Sons, Blogs, Literatura e Poesia Descosturadas num Post Curto e Confuso

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Publicado em 3 de agosto de 2007

Em 2003, publiquei um post de boa repercussão sobre a Rádio da UFRGS. Uma amiga minha, ao ler aquele post, repassou-o a sua mailing list da UFRGS e isto foi fatal. O Departamento de Artes inteiro leu, até os aposentados da Universidade leram. Sofri alguns ataques de estudantes, mas sabia que tinha razão e, mais importante, a rádio mudou, adequando-se magicamente ao que eu tinha pedido.

Achava que tudo tinha sido casual, talvez tivesse ocorrido uma mudança já planejada, sei lá. Isto até ontem, quando uma funcionária da rádio sentou-se na minha frente por razões profissionais e descobriu que era eu o autor da “bomba”. Soube que o post havia sido discutido longamente, que eu era detestado por alguns e amado por outros e que a rádio aceitara alguns de meus argumentos.

A rádio anda otimamente bem com seu jovem programador, sobre quem tenho uma história estranha. Um dia, lá no início de 2005, quis fazer uma entrevista ao vivo ou por escrito com ele; tal entrevista serviria como uma espécie de reconciliação com a rádio, porém, quando ele soube que eu era o autor daquelas críticas de 2003, tratou de fugiu de mim como o diabo da cruz ou a cruz do diabo, tanto faz. Alegou timidez e fiquei me sentindo um leproso. Entendi agora. Sem problemas, ele é excelente, conhece música e a rádio está arrasando no item qualidade.

Estas pequenas histórias servem para sublinhar o surpreendente poder dos blogs, que receberam excelente artigo na revista Época deste mês, com destaque para a incrível foto de um Inagaki em camisa-de-força.

Por falar em rádio, todos os interessados em literatura deveriam ouvir a belíssima entrevista de João Gilberto Noll para a rádio Antena 1 portuguesa. A entrevista, conduzida magistralmente pelo escritor português Francisco José Viegas, pode ser ouvida na íntegra aqui. E vejam que nem admiro tanto o Noll. Porém, encantou-me a forma hábil com que o Viegas retirou de Noll detalhes sobre seu universo, sobre a marginalidade de seus personagens e como o contextualizou no mundo e no Brasil. A civilidade e o conhecimento do entrevistador revelou a riqueza do entrevistado. Não é para qualquer um. Uma jóia imperdível para quem gosta de literatura e sinceridade.

Com a finalidade de unir de forma esfarrapada estes dois assuntos, há o declaradíssimo e derramado amor de Noll por Bach e por Porto Alegre – o sul, o sul -, amores que compartilho com ele e onde me descubro seu par. “A catedral viva” de Bach, o homem que é sempre sublime – expressões utilizadas por ele na entrevista -, torna-nos irmãos agnósticos crentes na religião da música. Ah, e Noll mostra conhecer bem o caráter dos blogs. Não adianta, de escritores a programadores de rádio, de ex-mulheres a advogados, todo mundo lê blogs.

Para ouvir a grande rádio da Universidade – ativa há 49 anos – em seu micro, clique aqui e vá seguindo o “AO VIVO”: vale a pena!

Diálogos Amorosos:

– Hum – digo.
– Eu sei que não foi muito engraçado, mas fico triste quando invento uma piada e tu não ris.
– (Risadas.)

Utilíssimo Manual (Revisitado hoje):

Eu era recém separado e a procurava com um manual na mão. Quando via uma, observava-a detidamente e fazia a comparação com o manual. Não descansava. Ele já estava manuseado, amarelado e engordurado; abria sozinho naquela página. Era só o que eu queria e tinha que ser. Não fosse daquele jeito, tudo voltaria. Até que encontrei.

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Poema da imensa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen.

(O manual pode ser encontrado no Brasil em Poemas Escolhidos, Companhia das Letras, 2004.)

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