Publicado em 31 de julho de 2005
Na minha opinião, estará equivocado aquele que pensar que o melhor de 1952 foi Os Brutos Também Amam ou o musical Cantando na Chuva. Estará mais errado ainda quem lembrar-se daquele ano pelas músicas Índia ou Sassaricando ou pelas Olimpíadas de Helsinki.
Vejam a foto da menina acima. Notem como ela, em fevereiro de 1956, aos 3 anos e meio, precisava de um irmão. Observem o carinho com que ela segura aquela boneca horrorosa. A coitadinha ficava sozinha na escada, sonhando com as alegrias que um maninho lhe daria. Seu olhar é presciente e indica com clareza as delícias do porvir; pois ele chegou:
E, mesmo que a foto de 1958 esteja comida pelas traças, vocês podem ver que sua simpatia, beleza, inteligência e alegria eram autênticas… Tivemos uma infância muito feliz e – fato incrível – nunca brigávamos. Ela sempre foi a melhor aluna da aula, a de melhor caligrafia, a de maior conhecimento, a de melhores dentes e, segundo um rapaz de sua escola, a de melhores beijos e abraços.
Meu pai, quando soube que sua filha de 15 anos estava namorando o Sylvio, perguntou a ela:
– Mas, minha filha, é um namoro platônico, não?
Não chamaria de platonismo aquilo que acontecia lá no sofá de casa, mas era adequado a um pai dos anos 60 fingir cuidar da virgindade de sua pimpolha. O que o pai nunca imaginaria é que ela, em 31 de julho de 2005, amanhã, estaria comemorando seu 53º aniversário e que o jantar da festa de hoje estaria sendo preparado pelo mesmo rapaz sorridente e de calças de atravessar riacho da foto. Hoje, bem mais calvo e de cabelos brancos, esperamos que ele nos prepare um grande jantar.
Nunca soube de outro namorado, mas, naqueles anos em que o rock and roll parecia produzir apenas obras-primas, há registro de festas de arromba e de certa resistência à nova música. Vejam o conflito geracional estampado nesta foto de 1969:
Meu pai faz questão de protestar silenciosa e eloqüentemente contra a música, enquanto minha mãe experimenta os efeitos do barato provocado por uma overdose de laquê e nossa heroína olha para o outro lado com os cabelos alisados e achando tudo aquilo um saco.
O casamento com o Sylvio rendeu-lhe um dividendo barulhento e agitado. Quando Filipe caiu em suas vidas
eu não sabia que estava ganhando – além de um sobrinho -, um companheiro de futebol e nem sonharia de que ele organizaria um site sobre o Sport Club Internacional e que eu seria o comentarista!
Como é inevitável, a vida seguiu seu curso e chegou a minha vez de aumentar a família. Ela recebeu um sobrinho que a adora.
E, depois da morte de nosso pai, recebeu uma sobrinha que, se não tinha seus cabelos castanhos, era crespa como ela e veio com o mesmo olhar, o mesmo jeito, o mesmo comportamento.
Hoje, espero que esta bela jovem senhora nos prodigalize uma grande festa de aniversário.
Afinal, toda esta gente tem que beber bastante e ser bem alimentada.
(Ira, feliz aniversário! Do irmão que te ama.)