Elogio (da inteireza)
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Lindo! Copiado e impresso.
Bah, muito bom, Milton!!!
Usarei com a patroa, shudhudhdashu
Elegia (pela metade)
Quando ele me deixou não foi a dela
mas a minha máscara que caiu, disforme
Quando olhei para a imagem refletida nela
vi meu rosto inexpressivo e uniforme
Quando senti medo do tempo que me restaria
lembrei-me do medo de que um dia ela me deixasse
Quando me calei entre o desespero e a euforia
esperei ainda que a voz dela algo me falasse
Quando, por fim, quedei-me diante do perigo
ela, fatal, sorriu com aquele encanto etéreo
e desde então não sei mais por onde sigo
e desde então a observo com meu olhar funéreo
deserto em mágoas, lamento em névoas pardas
Putz, erro logo no primeiro verso; é:
Quando ELA me deixou não foi a dela
Não, não, não, não!
Isso foi um ato falho
com saudade dum catralho!
Ps: Milton, sempre desconfiei que o Marcos fosse um daqueles entendidos da gema. E tal qual diria o sábio bispo Macedo: “contra fatos não há argumentos!”.
Pois é, Ramiro, eu também pensei na teoria do ato falho revelador de uma condição heterodoxa; como faltou coragem para ser gay, eu acabei virando poeta…
Eu também, Marcos…
Catralhos nos mordam!
Como se não bastasse eu ouvir Euridice e lembrar de vocês dois.