Eu tive um chefe que, quando alguém cometia uma mancada por ingenuidade, dizia:
— Falta bordel naquele corpo.
Bem, eu nunca fui a um bordel nem paguei por sexo e era dos que menos cometiam mancadas, mas entendia perfeitamente o que ele queria dizer. Há gente que está tão fora da existência moral comum que não pode medir a extensão daquilo que diz e faz. Há gente que aprendeu tão pouco a respeito do mundo onde vive que é capaz de cometer as maiores agressões sem dar-se conta.
Ontem, o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano (espécie de vice-Papa) — certamente um tolo — , disse que os casos de pedofilia têm mais a ver com o homossexualismo do que com o celibato. Hum… E completou: “”Muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há ligação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros demonstraram, ouvi dizer recentemente, que há uma relação entre homossexualidade e pedofilia“, disse Bertone em entrevista coletiva em Santiago, no Chile, quando perguntado se o fim do celibato ajudaria a reduzir os casos de abuso cometidos por religiosos. “Essa é uma doença que atinge todos os tipos de pessoas, e padres em uma escala menor em termos percentuais”.
Esta não é só uma opinião burra, é mais do que isso. É preconceituosa, é homofóbica. Se não parecesse tanto uma piada, talvez fosse uma grande agressão. Busca agredir The Usual Suspects (Os Costumeiros Suspeitos), aqueles que são os causadores de grande parte dos males da humanidade, os homossexuais, que agora são, no dizer da sumidade Bertone, os verdadeiros pedófilos. A igreja católica odeia os gays, vira e mexe e lá vêm a homofobia. O bom é que os gays não estão nem aí, apenas desprezam a igreja.
E então chegamos ao post de ontem do Rafael Galvão. É só uma frase:
A única coisa que não consegui entender ainda em toda essa confusão católica é por que a Igreja considera mais aceitável que seus padres façam sexo com crianças do que com adultos.
E então chegamos à ilha de Malta, que deverá receber o Papa Ratzo ainda no mês de abril. Vejam abaixo o que fizeram com alguns cartazes promocionais relativos à efeméride… Tsc, tsc, tsc.
A psicóloga e sexóloga portuguesa Marta Crawford recusou, nesta terça-feira, qualquer ligação entre pedofilia e homossexualidade, dizendo não compreender qual o objetivo da Igreja Católica ao tentar estabelecer esta relação. Abaixo as declarações da sexóloga depois de o cardeal Tarcísio Bertone ter dito que a pedofilia era mais culpa da homossexualidade do que do celibato:
«Não vejo qualquer relação entre pedofilia e homossexualidade. A pedofilia não é só relacionada com comportamentos com pessoas do mesmo sexo. Logo aí a relação nem sequer se coloca. Ser pedófilo não significa ter relações com pessoas do mesmo sexo, significa ter relações forçadas com pessoas de outra idade», afirmou Marta Crawford.
«Não sei qual é o objetivo da Igreja ao tentar meter tudo junto. A Igreja quer com isso provar o quê? Não percebo a intenção», questionou ainda.
Para a especialista, é importante sublinhar que a pedofilia é «uma situação clínica diagnosticada», enquanto a homossexualidade «não é uma doença» e «nada tem a ver com situações de abuso sexual sobre outros».
Ainda assim, Marta Crawford rejeita igualmente uma relação entre pedofilia e celibato: «Existem muitos pedófilos que nada têm a ver com a Igreja. Parece-me demais tentar dizer que todos os homens da Igreja sujeitos ao celibato são potenciais pedófilos. Não é a circunstância que fabrica pedófilos, existe uma situação clínica por trás e essa é uma questão mental».
Ultimamente, eu tenho lido Freud, sabem? (Qualquer dia desses, vou dar aulas ao Dr. Cláudio Costa!) Eu acho curioso que o pateta Bertone cite psicólogos e psiquiatras. Na minha opinião, estes são filhos de um dos homens mais honestos intelectualmente que já li e que melhor comprovaram a infantilidade intrínseca da religião. Eu adoriaria presentear o bocó Bertone com O futuro de uma ilusão. Nesta pequena obra, o homem do charutão explica as coisas tão bem que nem vale a pena explicar em detalhes porque os homens de deus não deveriam citar psicanalistas.
Milton, concordo com você: absurdas as declarações do Cardeal Bertone. O que caracteriza a pedofilia, muito bem disse a colega portuguesa, é o prazer (diria, talvez, ‘compulsão’) que alguém pode ter em manter relacionamento “sexualizado” com pessoas menores. (Há questões históricas e antropológicas na formação do conceito e das implicações morais que cercam esta prática, mas não cabe aqui pormenorizá-las. A pederastia entre os gregos, por exemplo, já foi aceita sob certas condições).
A pedofilia se inscreve no conjunto de práticas violentas contra crianças e adolescentes, constituindo-se num abuso. O mais velho e supostamente o mais importante afetivamente para a criança se aproveita dessa condição e subjuga o mais frágil. Mesmo que haja consentimento do menor, ainda assim teremos a violência (vis (latim) = força) moral, psicológica e, às vezes, física. Pode ser praticada por pessoas do sexo masculino e do sexo feminino: tanto homens quanto mulheres podem cometer pedofilia.
Talvez não haja mesmo uma relação causal entre celibato e conduta pedofílica. Sabe-se, por exemplo, que o maior número de violência contra crianças, inclusive pedofilia, ocorre intra muros de uma mesma família. O exemplo mais abundante é o incesto, cometido entre pais e filho(a)s, entre irmãos, entre parentes próximos. São pessoas que gozam de confiança do abusado, o que lhe causará conflitos gravíssimos, medo de denunciar e causar transtorno na estrutura da família, medo de ser acusado de colaborar com o pedófilo, medo de ser desacreditado, medo de ser atacado físicamente, etc. (Esses medos não são em vão, bem o sabemos).
Há consequências danosas para os que sofreram assédio, com intensidade variável dependendo da estrutura psíquica de cada um. Do abuso, decorrem personalidades sociopatas, violentas, tímidas, com dificuldade no relacionamento social e sexual. O pior: grande número de pedófilos e de praticantes de violência contra crianças e adolescentes foram, eles próprios, vítimas do mal que, agora, causam.
Uma desgraça sem tamanho.
Fui provocar o homem… Olha só a aula que ele nos deu.
Grande abraço, Dr. Cláudio!
Cláudio… você está corretíssimo!!!
Sacranagem, como diz o Macaco Simão.
Pura sacragem.
Castrati tutti.
Sacra castragem.
Demorou!!!
Eu não tenho nada a acrescentar ao post e nem a aula do Dr. Claudio. A novidade pra mim foi a frase do teu ex-chefe. Muito boa!
Rafael Galvão sempre imbatível kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Alguns padres podem vir com a desculpa: mas, filhinhos, a carne é fraca!
Resposta: e cu de menino é proteína, filho da puta!
Mas, Milton… por que sempre essa raiva e indignação quando o assunto é religião e, principalmente, padres?
Já que citastes Freud: tu já foi coroinha?
Aliás, uma dúvida que me assaltou na semana passada, assistindo ao Conexão Repórter em que o Cabrine tratava desse assunto, inclusive mostrando cenas de secho entre um venerável senhor de batina com um rapaz bem conduzido nas homilias eclesiásticas da coroinagem_ ambos totalmente despidos de suas paramentas distintivas_: qual a etmologia da palavra “coroinha”? Vem de coroa, auréola, ou outra constituição relativa à forma de anel, rosca ou circunferência? uma possível referência a algo muito usado pelos santos padres cuja contribuição dos abnegados corações aprendizes dos coroinhas conte bastante?
HAHAHAHAHAHAHAHA! (pra tudo)
Fui desmascado. Após anos e anos de abuso sofridos na mão de um Padre de avantajado Vaticano, fiquei assim… bem descontrolado!
“Bem, eu nunca fui a um bordel”
Milton,
Vai dizer que nunca tomou uma cerveja na tia Carmem ou correlatos? Nunca fez uma visitinha a um dos Madrigais? Deus castiga se estiver mentindo.
🙂 🙂
Nunca, verdade!
Eu também nunca fui.
Milton e Ramiro,
Lamento por essa grave lacuna em vossos currículos. Concluo, pois, que vosso aprendizado nas artes da luxúria deu-se pelo método empírico, sem o necessário verniz da prática acadêmica.
🙂 🙂 🙂
PS: Usei “luxúria” em substituição a termo mais explícito, tendo em vista que estamos em ambiente aberto.
então vc não é de confiança. ahahahahahahha
Milton,
este texto do Claudio Costa foi muito importante neste contexto.
Gostaria de adicionar que na Grécia Antiga o pederasta era o menino que servia de “escravo sexual” a um adulto. Havia até regras, por exemplo, não se podia ejacular no rapaz. Detalhe, aceitava-se que um grego adulto fizesse sexo apenas com meninos, jamais meninas.
Eu não acho importante a estatística de pedofilia na igreja, afinal este é um processo onde entra as características da pessoa e, naturalmente o meio. As escolas, catecismos, etc facilitam esta proliferação.
Outro ponto, há alguns anos a igreja proibiu que padres homosexuais (sim, a igreja admite que um padre possa ser homosexual pois, ao ver dela, a definiçaõ está no desejo e não no ato – potência – senão os celibetários~não seriam heterosexuais) ministrassem aula e de nada adiantou.
Ainda, fala-se em pedofilia, mas num caso do padre (lembre meu comentário sobre o Lugo, um pedófilo) a violência existe sempre, afinal o confessionário é um forte instrumento de poder. Imagine o Dr. Cláudio Costa transando com uma paciente. Ele mesmo pode nos mostrar as implicações éticas disto. Talvez o problema seja maior do que se fala.
Por fim, como te disse ontem, para um agnóstico, não entendo como a pinição destes padres abalaria os católicos verdadeiros: Se a Igreja é o representante de Deus na Terra, então Ele vai dar um jeito e ela contunuará forte e Sua representante, se ele não existe, então ningúém necessita da Igreja, para que existir?
Branco
Ah! Em nossa conversa sobre Freud. Sim, ele, como eu, e pelos mesmos motivos era agnóstico. Um pessoa que escolha a ciência, tem como motro o ceticismo e não pode acreditar em nada, não há como. Há alguns que dividem agnósticos em agnósticos teítas e ateístas. Explico (sem ser Freud). Um agnóstico reconhece a impossibilidade de,. por qualquer meio crítico da razão , conhecer a metafícisa, assim pode haver apenas uma questão de apreciação de fé. Era o caso de Freud, ele jamais defenderia a inexistência de Deus, por saber uma causa absurda, mas, no fundo, não acreditava nela (penso). Einstein, por exemplo, seria um agnóstico teísta, também um agnóstico mas preferindo pensar que deu poderia existir. Eu entendo esta classificação, mas daqui a pouco vão inventar agnóstico prototeísta do B. É muita taxonomia pro meu gosto.
Ainda, o agnóstica não apenda não acredita na (in)existência de um deus, mas de toda possibilidade metafísica. Como diria o Fernando Pessoa em um de seus heteronominos “a metafísica é consequencia de estar mal disposto”.
Muito bom, Branco. Conheceste o Cláudio Costa quando ele nos visitou? É o maior dos seres humanos. É pequeno, menor do que eu, mas é o maior.
Pergunto isso porque disseste que ele transa com suas pacientes…
:¬))))
Milton,
vou te processar por esta calúnia.
E sugiro que o Cláudio o faça como co-prejudicado.
Em vez de tentares crias a cizânia, leia o meu texto
Branco
Mexeu com Freud e as fantasias inconscientes afloram…
Eu li.
Maior em que sentido? Viste, por acaso?
Leia novamente: “É pequeno, menor do que eu”.
Culpa do daltonismo.
milton, o celibato não é a questão. muitos abusos sexuais contra crianças são cometidos por homens casados da família do abusado (padrastos, tios, etc). e além do mais, é como disse Nelson Rodrigues: quem trai um celibato de mil anos há de trair um casamento em quinze dias.