Saudades da Verbeat que acabará em dezembro deste ano…
Em setembro de 2006, o Miniscente de Luís Carmelo estava publicando uma interessante série de curtas entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida dos entrevistados. Respondi assim as questões propostas.
– O que lhe diz a palavra “blogosfera”?
A blogosfera não é apenas a soma de blogues, mas sobretudo seus links, comentários e leitores, blogueiros ou não. A blogosfera se diferencia por disponibilizar ferramentas de comunicação, através das quais o leitor pode participar ativamente da festa e não somente assisti-la. A palavra blogosfera também me diz de conteúdos que vão do sublime e inteligente ao vulgar e burro. Porém, depois de viver mais de três anos nela, posso dizer que aqui não há mais bobagens do que nas revistas semanais. Estas são imbatíveis no quesito “ruindade” e, aqui, ainda temos a vantagem de poder xingar e ser xingado…
– Seguiu algum acontecimento nacional ou internacional através de blogues?
Sim, poucos, mas importantes. Por exemplo, a melhor cobertura dos eventos relacionados ao furacão Katrina foi realizada pelo blog de Idelber Avelar (Professor de Literatura Latino-americana e Etnomusicologia da Universidade de Tulane, Nova Orleans, que possui o blog O Biscoito Fino e a Massa – http://idelberavelar.com/). Além de informações e fotos da cidade, ele montou uma rede de comunicação para que as pessoas pudessem dizer em que local estavam, etc. Foi uma súbita diáspora e o Idelber conseguiu fazer com que muita gente fosse encontrada e pudesse dizer “Olha, estou vivo, mas quero saber onde estão fulano e sicrano”. Outro evento que acompanho através de blogues é a tentativa de censura de vários deles, realizada pelo truculento ex-presidente – e, pasme!, membro da Academia Brasileira de Letras do Brasil – José Sarney.
– Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Ser visitado e talvez lido semanalmente por 1200 pessoas é certamente, um impacto na vida de qualquer um. Há que se ter atenção para com este fato. Passo duas horas por dia lendo blogues e talvez quatro horas por semana escrevendo o meu. Mas o maior impacto é o de ser reconhecido como blogueiro quando não estou na frente do computador ou saber que há pessoas desconhecidas que estão informadas sobre minha vida. Explico: meu blogue faz explicitamente Improvisações sobre Literatura, Música, Cinema e Qualquer Coisa, principalmente. Neste Qualquer Coisa, entram alguns posts confessionais. Outro fato impactante foi o de ter ido à Europa e ter ficado exclusivamente hospedado na casa de blogueiros que não conhecia pessoalmente. E isto na Espanha e na Itália. Sim, fui sempre muitíssimo bem tratado, fui aonde quis e, puxa, fiz uma enorme economia!
– Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Sem dúvida. Meu blogue fica num condomínio de cujo manifesto chama-se Liberdade de Comunicação e que tem, como membros, pessoas de esquerda — a maioria — , de direita, religiosos, provocadores, ateus, alternativos, etc. De nosso manifesto, trago o seguinte trecho:
Hoje, eu e você somos livres para informar e sermos informados, num fluxo que trafega por meios livres. Mas não vivemos num mundo livre. Liberdade por si só não é suficiente, porque ela não pressupõe naturalmente outro conceito importante: democracia. A mídia tradicional (rádios, TVs, jornais, portais web) está longe de ser proporcional à quantidade de informação produzida, tanto quanto ao número de indivíduos que as recebem. As pontas são infinitamente maiores que os meios existentes. Há um estrangulamento. E quando isso acontece, alguma coisa fica de fora do fluxo. É isso que a mídia tradicional faz: filtrar. Selecionar informações para distribuí-las ao maior número de pessoas possíveis — donde o termo “meios de comunicação de massa”. Poucas informações produzidas são veiculadas, poucos produtores tem poder para comunicar o que querem, e poucas opções temos de receber o que de fato queremos. E se não recebemos, a informação existe? De fato, sim; na prática, não. É o sujeito que grita na sala vazia. Sujeito que talvez tenha coisas relevantes a dizer. Todos nós temos coisas a dizer, sim. Por que não teríamos? No modelo vigente, a mídia escolhe por nós. Ela cerceia a própria liberdade que tanto precisa, em nome de uma efetividade — muitas vezes, manchada pela face comercial que a viabiliza (quando não é a própria razão de existir). Mas eu quero falar. Quero falar o que eu quiser. E falar para quem eu quiser. Para quem quiser me ouvir e que vai poder me achar. Quero ouvir. Ouvir o que eu quiser. E ouvir de quem eu quiser. De quem quiser me falar e que vou poder encontrar. Essa é a verdadeira liberdade e democracia da comunicação. Isso, os meios de massa jamais poderão oferecer, mas a Internet sim: com o blog. Uma ferramenta pessoal, acessível, de baixo custo, sem intermediários, apoiada em uma mídia instantânea e de alcance global. Não apenas o diário virtual, pense de novo: Blog é o suporte tecnológico de uma revolução na exposição de idéias, na distribuição de informação, na democratização da comunicação. Na internet, qualquer sujeito que quiser exercitar sua liberdade de expressão encontra um sujeito exercitando sua liberdade de informação. Isto é liberdade. Isto é democracia. Esse é o direito que deve ser assegurado.
Belas homenagens!
A Verbeat vai acabar? Não sabia não. Não vi nenhum comunicado. Já foi anunciado oficialmente?
Já fui limado de um blog uma vez porque zombei do budismo do autor, aliás um budismo de merda, que concebia o Nirvana como sinônimo de “Felicidade”, quanto a única felicidade do tal Nirvana seria romper coma cadeia do Eterno retorno de vida-morte-renascimento, libertando o espírito para ser-em-si-mesmo sem o mundo, fora dele. Uma bobagem. Disse isso a ele, que ficou ainda mais puto, porque uma pessoa, quando está à procura de um sentido e pensa ter encontrado um, quer reconhecimento (“Eu votarei em Serra”, “Eu também!”, “Vê só, somos duas pessoas inteligentes no meio de um mundo de pascácios”, etc.), rendição incondicional.
Aqui, já enchi muito o saco do Milton. Já enchi muito o saco dos leitores do Milton. Já me enchi o saco. Só que ele ainda está vazio. Parece que furou. Volto para encher mais.