Reflexões (ou memória) pós-separação (III)

Compartilhe este texto:

Publicado em 29 de julho de 2003

Lá por julho do ano passado, comecei a namorar a Claudia. Como dormia sempre na casa dela e minha cama só me via quando estava com as crianças, resolvi falar da novidade para elas. Preparei-me bastante, escolhi bem as palavras para que não houvesse choque nem rejeição. Reuni os dois e contei-lhes a história.

Bernardo, com 11 anos na época, foi muito racional. Disse-me:

– É claro que vou sentir muitos ciúmes, mas acho que tu é um cara legal e merece isto.

A Bárbara, com sete anos, não disse absolutamente nada. Uma semana depois, voltou subitamente ao assunto:

– Eu vou ter duas mães?
– Não, a tua mãe é a Laura. Tu vais ter mais uma amiga.

Então, ela abriu um sorriso e disse que queria conhecê-la logo, saber como ela era, etc. O Bernardo tinha pedido um tempo para se acostumar com a idéia, mas a Bárbara queria ver logo como era “a nova amiga”. Quem é pai sabe o quanto as crianças sabem ser insistentes. Numa manhã de domingo, quando estava com os dois, a Bárbara veio me acordar e, utilizando todo o seu arrasador poder de sedução junto a mim, fez-me prometer que eu a apresentaria à Claudia ainda naquela manhã. Convidamos o Bernardo, mas ele queria mais tempo.

Pois bem, levei-a até o apartamento da Claudia, onde tivemos uma das mais curiosas cenas de timidez de que vi até hoje. Minha filha, que é uma loira crespa linda, escondeu-se atrás de seus cabelos e de um livro e, através do pouco espaço útil disponível, espreitava minha namorada quando esta não a estava olhando. Não queria conversar, só olhava. Depois, pediu-me uma folha para desenhar e fez um casal cuja mulher tinha enormes mãos. Acho que ela – apesar da timidez – deu uma grande demonstração de coragem. Hoje, as duas são companheiríssimas.

Bernardo conheceu-a depois. Pediu-me que fosse numa reunião com mais gente presente. Foi atendido. Fizemos uma apresentação quase formal. Cumprimentaram-se como dois embaixadores de potências inimigas. Mas a formalidade logo foi dando lugar à naturalidade. Eles também se relacionam bem.

Fico pensando o quanto podem ser diferentes dois irmãos.

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Deixe um comentário