Dostoiévski, de novo

Um pedido do Pedro, através de comentário:

Caro Milton, Conhecedor de Dostoiévski como és, dê essa dica para nós, pequenos mortais, que ainda não o leram por inteiro: há algum tradutor melhor que o outro, alguma edição mais nobre, ou tudo dá no mesmo? Gracias!

Pedro, farei de tudo para manter, nas próximas linhas, este falso conhecimento que me atribuis. Na verdade, li todas as obras de Dostô quando era jovem. Nasci em 1957 e devo tê-las lido nos anos 70. Na época, não havia edições saindo e até era complicado encontrar os livros do autor russo. Tanto que, após ler Os Irmãos Karamazov numa edição da Abril Cultural (Imortais da Literatura, Vol. 1) bati muita perna pelos sebos a fim de encontrar os outros livros. Um dia, recebi um telefonena de um sebo, mais exatamente da Livraria Aurora, avisando que tinham recebido a coleção completa das obras de Dostoiévski da José Olympio. Hoje sei que não era NADA COMPLETA, porém era vendida como se fosse e eu acreditei. Supliquei à minha mãe por uma grana, fui lá e arrematei a coisa. Como busquei de ônibus, fiz duas doloridas viagens para buscá-los. Era bonitos, vermelhos, de capa dura, um show.

E eram o que havia de melhor. Imagine: os tradutores eram Rachel de Queiróz, Ledo Ivo, Brito Broca, etc. Todos os livros vnham com esplêndidos prefácios de gente como Otto Maria Carpeaux e Wilson Martins. Posso te dizer que comi e amei aqueles livros, comi-os como se fossem o melhor Dostô possível, mas não eram. O que tinha de bom eram os prefácios…

Lá pelos anos 80, começaram a aparacer novas traduções, totalmente diferentes. A explicação era incrível. As traduções antigas, aquelas da José Olympio, eram feitas a partir de outras traduções, francesas, feitas no início do século XX. Soube que os tradutores franceses da época não eram nada respeitosos e que açucaravam expressões e até criavam algumas frases facilitadoras. Ou seja, eles adaptavam Dostô para o gosto do leitor francês, aparavam as arestas, retiravam espinhos, deixavam-no … beletrista! Caraglio! Comecei a ler exclusivamente as traduções de Boris Schnaiderman para Tchékhov e Dostô (logo vi que eram muito superiores às segunda mão) e, nos anos 90, a abençoada Editora 34 resolveu montar um time de tradutores para retraduzir todo o Dostoiévski. Antes, aqui e ali, já aparecera o verdadeiro Dostô: nos anos 80, Moacir Werneck traduziu O Jogador e O Eterno Marido direto do russo. O resultado foi um autor muito mais direto e sem firulas. Muito melhor, limpo e impactante, certamente. Fiquei desconfiado… Mas acho que a revelação do verdadeiro Dostô veio com Paulo Bezerra na Editora 34. Digo com a maior tranquilidade que quem leu O Idiota e Crime e Castigo nas traduções antigas, leu outros livros. Dizem meus olhos e minha mente que estes romanções só foram verdadeiramente traduzidos há pouco. As novas versões são Dostô, por mais que Brito Broca tenha feito milagres com sua versão francesa.

Então, meu caro Pedro, a solução é comprar a Coleção da 34 ou outras traduções diretas. Acho que posso pôr minha mão no fogo por Moacir Werneck e Paulo Bezerra. Se não faço outras indicações de tradutores é por não ser o especialista que pensas que sou. Mais: creio que a Coleção Dostoiévski da Editora 34 foi realizada com tanto interesse,  respeito e amor por Dostô que eu a colocaria em primeiro lugar.

Completando este texto meio desorganizado, te afirmo que O Idiota só se tornou a obra-prima quase insuperável que é hoje para mim após a leitura da tradução de Bezerra. A tradução da José Olympio tem todos os méritos associados ao pioneirismo e às parcas possibilidades dos anos 50, mas vão me desculpar, os dois Idiotas não têm nada a ver um com outro. Toda a transcedência e o valor altamente filosófico da obra perdeu-se na passagem para o francês ou para o português. Tanto assim, que li O Idiota da 34 como se fosse totalmente inédito.

Dostoiévski não é nada romântico, nada. É um escritor bem mais duro do que fazem crer as antigas traduções. Porém — e agora falo a todos — , se não houver grana e você encontrar uma das antigas traduções que têm reaparecido ainda hoje a preços módicos, compre do mesmo jeito. Um mau Dostô é superior a quase tudo que haverá em torno.

36 comments / Add your comment below

    1. Nem eu. Ainda mais que só li Os Irmãos na versão francesa….

      Mas soube que alguns parágrafos foram retirados de certas edições francesas. Não acrescentavam, entende?

      É que eram outros tempos. Traduzir era qualqur coisa diferente do que é hoje.

    1. Rafael,
      tenho a obra completa em azerbaijano norte, traduzida à época da ex-união soviética.
      Tenho fluência em azerbaijano Sul que é muito semelhante ao azerbaijano norte.
      E, aí, Rafael,
      que tu achas, continuo a minha leitura em azerbaijano norte ou faço um curso de russo?

      1. hahahahaha!

        (Fernando, não estou vendo nervosismo nenhum no Ramiro. Aliás, pelo comportamento zen dele, e se ele largar o mais rápido possível o cigarro, será o único que viverá até os 94 anos.)

  1. Milton,

    Muito obrigado! Eu estava para comprar a edição da Aguilar, mas com muito pé atrás. Agora é que desisto mesmo. Vou procurar as traduções que indicastes.

    Meu receio foi pela experiência que tive com Maiakóvski. Tenho algumas restrições ao vanguardismo exagerado dos irmãos Campos (misturar Roberto Carlos com um dos melhores poemas de Maiakovski foi dose), mas a tradução deles para Maiakovski é primorosa, em comparação com a antiga, feita do francês…

    A dureza de Dostô é desafiadora mesmo. Eu já tinha sentido isso com “Crime e Castigo”, em que você entra em um estado de espírito nunca sentido antes. Confesso que estou louco para ler O Idiota e Os Irmãos Karamazov, mas pretendo mesmo começar do primeiro livro, como fiz com alguns autores. É uma experiência interessante.

    (Repito: aprendi mais sobre Dostô em seu blog do que as dezenas de textos que já li em revistas, sites, etc.).

    Gracias!

  2. Li a edição da Editora 34 de O Idiota. Não gosto do livro. Provavelmente a culpa não é da tradução. O protagonista é fraco. As tramas são melodramáticas. Uma troca de bilhetinhos entre 3 ou 4 personagens é digna dos piores romances franceses. A discussão sobre as contradições de uma alma pura (o príncipe), da puta, do falastrão e entourage extrapolam qualquer medida de psicologia possível (o que é bom) sem nunca ascender além da histerização juvenil (o que é péssimo) e de truques leterários (excessos de coincidências) de péssimo gosto, além de um péssimo panorama da Rússia, em muito inferior aos demais livros do mesmo autor (desde Recordações da Casa dos Mortos até Os Demônios ou os Possessos – qual é mesmo o título da última tradução?). Morrerei sem entender porque as pessoas amam O Idiota. Eu prefiro Crime e Castigo e até mesmo o dos irmãos que sintetizam (novamente) as contradições da alma russa – ao lado do papaizinho deles (as bestas e os ternos Karamazóv). Ou melhor, eu não prefiro estes em detrimento daquele: O Idiota é um livro ruim, e ponto.

    Se as novas traduções são mesmo melhores que as outras, não sei, por uma razão simples: nada sei de russo, de francês, etc. De português pouco: o bastante para ler e não entender nada (como se pode pensar, ás vezes eu mesmo penso).

  3. “Li Os Demônios, de Dostoievski_ um livro instigante e radical eu nunca tinha lido antes na vida, assim como nunca tinha lido um livro tão grosso: anestesie-me, dissolvi-me por algum tempo nos Demônios. Quando voltei, não quis ler mais nada por algum tempo, porque tinha certeza que mergulharia em enorme decepção, num terrível abismo. Recusei-me durante semanas a qualquer leitura. A enormidade dos Demônios me fortalecera, mostrara um caminho, me dissera que eu estava no caminho certo: para fora. Tinha sido afetado por uma literatura selvagem e grande, e dela emergi eu próprio como herói. Poucas vezes na minha vida posterior a literatura voltou a ter efeito tão gigantesco sobre mim. (…) Encontrara nos Demônios a correspondência. Procurei por outros gigantes de mesmo calibre na biblioteca do sanatório, mas não havia mais nenhum. É ocioso enumerar aqui os autores cujos livros abri e fechei em seguida, porque só podiam me repugnar com sua insignificância e falta de valor. Fora Os Demônios,a literatura não era nada para mim, mas pensei comigo que certamente haveria outros Demônios como aquele. A questão é que não deveria procurar por eles na biblioteca do sanatório, repleta de obras de mau gosto e de estupidez, da catolicismo e nacional-socialismo. Mas como chegar a outros Demônios? Não havia outro jeito senão partir de Grafenhof tão logo quanto possível, para procurar em liberdade por meus Demônios”

    ( Thomas Bernhard, Origem, p.495-6, Companhia das Letras)

    1. Os Demônios, assim como O Idiota, Crime e Castigo e Os Mano Karamazov estão no ápice, não?

      Não vou discordar de Bernhard. Aliás, tinha esquecido desta passagem de Origem. Conheci Kirilov quando tinha meus 13-14 anos, ele era A-TER-RA-DOR.

  4. Quero agradecer ao Cassioney Petri (desculpe se escrevo o nome errado), pela dica que me deu sobre o “Teatro de Sabbath”. Defendo a opinião de que, apesar do Brasil ter um dos piores panoramas de leitura, possui um dos melhores mercados editoriais do mundo. “O Teatro” foi realmente relançado em junho passado, coisa que não tem nenhuma informação a respeito no site da Cia das Letras ( e olha que na seção de comentários do livro, há dezenas de pedidos de leitores para o relançamento desse romance do Roth). Só pude obtê-lo, após anos de procura, pela informação do Cassioney, o que me levou a digitar o título da obra na Livraria Cultura e já tê-lo aqui em mãos.

  5. Olhem só, “O Teatro de Sabbath” deve ser o maior romance erótico da história, pois foi só citá-lo o censor do blog não publicou meu comentário.

  6. Não querendo colocar lenha na fogueira, mas já colocando, lembro que, quando li o Doutor Fausto pela primeira vez, achei-o uma merda. (Não acreditava que era o mesmo autor de A Montanha Mágica). Julguei-o inócuo, excessivo em algumas coisas, o diabo. Pouco tempo depois, mais experiente e iniciado, reli-o e achei quase grandioso quanto à própria Montanha.

    (Alguém dissera, há pouco, de estar pronto para um livro ou não).

    Passei por algo parecido com Ana Karênina. Tentei ler (sério) 5 vezes e TODAS elas não me fizeram passar das cem primeiras páginas. Na sexta leitura me perguntei como podia ter achado o livro ruim nas outras cinco tentativas.

    Não sei, só estou desabafando, nem dirijo esta fala para alguém. Sou a favor da existência de um Idiota do que a não existência dele. Lembro-me de uma frase de um conhecido, que já partiu para outros ares, ao me ver, inflexível, em uma opinião que, eu não sabia, mudaria depois: não seja tão canônico.

    É verdade. A vida é flexível. A beleza vem disso. E, como diria Borges, neste mundo, ela é comum.

    Ps: Depois desses acontecimentos, notei que muita raiva que eu tinha a certos livros era antes à áurea construída em torno deles do que eles, propriamente. Mas, como faz tempo não me importo com áureas criadas em torno de ninguém, a não ser na minha própria honestidade de leitura; crendo também em outras honestas, como o Milton, acho mesmo engraçado (sério!) qualquer debate que ataca aquele ou outro clássico. Pelo menos eles trazem o livro à tona!

    1. Isso de não estar pronto para determinado livro acontecia frequentemente comigo, Pedro. A maior batalha que tive foi com “Absalão, Absalão”, que tentei umas dezenas de vezes na adolescência ler, mas nunca passava da página 100. Eu necessitava da confiança de que não havia engodo mercadológico ou acadêmico que INSTITUIA que determinada obra era grande. Precisava acreditar que a relevância de determinados autores fora decretada não por modismos, mas por solitários leitores profissionais de alto nível que de algum modo fizeram subir à superfície e se espalhar para benefício geral a certeza proficiente de suas experiências de leitura. Há uma série de escritores que são realmente canônicos, pode-se não gostar deles, mas não se pode negar a sua grandeza. Cito alguns nomes que determinaram meu modo de ser, minhas crenças, minha felicidade no mundo e minha profunda tristeza paciente em observar pormenores de outro modo inapreensíveis: Ralph Ellison, William Faulkner, Dostoiévski, Joseph Conrad, Tolstoi, Checov, Saul Bellow, Cees Nooteboom, Dickens, Thomas Mann, Thomas Bernhard, Omar Kháyyám, Walt Whitman, Borges, Joyce e Julio Cortazar. Esses, para mim, são os intocáveis_ colocaria, também, o velho e alquebrado Hemingway, como apêndice indicativo de que os grandes estão longe de serem perfeitos. São estes que, de um modo que você deve compreender com o mesmo peso idiossincrático que eu, são meus verdadeiros pais, os que me conservam na linha adstringente de uma fundamental juventude, fundamental por ser o que me mantem fora da pasmaceira geral, numa viril incorruptibilidade e cheio de uma ternura selvagem.

      Um dos livros mais valiosos de minha biblioteca era uma edição portuguesa de Anna Karenina, em dois volumes encadernados com uma capa de couro rosa, e com uma série de desenhos maravilhosos de um artista russo contemporâneo de Tostoi do qual lamentavelmente não me recordo o nome. Anna Karenina foi uma experiência única em minha vida. Quando o li, tive um frescor de renovada crença na humanidade. Se existira alguém como Tolstoi, de alguma forma que não me tocava ainda perceber, era cabível ao menos aceitar a intuição de que algo estava acontecendo acima da banalidade terrena, da brutalidade inerente ao nosso macaco interior. Era como acreditar secretamente que as velhas entidades celestiais ainda se importavam com esse medíocre projeto cancelado que é o homem. Aí então, um amigo de serviço, há três anos, sofre um ataque brutal de uma gangue de marginais na porta de sua casa. Bateram pra valer nele e na esposa, na frente de seu filho de seis anos. Sobreviveram, por sorte, mas o trauma ficou em todos eles. Ele mesmo quase não escapou, ficou internado com politraumatismos durante meses. No romance “Dia de Finados”, do Nooteboom, o personagem principal, Arthur Doane, sofre o mesmo incidente. Na cama do hospital, após voltar do coma, Doane recebe a visita de um amigo. Eles estão na Alemanha, e o ataque foi por uma turma de neo-nazistas. O que esse amigo de Doane faz, ao entrar no quarto de internação, é uma das passagens literárias mais impactantes da minha vida: ele dança! Na frente de Doane, com uma cara seriíssima, o amigo executa por alguns minutos um desajeitado mas soberbo número de dança improvisada. Depois segue um silêncio de entendimento consolador profundo entre os dois. Da mesma forma quis eu consolar meu amigo, que estava numa depressão abissal, e para mostrar o que eu entendia como persistência e fé inquebrantável na tal “leveza do ser”, retirei o troféu da Anna Karenina da estante, fiz uma dedicatória sentimental de que ainda devíamos acreditar na humanidade, e lhe presentiei.

      Há alguns dias venho enfrentando a Quinta Sinfonia do Mahler. Achei-a terrivelmente enfadonha, mas sei que o Mahler é o Mahler. Meu cão, Miles Davis, apreendeu o significado da peça de primeira, exímio apreciador musical que é; deita-se do lado do colchão, no nosso reservado nos fundos da casa, e entra numa viagem sem escalas para uma profunda dimensão de paz. Um Rottweiler que adora música erudita, jazz, rock, que antes que nascesse meu filho todo mundo me advertia de que teria que abrir mão dele por causa de sua ferocidade instintiva, mas que jamais levei a sério tais prognósticos, ou levei o suficiente para agir com carinho redobrado para afrouxá-lo, extirpar brincadeiras que envolviam mordidas e rosnos. De forma que, na cidade pequena onde moro, é uma atração verem através do portão gradeado da frente de casa o pequeno menininho de um ano dando seus passos junto a um animal soberbo da 70 kilos e força mandibular equivalente a de um leão. Duas crianças, afinal de contas!

      1. Comoventes as histórias, Charlles. Você não poderia ter tido um gesto melhor em relação ao amigo. No more words, really.

        E tens razão: Mahler é Mahler. Também tive dificuldades em algumas obras (certos compositores e os estudos da Antiguidade, para mim, foram os mais complicados aprendizados; jazz e literatura, por outro lado, sempre foram relativamente fáceis). À propósito, tenho tido vontade de ler o Steven Pinker (Como a mente funciona), que comprei, pois há tempos vem crescendo, em mim, a certeza de que a mente é uma máquina que, quanto mais alimentada (por arte), mais se expande. Essa suposição vem calcando todo o solo literário em que piso, uma vez que administro com rigor cada universo livresco que habito (e, como você, são muitos!). Isso sem falar na música.

        Creio que, com o tempo, certos valores vão chegando e se firmando, sobretudo para nós, leitores completistas. Sou meio borgeano nesse sentido: cada livro é um mistério. A hora certa de desvendá-lo é que são elas. (Mas sei que ainda não cheguei aos oitenta anos para dar qualquer leitura ruim como definitiva).

        Enfim, eu ia citar aquela passagem de Rilke, nas cartas, sobre o valor da obra de arte só pela sua existência, mas esqueci. Então fiquemos com o Augusto Frederico Schimidt:

        ARS POÉTICA

        Enquanto procuravam conceituar a poesia
        E velavam sua face
        Com palavras perfeitas,
        Enquanto marcavam com sinais agudos
        As fronteiras do domínio poético,
        Enquanto a inteligência perseguia o mistério –
        Veio descendo a tarde
        E uma doçura mortal
        Envolveu a rua e o mundo.
        No céu quase roxo,
        No céu incerto e delicado,
        Asas escuras fugiam
        Do noturno próximo
        E, subitamente, sinos
        Soluçaram.

  7. Acabo de não comprar livros de Dostoièvisli de novo LPM POCKET LANÇOU A COLEÇÃO DE BOLSO TEXTO NA ÍNTEGRA IMAGINE! um completo absurdo uma editora se utilizar de traduções antigas feitas do russo para o inglês( ou francês) e só então para o português.
    Hoje em dia é inadmissível uma tradução que não seja direta! Nesse caso do russo para o português. Não comprarei mais livros dessa editora.
    E direi isso à todos.

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