E começa o Sul 21

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Desde a semana passada, várias pessoas me perguntam sobre o Sul 21, então vamos lá.

Não sei exatamente bem onde nasceu, sei que fui convidado para uma reunião na Palavraria da qual participaria um grupo de blogueiros mais Alberto Kopittke, que logo depois fundou o Leitura Global. Pensando naquele dia, acho que a ideia inicial não mudou muito. Queríamos um portal com um assunto diário principal e vários blogs agregados. A inspiração óbvia era o Huffington Post e nosso principal problema era o de sempre: dinheiro. Afinal, a gente sempre pensa que não custa nada, mas vá somar tudo — provedor, espaço físico, jornalistas, fotógrafos, equipamentos, segurança contra hackers, etc. Dá bem mais que uma Kombi.

Ontem, durante a festa de lançamento, talvez influenciado pelo toró que caia lá fora e que não atrapalhou, tinha a ribeiriana sensação que costuma nublar meus momentos de alegria. Até quando, até onde vamos? O cenário indica que temos tudo para sobreviver: queda na venda e influência dos jornais, imprensa de qualidade rasante e claramente desonesta e crescimento dos meios alternativos de comunicação. O processo histórico indica que a internet  poderá provocar alterações de hábitos muito maiores do que provocaram o rádio em relação aos jornais (anos 30) e a TV em relação a ambos (segunda metade do século XX). Pergunto a quem pensa que os jornais e a TV estão na mesma posição de antes: o que explica que a Folha vendesse um milhão de exemplares e hoje apenas 300 mil? E cadê a penetração que o Jornal Nacional tinha nos anos 90?

Bem, mas tergiverso citando fatos conhecidos. Um veículo como o Sul 21 precisa de acessos, muitos, que justifiquem a venda de espaços. Não sou um dos financiadores do projeto, o dinheiro não é meu, mas estou preocupado. Minha posição pessoal — a qual, como indica a palavra, vale apenas para mim — é simples: qualquer coisa que não influencie a arejada linha editorial é válida.

E longa vida ao Sul 21!

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15 comments / Add your comment below

  1. Vida longa ao Sul 21, e que se desdobre em Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte, que mais do que nunca precisam também de uma boa arejada.

    Abs

  2. Uma questão básica sobre a imprensa alternativa: sua única fonte de financiamento é um governo que seja mais ou menos afim às suas abordagens; as empresas privadas possuem interesses cristalizados e sempre no espectro conservador da sociedade; por isso, nunca anunciam em nenhum canal de informação que vise o esclarecimento.

    Problema: quando o canal alternativo é mantido por um governo e este é composto por algum segmento do espectro partidário, o costume é zelar pela linha editorial que lhe seja favorável. Não há nenhum governo que trabalhe pelo esclarecimento, pela insubordinação, pela participação cidadã nas decisões políticas. A democracia representativa aprisiona o cidadão, tornando-o refém das máfias partidárias – fora do poder não há salvação.

    A Internet como via informativa é composta por um infinito de canais; filtrá-los é impossível e, se alguém elege o meio como fonte de informação a sério, não fará nada na vida além de percorrer centenas, milhares de páginas diariamente, todas elas contendo, aqui e ali, informação relevante, ou um olhar singular sobre fatos que nos envolvem. Qualquer escolha resultará em perda, em construção de um foco que representará prisão ideológica e descarte de intervenções exógenas.

    Vejo então que, a probabilidade de um empreendimento jornalístico na Internet dar certo, portanto, caminha pelas seguintes vias:

    a) o engajamento do informativo em determinada linha que possua canais de financiamento que agreguem interesses políticos partidários com empresas relacionadas a esses interesses – e isto conduz à igualdade com os demais veículos de informação, perdade de liberdade editorial e fim (ou enorme limitação) de qualquer concepção de esclarecimento;

    b) a formação de uma rede que integre esse empreendimento a uma miríade infinita de blogs e consiga partilhar com eles textos e informações que consiga integrar a todos em interesses comuns não balizados pelo fator econômico, mas pela participação política do cidadão em uma nova forma de fazer política que vise, no longo prazo, destruir a democracia como conhecemos e constituir um novo regime de relações políticas e humanas sem o limite da representação – e isto conduz a uma pulverização incapaz de atar os laços utópicos e lograr a realização do projeto.

    Daí a sensação de impotência que sobrepõe qualquer otimismo quando nos vemos como parte de algo que deveria ser novo, mas cujo fim é reproduzir o velho através de uma linguagem mais descolada, mas incapaz de realizar mais do que o engajamento político-partidário pode fazer em um prazo mais curto, embora com equivalentes graus de frustração.

      1. Pô, num tenho blog não, mas às vezes mando uma coisinha aqui e ali pro da minha esposa. Num gosto de compromisso e não passo de um sabotador da democracia direta, coisa na qual, apesar do texto acima e mais ainda da sua interpretação, num chego a acreditar não, embora talvez resultasse em divertimento (também nalgumas porradas). Mesmo assim, vale a correção: magistral não, né?

  3. RAMIRO CONCEIÇÃO:

    Como não tenho seu e-mail, vai aqui meu agradecimento pelo seu belíssimo livro de poemas. Chegou agora. Você desequilibrou as certezas que o carteiro tem sobre mim escrevendo Faulkner invés de Campos. Também achei um toque de humor cordeal após dois meses de espera, você o enviar por Sedex. Muito carinho da sua parte.

    Abraços.

  4. Putz, Seu Milton,

    Depois de (acho que) mais de mês de expectativa sobre o que seria o Sul 21, e principalmente depois de ler a boa apresentação no teu blog, clicar no link e ver “Por problemas técnicos, estamos fora do ar”, me desculpa dizer, mas é um péééssimo começo.
    Abração.

    1. Assino embaixo no comentário do Rodrigo. Estava realmente curioso para conhecer o Sul 21, tanto que fui até o site no horário solicitado de sua abertura: 9:00 PM. Fui lá e encontrei uma espécie de tarja cinza que bloqueava o acesso ao conteúdo. No dia seguinte fui novamente à página e relatava estar fora ar, permanecendo assim até hoje.

  5. Pior é ninguém falar nada!
    Caramba, custa mandar uma notícula para os Blogs dizendo que o Sul21 está fora do ar por isso por aquilo?
    Não é vergonha dizer que na estréia do Portal a tecnologia deu pau…
    Vergonha é não informar um público que durante semanas foi preparado para o lançamento.
    Quem não comunica se estrumbica, hein!

  6. Confesso que estou um pouquinho decepcionada, porém o meu otimismo me diz que num futuro bem próximo teremos também: Norte 21, Nordeste 21, Sudeste 21, Centro-oeste 21. Desejo ainda que as notícias sejam bem plurais, nada de ficar pautada apenas por uma região. Agora eu pergunto: o que quer dizer 21? É o Século?

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