O Questionário de Proust (IV) – Responde Luís Graça

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Publicado em 12 de fevereiro de 2007

Luís Graça tem 44 anos e nasceu em Lisboa. Jornalista de profissão, é atualmente freelance. Freqüentou recentemente um workshop de criação teatral com o dramaturgo José Sanchis Sinistierra, no Teatro Nacional D.Maria II, em Lisboa.

Como obras individuais publicou “A Idade das Trovas” (Editora Universitária, 1999, poesia), “Meia-Dúzia de Maldades”, teatro, Inatel, 2000), “De boas erecções está o Inferno cheio, Polvo, 2004, poesia), “O homem que casou com uma estrela porno e outros contos perversos” (Polvo, 2003), “Neura 2004” (contos, Oficina do Livro, 2004) e “Fado, Futebol de Farpas, uma ventura psicadélica” (edição de autor, 2006, romance).

Começou a publicar no DN-JOVEM, suplemento literário para jovens até 25 anos, criado pelo “Diário de Notícias”. A sua escrita abarca os campos do romance, contos, poesia lírica e satírica, teatro, ensaio.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

A hipocrisia.

Como gostaria de morrer?

Tranqüilamente, durante o sono. A olhar um pôr do sol, como os índios, afirmando: “Está um belo dia para morrer”; de espada na mão, como um viking.

Qual é seu estado mental mais comum?

Actualmente, bastante irritado, com o momento actual do mundo. O termo mais correcto será revoltado. Algumas vezes, deslumbrado com as pequenas pérolas de que desfruto, seja no cinema, no teatro, na televisão, nos livros, nos CD, nos sorrisos das mulheres bonitas, nos afagos dos cães e dos gatos.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Corto Maltese, de Hugo Pratt. Simboliza o romantismo, o herói rebelde e muito humano, recheado de mundo e de vida.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Ter oferecido 40 cravos a 40 mulheres desconhecidas, no dia dos meus 40 anos, partindo de uma florista do Mercado da Ribeira (Cais do Sodré, Lisboa, junto ao Tejo) e acabando à porta de minha casa. E até encontrei uma pessoa que ia para um funeral e pretendia saber onde podia comprar flores. Acabei a dar-lhe os pêsames e ela a dar-me os parabéns.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Não tenho tempo para decidir entre um vasto rol de políticos portugueses e estrangeiros.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

É igualmente difícil decidir. Mas ainda hoje estive no lançamento de mais um livro do alpinista português João Garcia. É um herói. Já perdeu amigos nas escaladas, já arriscou a vida para tentar salvá-los. Continua a subir, sempre a subir. E não deixa de ter os pés na terra. Sempre humilde e disponível.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Um golfinho. Jim Clark. Leif Eriksson.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Nas ocasiões em que uma mentira é mais ética que a verdade.Nas ocasiões em que a verdade é demasiado dolorosa para ser dita. Nas pequenas mentiras do quotidiano, para evitar conflitos, como forma de auto-defesa.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Uma ilha tropical, um pôr-do-sol, um grande livro na mão, a Miss Universo deitada numa rede ao nosso lado, um fabuloso par dançando o tango na linha do horizonte, o tema musical seria “The fool on the hill”, dos Beatles.

Qual é seu maior medo?

O sofrimento físico. A perda das nossas memórias. Tornar-me num homem cada vez mais amargo.

Qual é seu maior ressentimento?

Não sei.

Que talento desejaria ter?

Gostava de ser um maravilhoso pianista de jazz.

Qual é seu passatempo favorito?

Ler.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Muita coisa. Mentalidades, atitudes, acções e omissões.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

A fome a a doença.

Onde desejaria viver?

Sydney.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

A beleza física.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A solidariedade, a hombridade, a ternura.

Quando e onde você foi mais feliz?

Três dias em Sierre, Suíça, (1994), num festival de BD. A descer uma pista rápida de waterslide em Alcantarilha (Algarve 1988) e em Riccione (Itália), em 1995; sempre que cheguei ao topo do Monte Atalaia (Venda do Pinheiro, Malveira, a 30 km de Lisboa) e consegui vislumbrar ao longe, por entre a névoa, o Palácio da Pena, em Sintra. No dia em que me abracei a um cão Samoiedo e senti aquele pelo todo fofo ao meu redor, vendo apenas a sua cauda a abanar.

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