Sonho com Marcelo Backes e Blogueiros + Inverno Quente

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Publicado em 9 de setembro de 2004

Nossos termômetros chegaram a 36,4 graus e era 7 de setembro. Não temos termômetros malucos, somos apenas gaúchos. Pela manhã, não acreditava no calor que sentia; abri a janela e vi algumas pessoas caminhando com blusas de mangas compridas (estes confiam cegamente no calendário) e outras de camiseta ou sem camisa (os realistas). Eu e as crianças fomos para a piscina, mas é inverno e poucas estavam prontas para uso. Não senti frio algum quando entrei na água. Pensei: é setembro, tenho um monte de coisas por fazer, a Claudia ficou revisando um livro que recém traduziu e eu aqui, brincando de afogar o Bernardo e a Bárbara. Quem sabe volto para casa e dou um jeito de ser produtivo? Não, continuei na piscina.

Como a temperatura subiu, quis mudar de leitura. Ora, se o contexto é outro – calor, piscina, braços e pernas à mostra -, mude-se o livro! Peguei um comprado em Buenos Aires em 1990, El Mago, de John Fowles. Seu início é arrebatador, mas já estão dizendo que vai esfriar no próximo fim de semana e aí voltarei à mistura de Graciliano e Paul Auster em que me encontrava. O jornal decidirá. Abro na previsão do tempo: ficaremos entre 9 e 14 graus no próximo sábado. Sei que o jornal está certo, vivo neste estado há muito tempo e sei o quanto o tempo pode ser louco. I´m going back to Graciliano and Auster.

Há anos não lembro de meus sonhos. Eles se evaporam. Invejo a Claudia quando ela vem me contar o que sonhou logo cedo. Nunca tenho nada para contrapor e fico ouvindo suas histórias delirantes e cheias de ratos. Talvez tenha sido o calor, o fato é que lembrei de um sonho.

O SONHO. O começo é comum ao sonho de todos os brasileiros: ganhei na Megasena. Porém, minha primeira providência foi algo que nunca pensei fazer. Viajei imediatamente à Alemanha, mais exatamente à Freiburg para falar com meu amigo Marcelo Backes. Propus a ele fundarmos uma editora – a Ribeiro & Backes. Eu tinha a grana, estava rico. Instalamos a firma na casa de minha mãe, que é bem grande e logo ficamos com a garagem e todos os cantos cheios de Luiz Ruffato, Sergio Faraco, Fernando Monteiro, Luís Vilela, etc. Reeditamos também clássicos brasileiros em pocket. As capas eram espantosamente belas, como só se vê em sonhos ou na Cosac & Naify. Com Marcelo indicando os livros, conversando e pagando os editores culturais de várias publicações brasileiras e portuguesas, começamos a ganhar notoriedade e dinheiro. Só trabalhávamos à tarde. Pela manhã, tínhamos outras atividades. Por volta das 18h, fazíamos um happy-hour reunindo amigos e champanhe. Lembro de só de uma cena que nos incluía, além da Alda, Claudia, Franklin, Branco, Helen e alguns funcionários desconhecidos.

Um dia, com a bunda posta numa pilha do enorme, notável e nunca traduzido romance Daniel Martin, de John Fowles, um best-seller exclusivo da R & B (já sabem que não me refiro a Rhythm & Blues e sim a Ribeiro & Backes) , propus ao Marcelo lançarmos pockets de blogs. Em meu sonho disse-lhe para ler o Literatus, a Mônica, o Guiu, a Tchela, o Tiagón, a Meg, o Inagaki, a Mafalda Crescida, a Praia no Nelson, o Zadig e a Nora, lembro destes. (Calma, gente, isto é só o começo da coleção e o melhor fica para o final…) Marcelo era contra, mas resolveu aceitar; afinal, eu era o cara do dinheiro e meu plano era de fazer livros baratinhos com 100 páginas no máximo. Algo para se ler em duas horas. A capa da coleção – chamada apenas “Blogs” – era linda. Vi um exemplar do livro do Tiagón: letras pretas sobre fundo laranja: Bereteando com Tiago Casagrande – 50 Posts do Ano da Graça de 2004 e, abaixo, fotos em preto e branco e coloridas com referências à cultura pop. Só que a parte colorida formava um desenho que era plastificado – o restante era fosco – e, quando prestávamos atenção, víamos um pterodáctilo. Quem conhece o Tiago entende o motivo da presença do lagartão. Quando vi esta capa, acordei. Apesar desta descrição, juro-lhes, meus amigos, no meu sonho a capa era linda! Deve ter vendido bem.

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