Me ocupei esse tempo todo com os russos, a Europa Central, os norte americanos e os hispano-americanos. Inclua aí o Carpeaux, que não li.

      Meu conhecimento da literatura brasileira é compulsória. Escola e vestibular. Como sempre fui um péssimo aluno, mas bom estudante, os autores nacionais ficaram condicionados ao trauma. Do Graciliano, também gosto da Baleia. Só.

      Tem um filme da Montanha Mágica? Deve ser curioso ver o fracasso do diretor. Tem um filme sobre Ulisses, do Joyce, também. É como um ator se prestar a fazer o papel do chicote na boca do leão.

      1. Charlles,

        Do que citaste, indicaria-te (aliás, imploraria-te) para ler Proust. Em Busca do Tempo Perdido é uma viagem tão grandiosa quanto o Mann. A abertura do romance, então, é um clássico. Só tenho vontade de estar dentro do Quarto de Arles, de Van Gogh, lendo aquilo.

        O Carpeaux foi o nosso maior crítico – aqui sou passional até a morte! Além disso, a História da Literatura Ocidental que ele fez ainda hoje causa inveja em muitos países.

        Eu também passei por isso com a literatura brasileira, mas, graças a Deus, depois da universidade, mais maduro, pude ler os autores com um olhar mais realista. Entendi, como ninguém, o que Lêdo Ivo disse de termos uma narrativa paisagística. Tirante algumas coisas de Machado, Euclides e até do Humberto de Campos, antes do modernismo só tínhamos escritores que pareciam mais preocupados em descrever paisagens do que as confusões do espírito. Mesmo com a influência (atrasada) do naturalismo e etc, é algo muito ruim… Mas, enfim. O fato é que, dentro disso tudo, pude ver o quanto sou fascinado por Graciliano e Rosa, para citar dois dos que são empurrados na nossa garganta enquanto colegiais, sem preparo algum. Só te digo que Memórias do Cárcere, do Graça, é meu livro de cabeceira. Tanto pela história – que é incrível também – tanto pela forma que ele a contou. Podem citar quem quiser, mas, para mim, nenhuma narrativa (nenhuma linguagem, pronto, disse) dentro da mátria portuguesa é tão perfeita quanto àquela. AQUILO é a definição viva do que é estilo, essa palavra que parece vaga muitas vezes. Se eu pudesse escolher uma linguagem para ter, gostaria de ter a que Graciliano escreveu aquelas memórias.

        Dos filmes: também acho ridícula as adaptações. (Aliás, o Rubem Fonseca escreveu muito bem sobre isso no link que mando no final do comentário). Mas, mesmo assim, sou sádico: tenho curiosidade em ver como leram cinematograficamente a coisa. (Por isso odeio ver filme depois do livro, sempre leio antes, pois sei sempre que é inferior).

        O link: http://portalliteral.terra.com.br/rubem_fonseca/ladob/pensamentos-imperfeitos-cinema-e-literatura

        Abs!

        1. Caro Pedro, anotei bem suas palavras.

          Sobre Proust, ontem mesmo estava na Saraiva de Goïânia, ‘a procura do primeiro voume de Em busca do tempo perdido, mas estava em falta. Vou encomendá-lo pelo site, que já há tempos desejo ler.

          Comprei foi De amor e trévas, do Amós Óz.

  7. Será que os “leitores não se matam” porque nossa cultura é estritamente ligada à linguagem? Talvez a música nos pareça menos impactante porque somos terrivelmente verbais, dissociados dos nossos corpos e nossos sentimentos. Na Idade Média, há inúmeros relatos de pessoas que diziam que iam morrer dali há 1 semana ou 1 dia e simplesmente morriam (O homem diante da morte – Phillipe Ariès). Sugestão, conhecimento, intuição? Acho que por serem menos verbais os homens de antigamente acessavam mais até seus processos fisiológicos. Hoje, pra saber se estamos doentes ou não é necessário que alguém nos examine e nos informe.

    Outra coisa que me faz pensar nisso é a maneira como nossos índios era sensíveis a música e a rituais. Os relatos dos jesuítas diziam que eles passavam horas absortos, compunham e se expressavam lindamente cantando ou tocando. É muito difícil encontrar sensibilidade semelhante hoje em dia em pessoas que não tenham alguma relação mais profunda com a música, seja pela criação ou por tocar algum instrumento. E essas pessoas lêem sobre música, o que nos leva a suspeitar que sua forma de usufruí-la também seja mais verbal. Basta ver o que faz sucesso, basta ver a quantidade de ruído que toleramos – nossa sociedade é burra auditivamente.

    Não estou dizendo que a música poderia evitar que um ouvinte se mate, caso ele seja sensível. Apenas “intuo”. O que eu acho é que a literatura nos parece superior apenas porque nosso processo de conhecimento é todo verbal.

    1. Caminhante,
      eu não consigo dissociar o pensamento do verbo.

      Quanto à sensibilidade dos índios recomento um post que descreve o tipo de ouvinte musical, do bloqueiro Milton Ribeiro (conheces?).
      Para mim os índios tinha um comportamento musica de grau I (não lembro ao certo a classificação).
      Branco

      1. Nem eu. Mesmo porque eu não falei em ausência de linguagem e sim do uso dela como fonte privilegiada de conhecimento.

        Quanto à classificação dos comportamentos musicais, como procuro o post?

        1. Walter do Inter?
          Milton, podes socorrer a Caminhante?
          Pô faço uma referência a ti no teu post e não ajudas. É aquele sobr os tipo de ouvintes musicais.
          Abraços
          Branco

  8. Mas é bom ser entusiasta da arte. O ruim é parecer piegas. Quando defendo ambos os lados, por eles existirem, lembro sempre da cena contada por Maiakovski, do colete. O poeta ficou tocando ao ver Górki chorar em seu colo, emocionado por um poema, até perceber que Górki chorava no colete de todo o mundo… Hahahahaha.

  9. Tenho que dizer: obrigada pelo post e mais ainda pelos comentários!
    Sério… fiquei inibida com os comentários acima. Mas quero registrar aqui que não coloco literatura à frente da música (vice-versa). Ambas me acudiram no início de minha adolescência; numa época em que o suicídio rondava minha mente.
    Sou eclética e tenho o defeito de, mesmo que o livro ou música – exceto funk com letras chulas -, tenha um início ruim, chato ou cheio de clichês, ir até o fim.
    Tenho muitos discos de vinil que ainda escuto e adoro, entre eles uma coleção da MPB que saiu como um livreto: Tom Jobim, Hermeto, Caetano, Gil, Jorge Ben, Chiquinha Gonzaga e muitos outros. Creio que tenho todos os discos de vinil do Chico Buarque… e o que são aquelas capas!!!!
    Quando fiz minha primeira carteirinha da biblioteca municipal tive a sensação de ter tirado um passaporte – detalhe: tenho 40 anos e ainda não tenho um passaporte -. Lia e via o mundo através das palavras alemãs, americanas, portuguesas, espanholas, brasileiras…
    Tem um acontecimento que me intriga até hoje: a maneira que conheci a obra de Stephen King. Em 1987 sentada no portão de casa conversando com um amigo sobre uma experiência: eu, uns 5 anos de idade, estava brincando de esconde-esconde com meus irmãos nos fundos de um posto de saúde; quando chegou minha vez de procurar meus irmãos deparei com uma figura de palhaço (do tipo bobo da corte) com muitos balões de gás nas mãos. Fiquei com muito medo (eu sempre tive medo de tudo 🙂 ) corri para minha mãe e contei a ela. Ela foi comigo atrás da casa e não encontramos nada. Quando meu amigo ouviu essa história ficou todo arrepiado e disse que tinha acabado de ler A Coisa e me emprestou o livro. Depois que devorei o livro passei uns dois meses com medo de ficar sozinha hehehe
    Ontem terminei de ler O caso Morel de Rubem Fonseca… adorei!

    Forte abraço, a todos!

    1. Ro, me lembro de It, ou A Coisa, do king. Fazia o segundo ano colegial, economizei dois meses de lanche para comprar os dois volumes que somavam mais de mil páginas, editados pela Nova Fronteira, e a primeira semana de leitura foi em pracas secretas (estou na casa de mamãe, e não sei onde diabos fica o ce cedilha deste computador), cabulando as aulas. Tem uma parte estranha do livro, em que King nos faz acreditar ser perfeitamente normal que a turma de garotos assombrada pelo palhaco, composta de uma cambada de garotos e uma menina, facam sexo escondidos numa tubulacão de esgoto subterrânea. Todos os meninos possuem a garota, se lembra?

      Não leio mais King. Tenho receio de o achar indigerível, após tantos anos de admiracao_ embora Quatros Estacões seja uma obra íntegra, sem apelacões fantasmagóricas, com quatro novelas invejáveis. Nick Norby disse que perdemos muitas coisas com a maturidade e sua exigência incontornável de deixarmos o gosto leviano da adolescência para trás_ ele cita o quanto os anos o fizeram perder o apreco a Rats Salad, do Black Sabbath, e Heartbreak, do Led Zep.

      Mas King é um escritor inteligentíssimo, acima da média usual dos fabricantes de bestsellers.

      Abracos

      1. Charlles… li os dois volumes também no colegial sem precisar cabular aula, pois estudava a noite e tinha a tarde inteira livre para prender-me a leitura. Não reli e depois de tantos anos lembro de uma passagem ou outra; não li ainda Quatro Estações. King é mesmo inteligentíssimo: ao ser perguntado sobre um novo livro disse: ‘Já matei árvores demais no mundo…’ 🙂
        Quando releio uma obra, como fiz com Cem Anos de Solidão: 3X; Grande Sertão Veredas: 2X … Nunca o faço julgando o autor, mas querendo ter a percepção das modificações que o tempo fez em mim.
        Forte abraço!

  10. Charlles,

    Adorei o teu “leitores não se matam”.

    Mas, depois, lembrei dos “Sofrimentos do Jovem Werther” e tantas vidas de jovens ultra-românticos ceifadas…

    De uma maneira ou de outra, continuo concordando contigo. Músicas, filmes e livros já me salvaram a vida algumas vezes.

    1. Dois suicídios emblemáticos, Drex: o de Hemingway e de alguns leitores de werther. Não se mataram por não tolerarem a vida, mas, no primeiro caso, por não poder tê-la mais ( o velho Hemingway cujo esgotamento físico refletia-se em sua arte), e, no segundo, por procurar tê-la na medida hipervalorizada das paixões impossíveis cujo único tributo aceito é o da própria vida.

      Se tem uma mulher que mereceria meu suicídio romântico, mais que Charlotte, seria a viúva do filme verão de 42. Jennifer O’Neill ainda é para mim a mais suave e desprotegida das músicas_ e aquela cena redentora em que o adolescente apaixonado recebe, finalmente, a sua tristíssima aquiescência, é o inverso da entrega sexual: dez minutos de silêncio tão devastador, que mesmo o belíssimo tema de Michel Legrand não consegue superar.

  11. Charlles,

    Eis um escritor que preciso conhecer mais: Amós Oz. Só li A Caixa-Preta, mas tive que interromper. (Quase comprei aquele Rimas da Vida e da Morte, mas acabei optando por Cortázar na época). A lista de compras está grande! Mas, de toda a forma, poderia dar suas impressões, indicações, vale a pena comprar, se aprofundar, etc?

    1. Pedro,

      Gosto muito dos escritores judeus. Eles contam em uma classe de criadores tão variada, que pode-se achar desde os dissidentes ( Philip Roth e Saul Bellow), os cosmopolizados que usam a tradição numa espécie de mixórdia com a contracultura norte-americana (Michael Chabon), os retrógrados radicais (Isaac Bashevis Singer: maravilhoso; inventou um realismo mágico de gueto, onde a condição humana divide espaço com demônios, predestinações e vida após a morte), os humoristas (Sholem Ash, o maior humorista do mundo); e, do outro lado, a ensaísta política Hannah Arendt, imprescindível para todo amante das letras, principalmente pelo caráter musical da sua escrita_ que já levou alguns críticos a citá-la como poeta.

      Amós Óz só o conheço por alguns ensaios sobre a questão palestina (éé!), lido em algumas revistas. É um cara polêmico, na linha de Edward Said, que não aceita as soluções raciais impostas por Israel para dividir aquele território. De amor e trevas é sua biografia, e já nas primeiras páginas senti que vou gostar. Interessei-me por ele através de uma reportagem especial da revista Entrelivros, em que Óz conta um episódio de sua infância, que é mais ou menos assim (não me lembro dos nomes das autoridades envolvidas):

      estava grande parte do pessoal dos kibutz reunida num auditório para ouvir a manifestação de um dos líderes israelitas, que iria se manifestar com o por que os Estados Unidos estavam ajudando financeiramente a Palestina e não estavam ajudando Israel. Ali sentado ao lado do garoto Óz, antigos patriarcas, rostos sérios sob os veneráveis solidéis, atentos às palavras do representante da nação judaica.

      Falava-se em iídiche, como deveria de ser, e o termo que o indignado palestrante usava para “ajuda” (queremos que os Estados Unidos nos ajudem também!), era uma palavra obsoleta, muito antiga e só compreendida em seu viés dúbio, pelos mais velhos e pelo já culto Óz, que além de significar “ajuda”, significava também “foder”.

      Eis que está lá, seríssimo, o lider da nação esbravejando diante o auditório lotado: Por que os Estados Unidos só fodem os palestinos? Queremos que os Estados Unidos nos fodam também! Nós merecemos sermos fodidos pelos Estados Unidos, em igual ou maior medida que os palestinos. Nós exigiremos firmemente, de agora em diante, que os Estados Unidos se dignem em nos foder também.

      O menino Óz olha para o lado, não acreditando naquilo, que todos estejam tão sérios e na concordância. Sem conseguir se segurar, ele cai num riso descontrolado que interrompe a audiência; é retirado pelo avô do salão e é repreendido duramente.

      O palestino Edward Said também é imprescindível, Pedro. Tenho tudo dele aqui em casa. É um formador de uma visão de caráter e humanitária que transforma o leitor. Se ainda não o leu, recomendo que comece com Representações do intelectual, que são as conferências Reith do ano de 1993, em que ele fala para os ouvintes da BBC sobre a importância do intelectual falar a verdade ao poder,e não se filiar a nenhum campo de ofício. Depois, leia Reflexões sobre o exílio, com ensaios brilhantes sobre literatura e música. Todos lançados pela cia das letras_ com o Cultura e imperialismo esgotado ( a cia das letras tem essa irritante mania de não relançar de imediato livros importantes esgotados: comprei o acima citado e Extinção por preços aviltantes, justo por estarem esgotados_ e, por mais que procure, não acho a ambição de dez anos de caça aos sebos, o romance “O teatro de sabbath”, do Roth, que é o único dele que não li e que falta na minha coleção).

      1. …mas, leia Bellow, o maior escritor da lingua inglesa dos últimos 40 anos. Comece com As Aventuras de Augie Mach, novinho pela cia das letras_ antes que se esgote!

        1. Charlles,

          Muito obrigado! Você me salvou de uma ignorância extremada, não apenas na literatura realizada fora das potências europeias, como, principalmente, da literatura atual. Faz tempo que fiquei meio resistente a tentar me instruir em literatura contemporânea, simplesmente por ter tantos clássicos para ler. Sofria daquele jeito do Drummond que, perguntado uma vez porque não conhecia tanto os autores novos, respondia: “Mas ainda estou nos gregos!”.

          É claro que era um piada; sempre estamos lendo autores de nossa época. O caso é que nunca dei ênfase, posto que nem me sinto ainda inteiramente a par de todo o nosso legado ocidental.

          Mas vai ser um prazer procurar esses livros e arejar a cabeça. Estou terminando a segunda leitura da Montanha Mágica e verei estes autores em seguida.

          (O engraçado da Montanha é que, há pouco, estive às voltas com as memórias do Bandeira novamente e ele fala muito do período em que passou em Cladavel, perto de Davos Platz, onde estava sempre indo. Bandeira cruzou com Castorp e não soube! rs).

          Boa segunda para nós!

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